Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Bruno Penedo (UFRJ)

Minicurrículo

    Morador da periferia da cidade do Rio de Janeiro/RJ, é doutorando em educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tenho interesse nas interseções entre cinema brasileiro e as relações de gênero, sexualidade, raça e território e a educação.

Ficha do Trabalho

Título

    Desaprendizagens a partir do cinema negro cuir brasileiro contemporâneo

Seminário

    (Re)existências negras e africanas no audiovisual: epistemes, fabulações e experiências

Resumo

    Este trabalho propõe uma reflexão sobre as potências pedagógicas do cinema negro cuir brasileiro contemporâneo, especialmente em diálogo com os espaços escolares e outros contextos educativos não formais. A partir das Leis 10.639/03 e 13.006/14, que inserem as temáticas étnico-raciais e a exibição de filmes brasileiros no currículo escolar, investiga-se como tais encontros audiovisuais podem desestabilizar regimes de silenciamento e apagamento, mobilizando pedagogias contra-coloniais.

Resumo expandido

    Este trabalho, ainda em andamento, no contexto de uma pesquisa de doutorado, traz uma reflexão, sobre o cinema negro cuir brasileiro, no contexto contemporâneo e o campo do cinema e da educação, que nos últimos anos, vem expandindo formas outras de articulação entre pedagogias, filmes e audiovisualidades. Neste sentido, argumentamos que o encontro com as imagens e sons experimentadas no contexto do cinema negro cuir brasileiro contemporâneo com o contexto educativo escolar, possibilita a insurgência de pedagogias que nos convidam a desaprender do cânone (Rufino, 2021), como um gesto contra-colonial (Santos, 2019).
    Nos últimos anos tem crescido a presença de filmes, em especial curtas-metragens produzidos por grupos advindos de pessoas negras, LGBTQIAP+ e indígenas, mulheres e entre outros corpos e corpas dissidentes que questionam e rompem com formas tradicionais de se fazer cinema e que dão vozes a narrativas antes inviabilizadas do cânone. Essas produções abordam perspectivas interseccionais, como as relações de gênero, raça e sexualidade (Sobrinho, Rodrigues, 2021). Tais narrativas contestam a cisheteronormativadade, nos convidando a desaprender da norma. Desaprender também é um processo de aprendizagem. Trata-se de deixar para trás o que foi aprendido, não no sentido de apagar ou esquecer totalmente, mas de questionar e interromper epistemologias, saberes e vozes que se apresentam de forma hegemônica (Rufino, 2021).
    No cinema negro cuir contemporâneo, há uma mudança nos regimes de visibilidade de que questionam estereótipos, promovendo outros modos de recepção. Dessa forma, essas imagens e sons criam espaços contra-coloniais (Santos, 2019), que resistem e lutam num mundo implicado pelo pelas dinâmicas capitalistas e neocoloniais. Além disso, Mariana Baltar e Éri Sarmet (2016), abordam as potências pedagógicas das narrativas cinematográficas dissidentes, que podem partilhar processos de aprendizagem a partir de sua forma fílmica. Essas pedagogias, mobilizam saberes e processos de assimilação, que através de sensações, desejos, prazer, afetos e entre outros dispositivos, que criam ambiências formativas que nos convidam a outras experiências engajadas pedagogicamente.
    Esses gestos, longe de produzir uma essencializações, podem ser importantes no contexto educativos, em especial na escola, proporcionando experiências e vivências que dialoguem com os cotidianos dos estudantes, além de mobilizar saberes e fazeres que possam contribuir para o combate do “racismo e a violência, por exemplo, além de se articularem, de forma interseccional, ao preconceito de gênero e de classe (Fresquet, Alvarenga, 2024, p. 17). Em diálogo a isso, as Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, abro-brasileira e indígena respectivamente e a Lei 13.006/14, que torna a obrigatoriedade de filmes brasileiros na escola, possibilita que distintas narrativas negras e indígenas possam estar no contexto educativo, em especial os filmes do cinema negro cuir brasileiro.
    Reivindicar essas as imagens e sons produzidas por pessoas LGBTQIAP+, nas escolas e em espaços educativos não formais, implica em tensionar as agendas de apagamento e de violência vivida pelas pessoas negras cuirs, combater os silenciamentos sistemáticos dessas temáticas na escola, desnaturalizar discursos e ideologias que ainda perpetuam a LGBTIAP+fobia na sociedade e no contexto escolar, além de vivenciar pedagogias afetivas e inventivas e experimentais que emergem do cinema negro cuir brasileiro, contribuindo para a construção de saberes críticos e emancipadores. Isso, requer construir negritudes cuir que possam “(…) enunciar os direitos de todos ao acesso desses filmes já produzidos, garantindo que a inclusão do cinema brasileiro nas escolas seja orgânica e responsável, atenta ao caráter ético, estético e político do cinema e da educação brasileira” (Fresquet, 2022, p. 27).

Bibliografia

    FRESQUET, Adriana; ALVARENGA, Clarissa. Políticas e pedagogias de cinema e educação na escola hoje. In: Fresquet, Adriana (Org.). Programa Nacional de Cinema na Escola. Minas Gerais: Universo Produção, 2024.

    FRESQUET, Adriana. Filmes Brasileiros na escola? In: FRESQUET, Adriana. Filmes brasileiros na escola? Rio de Janeiro: Multifoco, 2022.

    RUFINO, Luiz. Vence-demanda: educação e descolonização. Mórula Editorial, 2021.

    SARMET, Éri; BALTAR, Mariana. Pedagogias do desejo no cinema queer contemporâneo. Textura, Canoas, v. 18, n. 38, 2016. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/2227. Acesso em 6 abril de 2025.

    SOBRINHO, Gilberto Alexandre; RODRIGUES, Natasha. O cinema negro LGBT+ e Queer no Brasil. In: CARVALHO, Noel dos Santos (org.). Cinema Negro brasileiro. 1. Ed. Campinas: Papirus, 2022. Cap. 8, p. 177-198.

    SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, Quilombos: modos e significações. AYÓ: Brasília, 2019.