Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rúbia Mércia de O.Medeiros (UFC)

Minicurrículo

    Realizadora, pesquisadora, curadora e professora audiovisual. Doutoranda no Programa de PPGCOM-UFC, com a pesquisa “Gesto, Corpo e Cena: processos de formação em filmes realizados por mulheres”. Integrante do grupo Laboratório de Estudos e Experimentações em Artes e Audiovisual (ICA/UFC). Curadora da Mostra Cine Caratapa (2023-dias atuais). Curadora do Festival Ceará Voador (2025). Professora do Ateliê de Filmes-carta (MST-Ceará). Coordenadora de Formação no Hub Cultural Porto Dragão.

Ficha do Trabalho

Título

    Território e Curadoria: criar e gerar métodos de análise fílmica na sala de aula

Seminário

    Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos

Resumo

    Esta proposta apresenta a análise do gesto curatorial de duas formações audiovisuais com mulheres, em que três filmes escolhidos privilegiaram a discussão da escrita de si como elemento narrativo. Apresentaremos, a partir de um horizonte teórico e estético, como a curadoria trabalha métodos de discussão de filmes através do cinema enquanto uma poética do imaginário e construtor de redes de afetos, mas também como ação política de mobilização de territórios, comunidades, corpos e falas.

Resumo expandido

    Esta comunicação tem como objetivo apresentar e discutir o gesto curatorial que reuniu três filmes para acionar a discussão entre escrita de si, corpo e território. São eles: Fartura de Yasmin Tainá (2019), Edna de Edna Toledo (2018)e os dois primeiros episódios do projeto Nhemongueta Kunhã Mbaraete (2020). Tais filmes foram exibidos em sala de aula durante as seguintes formações: Narrativas de cinema por mulheres, com mulheres do Grande Bom Jardim (Fortaleza, 2020), e Ateliê em filmes-carta: Mulheres que tecem – diálogo com o sertão e a cidade (2021), este realizado em dois assentamentos – Nova Canaã e Recreio, no sertão central do município de Quixeramobim. As três ações giraram em torno de mulheres que não faziam parte do circuito da cena artística do cinema, mas que estavam disponíveis para encontrar nessas formações o acolhimento, a escuta, a relação, o cultivo com a memória, além da descoberta e do desejo de criação em audiovisual. O cinema, nessas formações, se apresentou como gesto de ativação das narrativas íntimas, tendo essas mulheres como protagonistas de suas histórias. Dessa forma, o desenho de filmes exibido foi necessário para um encontro com as obras feitas, posteriormente, por elas, com a narrativa de escrita de si e as diversas análises sobre território, corpo, gênero, cuidado, maternidade, imagens, sons etc.
    O filme Fartura, expõe a relação entre fotografia e vizinhança, no filme Edna, ela expõe os documentos, fotografias e caixas de remédio e a relação de cuidado com seu corpo, já no projeto Nhemongueta Kunhã Mbaraete, nos interessa a condução do filme-carta entre mulheres, pandemia e comunidade. As três obras se alinham na perspectiva da escrita de e com a comunidade que habitam.
    Tendo como pano de fundo a interligação com uma pedagogia do afeto, com a prática de análise de imagens e a construção de narrativas a partir da espectatorialidade dos filmes em sala, propusemos ver os modos de vida nos filmes para que estes se conectassem com os modos de vida das alunas. Como expõe Jacques Racière em seu livro O trabalho das Imagens (2021), “a questão central deixa de ser “como produzir imagens?” e passa a ser “o que fazem as imagens?”, “quais operações elas constroem?”.
    Tais filmes possibilitaram que as espectadoras (alunas) realizassem um mergulho nas questões sobre vizinhanças, construção de redes de afeto na comunidade, a relação delas com a autoimagem, a mulher e a estrutura patriarcal. Dessa forma, os modos de fazer desses filmes, suas composições e suas apostas são elementos fundamentais para entendê-los nessa tensão entre acontecimento e agenciamento. Como é que o cinema consegue articular modos de vida no território sem precisar sair dele para ter legitimidade enquanto experiência artística? Trazer essas questões para uma discussão e um desdobramento dos modos como a cena cinematográfica é ocupada com os filmes realizados por mulheres é possibilitar uma articulação para dentro do enquadramento-cena e para um quadro-articulações de um enfrentamento político e social.
    Acionamos, então, metodologias para criar uma estrutura de análise fílmica em sala de aula que pudesse dar conta também de uma análise das imagens e sons criados na formação, no intuito de organizar, enquanto método analítico, filmes e produções feitas em sala de aula. Aqui, portanto, trata-se de compreender esses cinemas como lugar de inscrição de acontecimentos, de ações e experiências.
    Para análise da curadoria, seguiremos uma linha norteadora: 1) Análise dos filmes produzidos por e com mulheres, considerando seus processos narrativos, estéticos, políticos, sociais, éticos, representativos e territoriais.

Bibliografia

    BRENEZ, Nicole. Cada filme é um laboratório. Entrevista. Revista Cinética (fevereiro, 2014). Online. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/home/entrevista-com-nicole-brenez.
    FRESQUET, Adriana (ORG). Filmes Brasileiros na Escola?- Rio de Janeiro. Ed. Cinemas e Educações., 2022.
    GUIMARÃES, César. O que é uma comunidade de Cinema. Revista Ecopós / ISSN 2175- 8689 / Arte, Tecnologia e Mediação. Volume 8, número 01. 2015.
    HERNANDEZ, Tania e Jimenez, Manuel (ORG). Corpos, territórios e feminismos: compilação latino-americana de teorias, metodologias e práticas políticas.Trad. Joana Emmerick, Joana Salém, Lina Magalhães, Manuela Silveira & Sislene Costa da Silva. São Paulo: Ed. Elefante, 2023.
    HOOKS, Bell. Cinema Vivido, raça, classe e sexo nas telas. Trad. Natalia Engler. São Paulo: Elefante, 2023.
    RANCIÈRE, Jacques. O Trabalho das Imagens. Conversações com Andrea Soto Calderón. Belo Horizonte. Editora Chão de Fei