Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Duarte Carneiro (UFPE)

Minicurrículo

    Graduando em Cinema e Audiovisual pela UFPE, onde foi Bolsista do Programa de Iniciação Científica sob orientação de Thiago Soares. Integrou o Diretório Acadêmico, o projeto de extensão CineLab e assumiu duas vezes monitoria sob a orientação de Laécio Rodriges. Participou, sob orientação de Mércia Pimentel (UFAL), do projeto Memoráveis Alagoas Atua em produção audiovisual e como crítico e editor da publicação independente Revista Nostalgia. Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/060071936632421

Ficha do Trabalho

Título

    CONTEMPLAÇÕES PARALELAS: REFLEXÕES ESTÉTICAS SOBRE PRODUTORA BRASIL PARALELO ATRAVÉS DA SÉRIE UNIT

Eixo Temático

    ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS

Resumo

    A mídia audiovisual contemporânea configura-se como elemento central nas disputas políticas, notadamente no fortalecimento da extrema-direita. Nesse contexto, os estudos estéticos emergem como instrumentos analíticos para o enfrentamento de conteúdos ideológicos Este ensaio analisa a atuação da produtora Brasil Paralelo por meio de uma abordagem estética e experiencial da minissérie “Unitopia”, contemplando a estrutura da empresa como elemento formador e objetivo da estética de seu audiovisual.

Resumo expandido

    “Contemplações Paralelas: Reflexões Estéticas Sobre a Produtora Brasil Paralelo Através da Série Unitopia” é um ensaio apresentado para a obtenção do grau de Bacharel em Cinema e Audiovisual. O trabalho busca compreender como a produtora de viés bolsonarista constrói um imaginário coletivo que mobiliza seu público em direção a posturas reacionárias, operando por meio de um labirinto informacional que adentro através da análise da série Unitopia.

    Parto da noção de “imaginário”, conforme desenvolvida por Erick Felinto em Vivendas da Imaginação, e dialogo com o pensamento de Walter Benjamin em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica. Compreendendo o imaginário como experiência vivida, assumo a escrita em primeira pessoa, iniciando com a memória da transmissão do impeachment de Dilma Rousseff, em especial o voto do então deputado Jair Bolsonaro. Essa lembrança serve de ponto de partida para refletir sobre minha relação com o campo político e o papel da imagem e da linguagem audiovisual na formação de posicionamentos políticos através do sensível.
    A partir disso, volto-me à Brasil Paralelo, contextualizando sua relevância na cena audiovisual contemporânea e na esfera intelectual, ressaltando seu grande alcance popular contrastado com a escassa atenção acadêmica. Seus conteúdos – que incluem documentários, séries, podcasts, cursos e até um longa de ficção – surgem como frutos de uma mobilização iniciada na crise política de 2013-2016. Seus fundadores relatam esse período como marco da criação da empresa, cuja missão seria “resgatar a verdade” sem financiamento público.

    No entanto, com base em Britto, aponto que a Brasil Paralelo sempre contou com apoio de grandes empresas e figuras políticas, funcionando como um think tank e operando estratégias de soft power. Ainda que diversificadas, suas atividades convergem na produção audiovisual, voltada à síntese e disseminação de suas ideias. É nesse ponto que centro minha análise na série Unitopia, que funciona como porta de entrada para a lógica interna da empresa.

    Com apenas dois episódios, a série denuncia uma suposta crise universitária global, especialmente aguda no Brasil, atribuída à hegemonia ideológica de esquerda. Essa narrativa sugere que a academia perdeu sua função social e se tornou uma ameaça à sociedade civil. Analiso os recursos estéticos empregados para consolidar essa ideia: trilha sonora sensacionalista, enquadramentos típicos de talking heads, disposições espaciais dos entrevistados e o uso de animações didáticas. Ressalto também como a série se conecta a outros produtos da produtora, ampliando o alcance do seu discurso.

    Argumento que Unitopia não impõe diretamente uma ideologia, mas insere o espectador em um labirinto informacional, conceito inspirado em Calabrese, no qual conteúdos fragmentados e conectados constroem uma lógica interna difícil de ser questionada. A série exemplifica como a estética da Brasil Paralelo é desenhada para produzir engajamento e convencimento progressivo, mais emocional do que argumentativo.

    Concluo o ensaio afirmando que Unitopia atua como ferramenta de mobilização política, articulada a uma estrutura formal que dialoga com o contexto mais amplo no qual está inserida. Reforço a necessidade urgente de a intelectualidade da estética enfrentar diretamente esse tipo de material, de modo a ativar o conhecimento estético como instrumento político à altura dos desafios contemporâneos.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana; LEPRI, Adil G. Gestões sensacionalista: as atrações e o audiovisual no YouTube. São Paulo, Matrizes. 2019
    BAUDRILLARD, Jean (1991). Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D’água. pp. 151–158
    BRITTO, Marcos Corrêa de. Brasil Paralelo e a construção do imaginário da extrema direita brasileira/ Marcos Corrêa de Britto. – 2023. 151 f.
    BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 165-196.
    CALABRESE, Omar. A idade neobarroca. Lisboa: Edições 70, 1999
    FELINTO, Erick. Imaginário e atmosfera: noções para pesquisa em comunicação. In: FELINTO, Erick e FERNANDES, Cíntia S. Veredas da Imaginação. Porto Alegre, Meridional. 2024.
    RODRIGUES, Laécio. Uma História Que Se Escreve no Plural. In: OLIVEIRA, Montez et al. Cartografando Perspectivas: Caminhos do Documentário Brasileiro. Recife, Nostalgia. Nov. 2024