Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Aranzana de Morais (UFS)
Minicurrículo
- Bacharela em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe, Mestranda em Cinema e Narrativas do contemporâneo pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema da Universidade de Sergipe.
Ficha do Trabalho
Título
- OBSERVAÇÕES SOBRE O CINEMA DE SERGIPE: ENTRE AFETOS, ESCASSEZ E CRIAÇÃO
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Quais estratégias de produção têm sido adotadas por cineastas sergipanos diante da escassez de políticas públicas de fomento? Este resumo discute modos alternativos de fazer cinema no estado, como o Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal, destacando experiências que aliam afeto, inventividade e coletividade para superar limitações orçamentárias e desafiar o modelo industrial tradicional.
Resumo expandido
- O cinema brasileiro tem trajetória marcada pela interdependência com políticas públicas de fomento, desde a criação do Instituto Nacional de Cinema nos anos 1960 (OLIVEIRA; PANNACCEF, 2017). Em Sergipe, há registros de produção cinematográfica desde os anos 1940 (MORENO, 1988), mas, nas últimas décadas, ocorreram apenas quatro chamamentos públicos voltados ao audiovisual no estado. Essa realidade mudou pontualmente com a Lei Aldir Blanc (2020) e a Lei Paulo Gustavo (2023), que destinaram recursos emergenciais ao setor. A ausência de política contínua, no entanto, leva realizadores sergipanos a buscarem modos alternativos, exigindo inventividade e novas formas de organização.
No Brasil, caminhos semelhantes já vêm sendo trilhados. Ikeda e Lima (2011) cunharam o termo Cinema de Garagem para descrever uma produção baseada na autonomia criativa, uso de tecnologias acessíveis e distribuição digital. Luciana Oliveira Vieira (2018), em sua dissertação, propôs o conceito de Modo Elekô, centrado em realização colaborativa, redes de apoio, valorização do cinema negro e descentralização das hierarquias de produção. Essas abordagens apontam formas sustentáveis de fazer cinema com recursos escassos e laços afetivos entre os envolvidos.
Na tese de Kira Santos Pereira (2020), são analisados filmes brasileiros cujos modos de produção revelam práticas artesanais, com destaque para a interação entre as equipes de som e montagem. Trata-se de um cinema não pautado pela lógica industrial, mas por processos marcados pela coletividade, envolvimento direto dos realizadores e soluções criativas.
Essa busca por caminhos próprios se reflete em produções sergipanas recentes. O curta Abjetas 288 (2021), de Júlia da Costa e Renata Mourão, venceu o prêmio de melhor curta-metragem na Mostra Foco da 24ª Mostra de Tiradentes. Sem apoio governamental, foi viabilizado via financiamento coletivo e parcerias institucionais, revelando uma prática sustentada pela confiança, partilha e afeto entre realizadoras e equipe.
Já o filme Espelho (2022), dirigido por Luciana Oliveira Vieira e realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, se aproxima do cinema artesanal e do Modo Elekô. Baseado em uma experiência íntima no pós-parto, o curta teve roteiro construído a partir de trocas com outras mulheres negras e equipe majoritariamente feminina e horizontal. Sua proposta estética e ética dialoga com o cinema negro contemporâneo, valorizando narrativas que resgatam espiritualidades de matriz africana. O filme tem circulado em festivais nacionais e internacionais, como exemplo sensível da produção sergipana que resiste aos limites do sistema de fomento.
Tais experiências evidenciam como a escassez de políticas públicas consistentes impulsiona cineastas a criar estratégias próprias. No entanto, essas soluções não substituem os editais: devem coexistir com políticas contínuas que assegurem maior estabilidade ao setor. O Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal são fundamentais à diversidade do ecossistema audiovisual, revelando formas mais autônomas e afetivas de produção.
Este trabalho analisa os modos alternativos adotados por cineastas sergipanos, que se afastam do modelo industrial hollywoodiano (MENDONÇA, 2007) e operam com baixos orçamentos. Ao investigar experiências como o Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal, buscamos compreender como essas estratégias, baseadas em coletividade, afeto e inventividade, têm viabilizado o cinema local mesmo diante da escassez de apoio estatal.
Bibliografia
- IKEDA, Marcelo; LIMA, Dellani (orgs.) Cinema de garagem – um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do século XXI. Belo Horizonte/Fortaleza: Suburbana Co, 2011.
MORENO, Djaldino Mota. Cinema Sergipano – catálogo de filmes. Aracaju, Sergipe. 1988.
OLIVEIRA, Priscila Valéria de Oliveira; PANNACCI, Renato Coelho. Fomento ao Cinema Brasileiro: o papel do Estado. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. Ano 11, v. 2, jul. / dez. 2017.
PEREIRA, Kira Santos. Relações entre montagem e som: processos criativos e modos de produção no cinema brasileiro. 2020. Tese (Doutorado em Multimeios) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.
VIEIRA, Luciana Oliveira. Autorrepresentação de cineastas negras no curta-metragem nacional contemporâneo. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar em Cinema e Narrativas Sociais) – Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão