Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Beatriz Aranzana de Morais (UFS)

Minicurrículo

    Bacharela em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe, Mestranda em Cinema e Narrativas do contemporâneo pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema da Universidade de Sergipe.

Ficha do Trabalho

Título

    OBSERVAÇÕES SOBRE O CINEMA DE SERGIPE: ENTRE AFETOS, ESCASSEZ E CRIAÇÃO

Eixo Temático

    ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS

Resumo

    Quais estratégias de produção têm sido adotadas por cineastas sergipanos diante da escassez de políticas públicas de fomento? Este resumo discute modos alternativos de fazer cinema no estado, como o Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal, destacando experiências que aliam afeto, inventividade e coletividade para superar limitações orçamentárias e desafiar o modelo industrial tradicional.

Resumo expandido

    O cinema brasileiro tem trajetória marcada pela interdependência com políticas públicas de fomento, desde a criação do Instituto Nacional de Cinema nos anos 1960 (OLIVEIRA; PANNACCEF, 2017). Em Sergipe, há registros de produção cinematográfica desde os anos 1940 (MORENO, 1988), mas, nas últimas décadas, ocorreram apenas quatro chamamentos públicos voltados ao audiovisual no estado. Essa realidade mudou pontualmente com a Lei Aldir Blanc (2020) e a Lei Paulo Gustavo (2023), que destinaram recursos emergenciais ao setor. A ausência de política contínua, no entanto, leva realizadores sergipanos a buscarem modos alternativos, exigindo inventividade e novas formas de organização.

    No Brasil, caminhos semelhantes já vêm sendo trilhados. Ikeda e Lima (2011) cunharam o termo Cinema de Garagem para descrever uma produção baseada na autonomia criativa, uso de tecnologias acessíveis e distribuição digital. Luciana Oliveira Vieira (2018), em sua dissertação, propôs o conceito de Modo Elekô, centrado em realização colaborativa, redes de apoio, valorização do cinema negro e descentralização das hierarquias de produção. Essas abordagens apontam formas sustentáveis de fazer cinema com recursos escassos e laços afetivos entre os envolvidos.

    Na tese de Kira Santos Pereira (2020), são analisados filmes brasileiros cujos modos de produção revelam práticas artesanais, com destaque para a interação entre as equipes de som e montagem. Trata-se de um cinema não pautado pela lógica industrial, mas por processos marcados pela coletividade, envolvimento direto dos realizadores e soluções criativas.

    Essa busca por caminhos próprios se reflete em produções sergipanas recentes. O curta Abjetas 288 (2021), de Júlia da Costa e Renata Mourão, venceu o prêmio de melhor curta-metragem na Mostra Foco da 24ª Mostra de Tiradentes. Sem apoio governamental, foi viabilizado via financiamento coletivo e parcerias institucionais, revelando uma prática sustentada pela confiança, partilha e afeto entre realizadoras e equipe.

    Já o filme Espelho (2022), dirigido por Luciana Oliveira Vieira e realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, se aproxima do cinema artesanal e do Modo Elekô. Baseado em uma experiência íntima no pós-parto, o curta teve roteiro construído a partir de trocas com outras mulheres negras e equipe majoritariamente feminina e horizontal. Sua proposta estética e ética dialoga com o cinema negro contemporâneo, valorizando narrativas que resgatam espiritualidades de matriz africana. O filme tem circulado em festivais nacionais e internacionais, como exemplo sensível da produção sergipana que resiste aos limites do sistema de fomento.

    Tais experiências evidenciam como a escassez de políticas públicas consistentes impulsiona cineastas a criar estratégias próprias. No entanto, essas soluções não substituem os editais: devem coexistir com políticas contínuas que assegurem maior estabilidade ao setor. O Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal são fundamentais à diversidade do ecossistema audiovisual, revelando formas mais autônomas e afetivas de produção.

    Este trabalho analisa os modos alternativos adotados por cineastas sergipanos, que se afastam do modelo industrial hollywoodiano (MENDONÇA, 2007) e operam com baixos orçamentos. Ao investigar experiências como o Cinema de Garagem, o Modo Elekô e o cinema artesanal, buscamos compreender como essas estratégias, baseadas em coletividade, afeto e inventividade, têm viabilizado o cinema local mesmo diante da escassez de apoio estatal.

Bibliografia

    IKEDA, Marcelo; LIMA, Dellani (orgs.) Cinema de garagem – um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do século XXI. Belo Horizonte/Fortaleza: Suburbana Co, 2011.
    MORENO, Djaldino Mota. Cinema Sergipano – catálogo de filmes. Aracaju, Sergipe. 1988.
    OLIVEIRA, Priscila Valéria de Oliveira; PANNACCI, Renato Coelho. Fomento ao Cinema Brasileiro: o papel do Estado. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. Ano 11, v. 2, jul. / dez. 2017.
    PEREIRA, Kira Santos. Relações entre montagem e som: processos criativos e modos de produção no cinema brasileiro. 2020. Tese (Doutorado em Multimeios) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.
    VIEIRA, Luciana Oliveira. Autorrepresentação de cineastas negras no curta-metragem nacional contemporâneo. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar em Cinema e Narrativas Sociais) – Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão