Ficha do Proponente
Proponente
- Fábio Augusto Machado Dutra (UFRB)
Minicurrículo
- Fábio Augusto Machado Dutra é mestrando em Comunicação pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), formado em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição. Integrante do Grupo de Estudos em Experiência Estética, Comunicação e Artes (GEEECA/UFRB). Atua como diretor de cinema, montador audiovisual e pesquisador nas áreas de comunicação, cultura, território e memória, com foco em narrativas audiovisuais documentais.
Ficha do Trabalho
Título
- Ladeira das Mulheres: modos de produção colaborativos e reconfigurações da narrativa documental
Eixo Temático
- ET 5 – ETAPAS DE CRIAÇÃO E PROCESSOS FORMATIVOS EM CINEMA E AUDIOVISUAL
Resumo
- Este trabalho analisa o curta-documentário Ladeira das Mulheres (2024), observando como métodos de produção colaborativos influenciaram sua estrutura narrativa. A partir de conceitos como corpo-território, tempo espiralar, ética amorosa e risco do real, reflete-se sobre o impacto dos modos de fazer cinematográfico na construção de novas formas de visibilidade, pertencimento e experiência estética.
Resumo expandido
- O curta-documentário Ladeira das Mulheres (2024) investiga o protagonismo feminino na comunidade da Ladeira do Milagre, em São Félix-BA, refletindo sobre como práticas cotidianas de resistência moldam as dinâmicas do território. Este trabalho propõe uma análise crítica acerca da influência dos métodos de produção colaborativos e alternativos na estrutura narrativa do filme, tensionando as hierarquias tradicionais do cinema documental. Dialogando com os conceitos de corpo-território e tempo espiralar de Leda Martins, partilha do sensível de Jacques Rancière, experiência estética de John Dewey, risco do real de Jean-Louis Comolli e ética amorosa de Bell Hooks, a análise evidencia o impacto dos modos de fazer no processo de criação estética e na construção de novas formas de representação audiovisual.
A produção de Ladeira das Mulheres foi construída a partir de dinâmicas de co-criação entre estudantes universitários e moradoras da Ladeira do Milagre, priorizando a escuta atenta, o afeto e a participação ativa das protagonistas. Esse processo colaborativo resultou em um filme que emerge como reorganização sensível das formas de ver e narrar, oferecendo centralidade a corpos, saberes e experiências historicamente invisibilizados. A metodologia adotada desestabiliza os processos hegemônicos de produção audiovisual e propõe uma estética comprometida com a construção compartilhada do sensível.
A abordagem estética do filme reflete uma lógica de tempo espiralar, na qual passado, presente e futuro se entrelaçam nas histórias de vida das mulheres retratadas, ressignificando a memória coletiva e a identidade territorial. A relação entre corpo e território é central na tessitura narrativa, evidenciando o corpo como espaço de inscrição de vivências e práticas de resistência. Ao considerar a performance das protagonistas como expressão estética e política, o documentário ativa processos de subjetivação que expandem os limites tradicionais do realismo documental.
A prática cinematográfica incorporou o risco do real como motor criativo, permitindo que o imprevisível e a abertura para o acaso conduzissem a construção narrativa. O documentário, ao se abrir para as incertezas e para a potência do imprevisto, reafirma a centralidade do desejo e da experiência compartilhada na feitura do filme. Nesse sentido, a obra se torna não apenas um registro de realidades periféricas, mas uma intervenção estética e política que reconfigura modos de existência e de representação.
A análise ressalta que, ao propor uma narrativa construída coletivamente e enraizada em práticas comunitárias de escuta, afeto e co-criação, Ladeira das Mulheres atua como dispositivo de transformação social e estética. A reconfiguração dos modos de produção, aliada à inserção da ética amorosa no trabalho artístico, produz novas formas de pertencimento, agência e reconhecimento territorial. O filme afirma a importância do fazer cinematográfico como prática de redistribuição do sensível, capaz de deslocar fronteiras simbólicas e instaurar novas cartografias afetivas no campo do audiovisual.
Bibliografia
- COMOLLI, Jean-Louis. Sob o Risco do Real. Belo Horizonte, 2008.
DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
GUTMANN, Juliana; CARDOSO FILHO, Jorge. Performances como expressão da experiência estética.
HOOKS, Bell. Tudo sobre amor: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Record, 2000.
MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar: Poéticas do Corpo-Tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: Estética e Política. São Paulo: Editora 34, 2005.