Ficha do Proponente
Proponente
- Ane Beatriz Barreto Cruz (UNIFESP)
Minicurrículo
- Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal da Integração Latino Americana. Realizou a monografia Políticas Públicas para Exibição: Análise Comparativa entre as Salas do Circuito SPCINE e as Salas INCAA (2017-2019) como conclusão de curso. Realiza curadoria do projeto de exibição CataCine e desde 2024, faz mestrado em História da Arte, na Universidade Federal de São Paulo, onde faz pesquisa na área de distribuição cinematográfica.
Ficha do Trabalho
Título
- CIRCULAÇÃO DE CINEMA INDEPENDENTE NO BRASIL: ESTRATÉGIAS DE DISTRIBUIÇÃO E ACESSO AO PÚBLICO
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Este trabalho analisa a circulação do cinema nacional independente, com foco nas práticas de distribuidoras como Vitrine Filmes e Embaúba Filmes, voltadas à difusão de obras brasileiras. Ao observar as práticas dessas empresas, buscamos compreender as limitações estruturais do mercado cinematográfico e refletir sobre os caminhos possíveis, na construção de uma cadeia de circulação mais plural, descentralizada e alinhada aos interesses de distintas comunidades e territórios.
Resumo expandido
- Segundo a OCA (Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual), entre 2019 e 2023 foram lançados 1.735 filmes, sendo 691 deles produções brasileiras. Todos os anos, os títulos com maior público e renda são majoritariamente estrangeiros, especialmente hollywoodianos. Na distribuição, o cenário é similar. Em 2021, por exemplo, empresas estrangeiras distribuíram 187 títulos, acumulando 49.392.374 espectadores e R5.025.261 de bilheteria. Desses, apenas 9 eram brasileiros, com 9.361 espectadores e renda de R8.123. No mesmo ano, empresas brasileiras distribuíram 307 títulos, sendo 163 nacionais, gerando 2.870.945 espectadores e R.588.663 de renda — dos quais R.534.579 e 901.145 espectadores referem-se às produções domésticas. A disparidade persiste nos anos seguintes.
À luz dos dados da OCA, observa-se que o principal desafio do cinema nacional não está na quantidade de filmes. A percepção de escassez associa-se, sobretudo, ao período da Retomada (décadas de 1990 e 2000). Políticas públicas vinculadas à ANCINE (Agência Nacional do Cinema) e ao FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), aumentaram expressivamente as produções brasileiras. Contudo, persistem obstáculos relacionados à circulação, mais evidentes no caso de obras independentes, que não têm o respaldo das grandes corporações de comunicação.
Este trabalho analisa a circulação do cinema nacional independente, com foco nas práticas de distribuidoras como Vitrine Filmes e Embaúba Filmes, voltadas à difusão de obras brasileiras. Apesar do destaque da Vitrine com Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho, interessa-nos observar produções de menor orçamento, como Noites Alienígenas (2023), de Sérgio de Carvalho, que, mesmo com o destaque em festivais, alcançou 6.963 espectadores e R5.700,70 em bilheteria. Em contraste, Marte Um (2022), dirigido por Gabriel Martins e distribuído pela Embaúba, superou estimativas, com 89.398 espectadores e R.586.286,61 em receita. A partir dos exemplos, pretendemos discutir os desafios da disputa por espaços de exibição e alcance de público, considerando as particularidades do mercado audiovisual brasileiro.
As distribuidoras analisadas atuam estrategicamente na gestão da cadeia de valor do mercado cinematográfico, estabelecendo as melhores condições na negociação de valores, locais e datas de exibição. Visam prolongar a permanência dos filmes em cartaz e ampliar seu alcance de público. Além do tradicional, consideram a participação em festivais, prêmios, aquisição dos direitos por emissoras de TV e plataformas VOD (Vídeo Sob Demanda), consolidação de uma base de fãs e comercialização internacional — fatores cruciais para identificar potencialidades no mercado audiovisual.
As estratégias das distribuidoras adaptam-se aos distintos perfis de público. Com a dificuldade dos filmes nacionais independentes em integrar os circuitos tradicionais — e a limitação dos festivais ser a única via de exibição — a distribuição de impacto emerge como alternativa, promovendo exibições em espaços onde as obras geram impacto social. Essa modalidade prioriza contextos em que os temas dos filmes ressoam com os interesses de comunidades específicas, ampliando sua circulação e relevância cultural. Cineclubes e exibições não convencionais atuam como aliadas, embora raramente sejam registradas oficialmente como bilheteria, invisibilizando parte importante da trajetória dessas obras.
Nesse sentido, é essencial considerar não só as práticas consolidadas no mercado tradicional — como as negociações com redes de cinema e festivais —, mas também o potencial das tecnologias e plataformas digitais para ampliar o alcance e diversificar os públicos. A análise propõe refletir sobre alternativas que possibilitem às produções independentes superar barreiras impostas pela concentração do mercado e pelas limitações estruturais do setor, contribuindo para uma cadeia de circulação mais plural, descentralizada e alinhada aos interesses de distintas comunidades e territórios.
Bibliografia
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BRASIL. Anuário Estatístico do Audiovisual Brasileiro 2023
BRASIL. Listagem de Filmes Brasileiros e Estrangeiros Exibidos 2009 a 2024
IKEDA, Marcelo. Utopia da autossustentabilidade: impasses, desafios e conquistas da ANCINE. Porto Alegre: Sulina, 2021
PROJETO PARADISO. Masterclass – O que é distribuição? Com Silvia Cruz, diretora da Vitrine Filmes. Youtube, 01 de fevereiro de 2022. Disponível em .
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