Ficha do Proponente
Proponente
- Rodrigo Archangelo (Cinemateca Brasileir)
Minicurrículo
- Doutor em História Social pela FFLCH-USP; Pós-doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP; Coordenador de Pesquisa e Catalogação Audiovisual da Cinemateca Brasileira. Autor do livro Um bandeirante na tela: o discurso adhemarista em cinejornais (São Paulo: Alameda: Cinemateca Brasileira: FAPESP: LEER-USP, 2015); Pesquisador Associado FAPESP (projeto temático 2022/06032-0); Participante do Grupo de Pesquisa CNPq História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação.
Ficha do Trabalho
Título
- A testemunha ocular na cadência do samba: a imprensa audiovisual na tensão democrática de 1963
Seminário
- Arquivo e contra-arquivo: práticas, métodos e análises de imagens
Resumo
- A análise comparativa do telejornal O Seu Repórter Esso e do cinejornal Canal 100 de 1963. A pesquisa, catalogação, preservação e acesso na Cinemateca Brasileira; e a demonstração de como tais discursos midiáticos constituíram aspectos da cultura política brasileira. Esta comunicação é resultado de dois projetos: Audiovisual, História e Preservação: o lugar dos cinejornais e das telerreportagens brasileiros na construção da memória; e Preservação de Acervo Audiovisual e Atualização Tecnológica.
Resumo expandido
- Em 06 de janeiro de 1963 o plebiscito recompôs a força política do presidente João Goulart, redefinindo parâmetros para as representações de atos e ritos democráticos da agenda presidencial noticiada nos meios de comunicação. É nesse contexto histórico que propomos uma análise comparativa das coberturas da agenda presidencial naquele ano em dois grandes representantes da imprensa audiovisual, o telejornal O Seu Repórter Esso e os cinejornais do selo Canal 100, para compreender quais dimensões desses discursos midiáticos compõem aspectos ritualísticos da cultura política brasileira. Esta apresentação é resultado da investigação com fontes fílmicas e não fílmicas proporcionadas por iniciativas em andamento na Cinemateca Brasileira, principalmente a parceria com universidades públicas no projeto temático Audiovisual, História e Preservação: o lugar dos cinejornais e das telerreportagens brasileiros na construção da memória (1946-1974), que vem pesquisando, catalogando, preservando e processando as telerreportagens do Fundo TV Tupi; e o projeto Preservação de Acervo Audiovisual e Atualização Tecnológica, cujo foco é os cinejornais do Fundo Canal 100.
O objetivo é compreender as linguagens e historicidades próprias aos telejornais no momento inicial de sua longa tradição; e cinejornais no fim da sua importância como agente noticioso da imprensa. Para essa tarefa analisamos as tonalidades distintas de verniz ideológico entre as diferentes temporalidades seriadas: a semana nos cinejornais e o dia a dia nos telejornais, e em que medidas suas particularidades atenderam aos espectros conservadores da cultura política brasileira a frente dos meios de produção desse noticiário audiovisual. Portanto, parte importante desta comunicação se dedica a mostrar os desafios metodológicos que levaram a descobertas de práticas constitutivas dos primeiros anos do telejornalismo brasileiro, configurando um conhecimento inédito sobre os circuitos da notícia na primeira emissora do Brasil. E como o horizonte de expectativas do público pode ser analisado a partir de modos de endereçamento específico das telerreportagens e dos cinejornais. Reside ai, por exemplo, a própria potencialidade histórica das fontes audiovisuais e documentais dos respectivos fundos investigados.
Seja na “testemunha ocular da história” do O Seu Repórter Esso ou na “cadência do samba” das coberturas futebolísticas do Canal 100, o percurso metodológico para essas fontes audiovisuais seriadas – telerreportagens e cinejornais – segue um amplo conjunto de atividades: da pesquisa e catalogação em repositórios de dados específicos ao visionamento de filmes e a investigação e sistematização de fontes correlatas. E, naturalmente, o processamento e acesso do material sobrevivente, para o qual foi importante compreender ambas as coleções na lógica dos seus criadores originais, e como elas passaram a fazer parte do acervo da Cinemateca Brasileira. Neste processo foram encontrados direcionamentos de pautas editoriais e processos específicos de criação das notícias, o que nos ajudou a compreender elementos discursivos da imprensa televisionada e projetada, e como ela transformou atos, fatos e práticas políticas e socioculturais em valores de uma cultura política excludente, que se legitimava na vida cotidiana monumentalizando imagens e eventos para uma determinada memória social e fins ideológicos.
Bibliografia
- ELSAESSER, T. 2018. A história do cinema como arqueologia das mídias In Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, p.72-102.
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