Ficha do Proponente
Proponente
- Catarina Andrade (UFPE)
Minicurrículo
- Doutora em Comunicação/Cinema (PPGCOM/UFPE). Professora do Departamento de Letras da UFPE. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM-UFPE) e colaboradora no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEdu-UFPE), atuando principalmente nas áreas de Estética do Audiovisual, Cinema e Literatura, Cinema e Educação. Vice-líder do Grupo de Pesquisa LEVE – Laboratório de Experiência Visualidade e Educação (CNPq/UFPE). Membro da Diretoria da Socine (desde 2021).
Coautor
- Bruno Mesquita Malta de Alencar (UFPE)
Ficha do Trabalho
Título
- Dispositivos para a construção de um comum em sala de aula: modos de ver, pensar e produzir imagens
Mesa
- Lugares do cinema na educação: invenção, memória e alteridade
Resumo
- Diante da experiência com o cinema em sala de aula, discutiremos os dispositivos do projeto de extensão REIMAGINAR – Oficina de Cinema-Educação, uma das ferramentas didático-pedagógicas dos processos de formação para professores da Rede Pública do Recife (PE). Defendemos que a forma que articula imagem e palavra promovem um letramento audiovisual de caráter interdisciplinar e que suas experimentações contribuíram para a desnaturalização do olhar dentro de uma perspectiva crítica e emancipadora.
Resumo expandido
- Acreditamos que o cinema é uma importante ferramenta e um meio fundamental na produção de realidades comuns, principalmente quando o tomamos como espaço ou reserva de experimentação e imaginação do mundo, em oposição ao mundo dado como feito, que a televisão e os telejornalismos apresentam como fato, bem como ao mundo liquefeito, graças à circulação estonteante de imagens de choque imediato, geralmente descontextualizadas, insituáveis, esvaziadas de sentido. Nossa hipótese é que a imagem é o lugar de uma conjugação do sensível e do inteligível, também dotada de virtualidades imaginárias oriundas da reserva de imaginação daqueles e daquelas que procuram existir e re-existir (Albán, 2013) em meio às investidas do capital. Essa hipótese se reporta à educação no que concerne à sua capacidade de transformar, resistindo à sua instrumentalização pela ideologia de mercado com vistas a converter todo ser humano em capital ou recurso.
Com base nos usos pedagógicos das imagens, temos como princípio a relação de ensino-aprendizagem de Freire (2019), que entende que as condições de aprendizagem possibilitam aos estudantes transformarem-se em sujeitos de construção do conhecimento, ao lado do professor, também sujeito nesse processo. Interessa perceber o cinema como produtor de experiência que desloca a consciência de ser e estar, a ideia de sujeito, em direção à alteridade e ao desconhecido. Aqui, o saber da experiência (Larrosa, 2002) torna-se uma alternativa à pedagogia entendida como ciência aplicada, pois o saber fundado na experiência é também um saber dos sentidos, aquém ou além da cognição do mundo e das “monoculturas da razão”.
Trata-se de se pensar a relação com as imagens para além de uma fruição estética, mas através das condições de mediação pelas quais o mundo é reinventado. É no sentido da imaginação, sua capacidade mediadora como condição da comunicação e do conhecimento, que Fresquet defende a experiência da educação por meio do cinema (2013, p. 29). O cinema oferece a possibilidade de experimentar o mundo a partir de seus próprios elementos e nos “ajuda a entender a dimensão estética da emancipação e acaba nos servindo como um princípio de igualdade para a própria sala de aula” (Migliorin; Pipano, 2019).
Desde esse ponto de vista, desenvolvemos o projeto de extensão REIMAGINAR – Oficina de Cinema-Educação para oferecer oficinas de formação em cinema-educação a professores da Rede Pública da Região Metropolitana do Recife a partir de uma ação interdisciplinar visando a promoção do letramento audiovisual como ferramenta didático-pedagógica para a desnaturalização do olhar dentro de uma perspectiva crítica e emancipadora. As oficinas foram elaboradas e ministradas a partir de exercícios de criação – dispositivos – tendo como principal objetivo propor práticas em sala de aula envolvendo o uso de imagens, abrindo espaço para, de um lado, refletir sobre como as imagens são usadas e contempladas no âmbito escolar, e, de outro, sobre as possibilidades de ressignificação ao reposicioná-las a partir de outros universos de referência e significação, promovendo novos horizontes de olhares e novos usos.
Assim, propomos refletir acerca da criação e experimentação dos dispositivos no âmbito do projeto. Para nós, os dispositivos são propostas de exercícios com imagens (especialmente, fotografia e cinema), textos, brinquedos (ópticos, por exemplo), suportes (papelão, espelho), cujo conjunto de regras desafiam a enfrentar, muitas vezes em forma de brincadeira ou jogo, as propriedades e potencialidades do cinema e do audiovisual. Sobretudo, os dispositivos suscitam nos sujeitos novas formas de olhar e pensar sobre as imagens que produzimos e pelas quais somos atravessados, contribuindo para uma ressignificação do mundo e da própria subjetividade. Ainda, tal como os entendemos e elaboramos, os dispositivos promovem as inversões dos papéis dos sujeitos, favorecendo tensionamentos, suspeições de pontos de vista e possibilidades de re-invenção.
Bibliografia
- ALBÁN, Adolfo. Pedagogías de la re-existencia, artistas indígenas y afrocolombianos. In: WALSH, Catherine. Pedagogías decoloniales: Prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Quito: Abya Yala, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2019.
FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28, jan. 2002.
LEANDRO, Anita. Da imagem pedagógica à pedagogia da imagem. Comunicação & Educação, 29-36, 2001.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante – cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
MIGLIORIN, Cezar; PIPANO, Isaac. Cinema de Brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019.