Ficha do Proponente
Proponente
- Juliana Joaquim Gomes (UFF)
Minicurrículo
- Servidora da UFF, desde 2006 atua no Cine Arte UFF, cinema que faz parte do Centro de Artes. Atualmente é mestranda do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da UFF, onde desenvolve pesquisa sobre a atriz e cineasta estadunidense Ida Lupino. Cinéfila desde pequena, seus principais temas de interesse são a teoria cinematográfica, estudos de gênero, film noir e filmes dirigidos por mulheres.
Ficha do Trabalho
Título
- Ida Lupino e o cinema noir: de femme fatale a cineasta
Eixo Temático
- ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL
Resumo
- A vida e a obra da atriz e realizadora Ida Lupino é enfocada sob a ótica do cinema noir norte-americano, das décadas de 1940 e 1950, em especial seu filme O Mundo Odeia-me (The hitch-hiker), de 1953, considerado o único noir clássico dirigido por uma mulher. Assim, busca-se entender qual foi a importância de Ida Lupino como realizadora pioneira não somente no âmbito desse universo, mas também na história do Cinema de Hollywood.
Resumo expandido
- A vida e a obra da atriz e realizadora Ida Lupino (1918-1995), é enfocada sob a ótica do cinema noir norte-americano, das décadas de 1940 e 1950. A partir da origem, influências, contexto histórico e características desse cinema e da representação da mulher no filme noir, busca-se entender qual foi a importância de Ida Lupino como realizadora pioneira não somente no âmbito desse universo, mas também na história do Cinema de Hollywood.
Desse modo, a partir de publicações recentes laçadas por pesquisadoras estadunidenses, pretendo falar sobre essa mulher, cujas “consistentes preocupações temáticas […] com a opressão dos papéis de gênero, sua crítica severa às instituições sociais norte-americanas no pós-guerra e à sociedade de consumo, sua coragem, e poder de negociação profissional e artística, constituem uma parte importante da história autoral feminina que não tem sido devidamente divulgada por críticos e acadêmicos”.
Herdeira de um legado familiar de atores de teatro ingleses, Ida Lupino foi para os EUA com quinze anos de idade, com um contrato assinado com a Paramount. Ela logo alcançou notoriedade e chegou a interpretar uma femme fatale, no filme Dentro da Noite (They drive by night, 1940). Mas ela acreditava que atuar era uma arte focada no espetáculo e na aparência e, em suas próprias palavras, ela “trabalhou contra” seu próprio “sucesso comercial ao recusar papéis” nos quais ela “não acreditava”. Ao desafiar os grandes estúdios de Hollywood, ela foi colocada muitas vezes “em suspensão”, uma penalidade para os atores que não cumpriam seus contratos. Assim, nos tempos de suspensão, começou a observar outros diretores trabalhando e decidiu exercer sua criatividade longe dos holofotes. Fundou uma produtora independente para poder realizar seus próprios filmes, que versavam sobre questões femininas importantes, raramente vistas em grandes produções de Hollywood: maternidade indesejada e adoção (Mãe Solteira), o amor na juventude e a realidade de pacientes nos primeiros tempos do tratamento contra a poliomielite nos EUA (Quem ama não teme); as consequências do estupro e a culpabilização da vítima (O mundo é culpado)”; o relacionamento de uma mãe com a filha, pressionada a seguir uma carreira nos esportes (Laços de Sangue); “a gênese patológica do psicopata americano (O mundo odeia-me); casamento falido, bigamia e gravidez fora do casamento (O Bígamo) e os desafios do crescimento e da formação feminina sob a rígida moralidade católica (Anjos Rebeldes).
Seu filme O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) é um filme noir que embora não tenha a icônica personagem da mulher fatal, tece comentários sobre o lugar dos homens nos EUA do pós-guerra: suas perdas, passividade, desconfiança nas autoridades, e como suas identidades foram questionadas ao retornarem aos lares. “Eles podem ter escapado dos traumas da guerra, mas agora enfrentam a incerteza do porvir”.
O trabalho busca dar visibilidade a uma cineasta que merece ser reconhecida, como a participação e os feitos de diversas mulheres, que foram omitidos ao longo da história, levando-se a crer que elas não foram relevantes, desencadeando um processo de apagamento histórico e silenciamento feminino. Processo este que deve ser pautado, debatido e questionado, em busca de uma melhor compreensão do mundo contemporâneo.
Bibliografia
- DONATI, William. Ida Lupino: a Biography. The University Press of Kentucky. Lexington, 1996.
GOMES, Juliana Joaquim. Mulher fatal: a representação feminina no cinema noir norte-americano. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
GRISHAM, Therese; GROSSMAN, Julie. Ida Lupino, Director: Her Art and Resilience in Times of Transition. Nova Brunswick: Rutgers University Press, 2017.
HANSON, Helen. Hollywood Heroines: Women in film noir and the female gothic film. London, New York: IB Tauris, 2007.
HARVEY, Sylvia. Woman’s Place: The Absent Family of Film Noir. In: KAPLAN, E. Ann (ed.). Women in Film Noir. New Edition. London: British Film Institute, 1998.
LUPINO, Ida; ANDERSON, Mary Ann. Ida Lupino: Beyond the Camera. Albany, Bear Manor Media. 2018
SEROS, Alexandra. Ida Lupino, Forgotten Auteur: From Film Noir to the Director’s Chair. 2024. ebook.