Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    RENATA PYRRHO NASCIMENTO (UFRN)

Minicurrículo

    Renata Pyrrho Nascimento é pesquisadora e professora do curso de Produção de Áudio e Vídeo SEE-PB/PARAÍBATEC. Atua na interface entre estudos de mídia, representatividade e análise crítica do discurso. Investiga a relação entre linguagem, racismo e sistemas de representação na cultura visual, com ênfase na produção audiovisual brasileira. Tem participado de projetos voltados à visibilidade de Cinema e Direitos Humanos no campo da comunicação, produção audiovisual.

Coautor

    Daniel Dantas Lemos (UFRN)

Ficha do Trabalho

Título

    ENTRE O DITO E O NÃO DITO, O MAU DITO BETWEEN THE SAID AND NOT SAID, THE BADLY SAID

Resumo

    Este estudo reflete sobre arte afro-brasileira, racismo, memória e representação. A partir dos filmes A Morte Branca do Feiticeiro Negro e Tudo que é Apertado Rasga, insere-se na fabulação crítica (Hartman, 2020), revisita arquivos coloniais (Barbosa, 2016) e discute estratégias de transcodificação (Hall, 2016) como resistência ao silenciamento, à má representação e à exclusão de pessoas negras na arte e na mídia.

Resumo expandido

    Este estudo apresenta reflexões sobre a recusa na representação e a degradação como transgressão na comunicação e na arte, considerando o impacto da linguagem na produção de sentido. Ancorado nas teorias de ideologia, discurso, representação e linguagem (Hall, 2016; Eagleton, 1997; Chauí, 1980), analisa como o cinema e o audiovisual constroem sistemas de significação que reforçam ou contestam hierarquias raciais e de gênero. Recorre a imagens de arquivo, produções audiovisuais e à constituição da memória, articulando produção artística e o valor da imagem na contemporaneidade a partir de seu percurso histórico e político.

    A pesquisa discute os racismos enraizados (dito e redito), a ausência de pessoas negras em instituições culturais e acadêmicas (não dito) e a má representação de mulheres e pessoas negras no cinema e na mídia brasileira (mau dito), explorando como a repetição de discursos reitera estruturas de opressão. Busca-se pensar estratégias que desmontem essas formas cristalizadas de poder e representação, apostando na fabulação crítica (Hartman, 2020) e nas possibilidades poéticas da linguagem audiovisual. Para tanto, aciona autoras(es) que trazem conceitos fundamentais para a análise, como Denise Ferreira da Silva, Grada Kilomba, bell hooks, Kabengele Munanga, Leda Maria Martins e Stuart Hall.

    A pesquisa reflete sobre a arte afro-brasileira (Munanga, 2019), os racismos e a memória (Kilomba, 2017), bem como os modos de visibilidade e apagamento na arte e na mídia (hooks, 2019). Parte-se do entendimento da linguagem como prática social e do discurso como espaço de disputa por sentido (Orlandi, 2020), investigando os modos como a imagem opera tanto como ferramenta de opressão quanto de resistência. A análise de dois filmes centrais — A Morte Branca do Feiticeiro Negro (2020), de Rodrigo Ribeiro, e Tudo que é Apertado Rasga (2018), de Fabio Rodrigues Filho — insere-se nessa perspectiva, abordando os modos de inscrição do corpo negro e da ancestralidade na construção de contranarrativas.

    Ambos os filmes atuam na fronteira entre documentário e experimentalismo, desestabilizando expectativas de gênero, narrativa e linguagem audiovisual. A proposta é pensar esses trabalhos como formas de insurreição estética e política, que não apenas denunciam, mas criam espaços de escuta, fabulação e memória. A pesquisa revisita arquivos coloniais (Barbosa, 2016), questionando a função do arquivo como lugar de autoridade histórica, e explorando como esse mesmo arquivo pode ser tensionado, reorganizado e reinscrito por meio da arte.

    Metodologicamente, o estudo se ancora na análise fílmica articulada à Análise Crítica do Discurso, buscando compreender como elementos formais (montagem, som, estética visual, uso do corpo e da palavra) operam como dispositivos de resistência. A proposta é compreender o audiovisual não apenas como espelho da realidade, mas como território de disputa, onde se constroem narrativas, se (re)escrevem memórias e se enfrentam violências simbólicas. A violência das imagens coloniais é posta em crise, e seu reaproveitamento crítico revela-se como gesto político, ético e estético.

    Ao refletir sobre a função política e a violência das imagens e suas possibilidades de reconfiguração, este trabalho contribui para o debate sobre representatividade, memória e estética negra no cinema brasileiro. Propõe-se, assim, uma leitura que compreende o cinema como campo de fabulação, de reinvenção da história e de reexistência — um lugar em que a imagem deixa de ser evidência do passado e passa a ser construção ativa de futuros possíveis. Com base nas estratégias de transcodificação descritas por Hall (2016), o estudo explora formas de subverter sistemas hegemônicos de representação, evidenciando como o cinema pode operar como espaço de contestação e reinvenção discursiva.

    Palavras-chave: Discurso; Fabulação crítica; Arquivo colonial; Violência; Estratégias de transcodificação.

Bibliografia

    ANDRADE, Catarina; LESSA F. Ricardo. (2022). A morte branca do feiticeiro negro: a imagem-arquivo como re-existência. ANAIS – SOCINE, 2021.
    BARBOSA, M. C. Escravos e o mundo da comunicação. 1. ed. Rio de Janeiro: MauadX, 2016.
    CHAUI, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.
    DA SILVA, Denise Ferreira. Ler a arte como confronto. Logos, v. 27, n. 3, 2020.
    EAGLETON, T. Ideologia. Uma Introdução. São Paulo; Unesp/Boitempo, 1997.
    HALL, Stuart. Cultura e representação. PUC-Rio: Apicuri, 2016.
    HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Revista ECO-Pós, v. 23, n. 3, p. 12-33, 2020.
    HOOKS, B. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
    KILOMBA, Grada. Ilusões – Narciso e Eco (2017).
    MUNANGA, K. Arte afro-brasileira: o que é afinal? PARALAXE, 6(1), 5–23. 2019.
    RODRIGUES, Fábio, Tudo que é apertado rasga. Cachoeira: UFRB, 2019.
    RIBEIRO, Rodrigo. A morte branca do feiticeiro negro. Gata Maior Filmes, de Santa Catarina, 2020.