Ficha do Proponente
Proponente
- Felipe Puchalski da Silva Fiedler (UNESPAR)
Minicurrículo
- Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo da Universidade Estadual do Paraná, e membro do Grupo de Pesquisa em Arte, Cultura e Subjetividades (GPACS-CNPq). Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estadual do Paraná, atuou como pesquisador bolsista de dois projetos de Iniciação Científica, coordenados pela Prof.ª Dr.ª Beatriz Avila Vasconcelos. Ambos os projetos foram financiados pela Fundação Araucária, entre os anos de 2022 e 2024.
Ficha do Trabalho
Título
- TEMPO AGRESSIVO: INSCRIÇÕES TRAUMÁTICAS NAS PAISAGENS DE LANDSCAPE SUICIDE (1986)
Eixo Temático
- ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL
Resumo
- A presente comunicação busca reconhecer uma ampliação acerca do que é compreendido enquanto lentidão na estética cinematográfica, estreitando sua relação com o espaço. Partindo da análise do filme Landscape Suicide (1986), de James Benning, observamos um conjunto de padrões que nos convidam a fabular diante das imagens e sua composição. Em diálogo com conceitos centrados nos estudos de paisagem, lugar e temporalidade, investigamos como a violência é inscrita nas imagens permeadas pela duração.
Resumo expandido
- No início do século XXI, surgiram discussões teóricas que envolveram uma análise em comum do cinema mundial contemporâneo da época, a partir de uma perspectiva focada em como esses filmes dialogavam com o tempo em suas obras, promovendo uma “estética da lentidão” (Flanagan, 2008). Tratava-se de filmes que apresentavam algumas características em comum, como o uso de planos de longa duração, narrativas suspensas com ênfase no cotidiano ou na “inação”, e uma mise-en-scène minimalista. Filmes que promoviam uma espécie de experiência meditativa com as imagens, concentrados na manutenção da espera e na permanência do olhar. A estética do “slow” ou “slow cinema”, ampliou os estudos audiovisuais dedicados a analisar a temporalidade na arte cinematográfica, assim como a experiência do espectador em contato com obras desta característica, desafiando as relações com o tempo. No entanto, é necessário ir além de um enquadramento apenas direcionado a padrões de uma única estética e, através de um aprofundamento sensível, considerar os aspectos singulares de cada obra acerca da aplicação da temporalidade, expandindo os horizontes de sua época, questionando os limites da lentidão e da duração no cinema, em sua diversidade e em sua totalidade. É com esse objetivo, que a presente comunicação pretende dialogar. Para isso, o foco desta pesquisa será direcionado ao filme Landscape Suicide (1986), do diretor norte americano James Benning.
O longa-metragem do cineasta experimental nos convida, por meio de um ato comparativo, a adentrar nas cicatrizes presentes na paisagem de duas cidades pequenas nos Estados Unidos. Cidades distintas, no entanto, similares em aspectos violentos de casos verídicos de assassinatos locais. Essa comparação, é realizada mediante uma escolha de padrões de decupagem feitas por Benning, ao aproximar os dois casos criminais. Ambos os casos são abordados no filme com padrões formais semelhantes, afastando-se do posicionamento arbitrário diante dos criminosos, dedicando-se apenas a frontalidade dos fatos, refletindo no enquadramento de suas imagens e na composição de sua mise-en-scène. Landscape Suicide, é construído a partir de cinco categorias de registro: 1) Retrato dos assassinos em cenas de depoimento; 2) Quadros e registos de documentações e fotografias; 3) Planos gerais das vítimas, acompanhados de uma trilha musical; 4) Planos subjetivos de dentro do carro; 5) Registros da paisagem local das duas cidades. Aqui, a pesquisa irá trabalhar a partir do espelhamento dos registros apontados, em como o tempo e a duração implicam diretamente na elaboração de um sentimento de violência presente nos espaços filmados.
Ancorando-se no conceito de “imaginações geográficas”, de Ângela Prysthon, e nos estudos a respeito da concepção de lugar (Gorfinkel, Rhodes) e de paisagem (Cauquelin), é possível perceber nos espaços de Landscape Suicide, as cicatrizes deixadas pelos assassinatos, mesmo diante de um registro frontal, não narrativo, e puramente observacional destes espaços. São paisagens que, após a contextualização documental dos crimes, são visualizados a partir de uma perspectiva diferenciada, convocando o espectador a fabular diante das imagens, sons e, consequentemente, de sua duração. Há uma agressividade nas imagens, que é permeada por sua monotonia. A lentidão se torna uma instância tão agressiva quanto suas imagens, que quase nunca (com exceção de alguns planos) expressa uma violência gráfica. A hostilidade, está na fabulação documental e na administração desta duração.
Tomando por base pesquisadores que analisaram as relações entre imagem e tempo, em uma perspectiva de lentidão, auxiliando na compreensão de um “cinema duracional”, como Erika Balsom, Matthew Flanagan e Gilles Deleuze, o objetivo é aqui explorar o modo como, no filme de Benning, duração e paisagem se articulam para implicar o espectador na agressividade silente de um tempo-espaço eivado de violência.
Bibliografia
- BALSOM, E. Saving the Image: Scale and Duration in Contemporary Art Cinema. Cineaction 72, 23-31, 2007.
CAUQUELIN, A. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
DELEUZE, G. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
FLANAGAN, M. Towards an Aesthetic of Slow in Contemporary Cinema.
16:9, nov. 2008. Disponível em: .
GORFINKEL, E.; RHODES, J. D. (ed.). Taking place: location and the moving image. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2011.
LARROSA, J. B. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. n.19. Jan/ Fev/ Mar/ Abr 2002, p. 20-28.
LEFEBVRE, M. Landscape and film. New York: Routledge, 2006.
PRYSTHON, A; CASTANHA, C. S.; ASSUNÇÃO, L. V. “Algumas notas sobre
paisagem e espaço na cultura audiovisual”. In: PEREIRA DE SÁ, S.; AMARAL, A.;
JANOTTI JUNIOR, J. (org.). Territórios afetivos da imagem e do som. Belo Horizonte:
PPGCOM UFMG, 2020. p. 169-198