Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Goldenstein (UFRJ)

Minicurrículo

    Cineasta e diretor de tv, sócio fundador da Aion Filmes. Dirigiu o longa metragem CORDA BAMBA (2013) premiado pelo Edital de Longa Metragem do MINC e finalista no Grande Premio de Cinema Brasileiro. Co dirigiu o longa documental 5 VEZES CHICO. É diretor das séries ESTADOS DA ARTE, CIDADES POSSIVEIS e POTENCIAS DA IMAGEM, exibidas pelo Canal Curta! Produziu conteúdos para o novo MIS-RJ. Dirigiu séries educativas para a MULTIRIO. É Mestrando no PPGMC/UFRJ onde desenvolve novo projeto de filme.

Ficha do Trabalho

Título

    Por um cinema além do Antropocentrismo: Deception Island, o olho do vulcão.

Eixo Temático

    ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL

Resumo

    O tema central deste trabalho aponta para a crise climática e novas possibilidades de expressá-la no cinema contemporâneo. De que maneira a ciência responde aos desafios trazidos por esta crise? Como lidar com a necessidade de substituir velhos paradigmas baseados na racionalidade ocidental moderna que preconiza a disjunção homem-natureza? No contexto de uma necessária re-orientação cosmopolítica, pretende-se investigar novas formas de criação audiovisual para além do Antropocentrismo.

Resumo expandido

    A presente investigação visa constituir-se em fonte de embasamento teórico e referencial para elaboração de roteiro e materiais de apoio a serem formatados em projeto audiovisual para a realização de um filme documental de longa metragem. O tema central desta pesquisa, em linha com o filme que se pretende realizar, aponta para a crise climática e novas possibilidades de expressá-la no cinema contemporâneo.
    Vivemos num tempo singular, marcado por uma crise que abrange não apenas a espécie humana, mas a vida no planeta – a crise do Antropoceno. Esta nova era geológica marca a interferência no equilíbrio do planeta causada pela atividade humana. Pela primeira vez o tempo cronológico e o tempo histórico humano se chocam, o homem se torna um agente geológico. De que maneira a ciência responde aos desafios trazidos por esta crise? Como lidar com a necessidade de substituir velhos paradigmas baseados na racionalidade ocidental moderna que preconiza a disjunção entre o homem e a natureza? Como a humanidade hiperconectada poderia reorientar sua bússola em prol de um reenvolvimento cosmopolítico? Essas são apenas algumas das perguntas que deverão ressoar ao longo do filme que se pretende realizar, cujo ponto de partida é acompanhar uma cientista que investiga as mudanças climáticas em viagem ao continente Antártico, onde ela irá se deparar com Deception Island: uma ilha em forma de anel, boca de um vulcão submerso ainda em atividade onde no início do século XX vicejou instalações da indústria baleeira, parcialmente soterradas pela erupção de 1969. As ruínas desoladas, a beleza das rochas e geleiras, os sons do vento e dos pássaros evocam potentes elementos visuais e sonoros. Enquanto olhamos para ela, para esta ilha-olho, ela também nos olha, como que a perguntar: será que ainda há tempo?
    Por que filmar na Antártica? Espécie de deserto gelado, único continente do planeta Terra cujas extensões territoriais não “pertencem” a nenhum país e onde a presença humana é exclusivamente dedicada à pesquisa científica, a paisagem antártica imediatamente nos remete para um “antes” e um “depois” da presença humana no planeta. É comum ouvirmos relatos de cientistas e pesquisadores sobre os sofrimentos decorrentes dos desafios impostos ao corpo e à mente pelo rigor extremo daquele ambiente inóspito, não obstante, geralmente acompanhados de uma sensação sublime provocada pela paisagem.
    Por vezes é preciso se afastar e chegar aos confins do mundo, onde se pode deparar com a vastidão dos elementos e com o silêncio. Pode-se então voltar a escutar sons há muito inaudíveis, e voltar-se para si (para a própria Terra) em busca de um encontro cada vez mais raro e necessário, curando as feridas abertas deixadas pela longa história construída e repetida à exaustão por certa racionalidade ocidental que preconiza a disjunção homem-natureza.
    Como expressar estas sensações através de um filme? Como ampliar os limites da expressão audiovisual? Neste sentido, a forma deverá acompanhar o conteúdo, propondo também uma crise no sistema representativo dominante do cinema contemporâneo, baseado numa estrutura antropocêntrica consubstanciada na jornada do herói. Para tanto, esta pesquisa deverá abordar com particular interesse contra representações que apontam para novas formas de realização e fruição de obras audiovisuais, em prol de uma liberação da percepção e sensibilidade do espectador. Ainda dentro dessa linha de investigação, nos interessa também investigar novas possibilidades de criação audiovisual para além do antropocentrismo, analisando exemplos de obras nas quais o “não-humano” adquire centralidade.
    Dois eixos teóricos principais atravessam este trabalho. O primeiro diz respeito à crise climática e ao Antropoceno. O segundo diz respeito às questões da linguagem cinematográfica, com foco na produção contemporânea relacionada com a questão climática e a crise da narrativa clássica antropocêntrica.

Bibliografia

    Viveiros de Castro, Eduardo e Danowski, Deborah. Há mundo porvir? Ensaio sobre os medos e os fins. São Paulo: Cultura e Bárbarie/ISA/Desterro, 2014
    Roque, Tatiana. O dia em que voltamos de Marte. São Paulo: Ed. Planeta, 2021.
    Chackrabarty, Dipesh. O clima da história: quatro teses. São Paulo: Revista Sopro, n 91. Ed Cultura e Barbárie, 2013.
    Haraway, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthluceno. São Paulo: N-1 Edições, 2023
    Krenak, Ailton. Idéias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Cia das Letras, 2020
    Latour, Bruno. Onde aterrar – como se orientar politicamente no Antropoceno? Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020a.
    Latour, Bruno. Diante de Gaia. São Paulo: Ubu Editora, 2020b.
    Le Guin, Urusula. The carry-bag theory of Fiction. In Dancing at the Edge of the world – thoughts on words, women, places. New York: Grove Press, 1989
    Sousa Dias, Susana. Fordlândia Malaise: memórias fracas, contra-imagem e futurabilidade. Lisboa: Revista de Comunicação e Linguagens, n. 52, 2020