Ficha do Proponente
Proponente
- NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA (COC/Fiocruz)
Minicurrículo
- Possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade de São Paulo (1994), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2006) e doutorado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (2022). É assessor da Direção da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde atua nas áreas do Patrimônio Cultural, da Divulgação Científica e da Produção Audiovisual. É também organizador e curador da Mostra de Filmes “Memória em Movimento”.
Ficha do Trabalho
Título
- Mostra de filmes “Memória em Movimento” (2013-23)
Seminário
- Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual
Resumo
- Este trabalho se propõe a analisar a realização da mostra “Memória em Movimento” dedicada a filmes sobre a memória e o patrimônio. O objetivo é refletir sobre a diversidade temática e estética dos filmes exibidos e sobre como denotam a reivindicação e a consolidação de uma nova noção de patrimônio, centrada na valorização da cultura viva e do saber-fazer popular.
Resumo expandido
- A Semana Fluminense do Patrimônio (SFP) é um evento anual, organizado por instituições científicas e culturais do Estado do Rio de Janeiro, com o intuito de promover e valorizar o patrimônio cultural e natural fluminense. Esse evento começou a ser realizado em 2011 e, em 2025, encontra-se em sua 14ª edição.
Entre as atividades que compõem a programação da SFP, destaca-se a Mostra de filmes “Memória em Movimento”. Essa mostra integra a programação do evento desde 2013 e foi concebida a partir de uma parceria entre o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) e a Casa de Oswaldo Cruz (COC), com o intuito de divulgar e promover o patrimônio cultural brasileiro por meio da exibição de filmes de curta, média e longa-metragem, realizados em diferentes regiões do país.
Para compor a programação da mostra, são selecionadas obras de ficção, animação e documentários que registram reflexões sobre a memória e sobre a diversidade de expressões e manifestações do patrimônio material e imaterial brasileiro.
Por influência de instrumentos elaborados pela Unesco e da disseminação do conceito antropológico de cultura, o conteúdo da expressão “patrimônio cultural” sofreu mudanças nas últimas décadas do século passado. Nesse novo cenário, deixou de estar associado apenas a obras monumentais e coleção de objetos (patrimônio material móvel e imóvel) e passou a contemplar os bens tangíveis ou imateriais, compreendendo um leque variado de manifestações e expressões que incluem tradições orais, artes do espetáculo, rituais, atos festivos, saberes, técnicas, crenças e habilidades, transmitidos de geração a geração e que contribuem para instaurar um sentimento de identidade e pertencimento.
Dessa forma, passam a ser considerados bens imateriais os conhecimentos enraizados no cotidiano das comunidades, as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas, audiovisuais e lúdicas, os rituais e festas que marcam a vivência coletiva da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social, além dos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços em que se concentram e se reproduzem práticas culturais.
Os filmes selecionados para a mostra buscam captar a variedade desse patrimônio, de forma a revelar a mescla de origens e influências que constituíram nossa multifacetada identidade cultural. Ainda que o foco central seja o patrimônio cultural fluminense, são incluídos na programação filmes oriundos de diferentes cantos do país. Há sessões exclusivas para alunos do ensino médio (Sessão Escolas), sendo as demais abertas ao público em geral com entrada sempre gratuita. Além da divulgação e promoção do patrimônio cultural brasileiro, outro objetivo da mostra é dar maior visibilidade a produções que encontram pouco espaço nos circuitos habituais de exibição.
Inicialmente, a mostra possuía um caráter mais retrospectivo, privilegiando em sua programação filmes mais “canônicos” que traziam em sua fatura reflexões sobre a proposta temática do evento: cultura indígena e afro-brasileira, música popular, artesanato, crenças e ritos religiosos, culinária, memória, arquitetura brasileira etc. A partir de 2015, os filmes passaram a ser prospectados por meio de uma chamada pública, passando posteriormente pelo crivo de uma equipe de curadores. Esse novo modelo garantiu uma maior diversidade na composição da programação, tanto no que diz respeito à origem geográfica e cultural dos filmes, quanto nas abordagens temáticas e estéticas envolvidas.
Este trabalho se propõe a analisar a programação da mostra e refletir sobre a pluralidade dos filmes exibidos, considerando seus diferentes formatos, temáticas e propostas estéticas. Busca-se com isso identificar e caracterizar a reivindicação e a consolidação de “novos patrimônios”, a partir de uma perspectiva crítica que questiona a visão elitista e monumentalista, mais tradicional nesse campo, para valorizar a cultura viva, sacralizada no fazer popular e no cotidiano das sociedades.
Bibliografia
- ABREU, Regina. Patrimonialização das diferenças e os novos sujeitos de direito coletivo no Brasil. In: DODEBEI, Vera; TARDY, Cecile. Memória e novos patrimônios. Marseille: OpenEdition Press, 2015.
SANTILI, Juliana. Patrimônio imaterial e direitos intelectuais coletivos. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 32, p. 62-80, 2005.
MACHADO, C. S. L.; CARVALHO, C. S. R.; COELHO, C.; NASCIMENTO, F.; PINHEIRO, M. J. A.; CORREIA, M. R.; OLIVEIRA, N. H. C. (Orgs.) Olhares sobre o patrimônio fluminense. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2015.