Ficha do Proponente
Proponente
- Ernesto David Pari Loaiza (UFF)
Minicurrículo
- Mestrando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFF. É coordenador da área de críticas do Observatório de Cinema e Audiovisual da UFF (OCA-UFF).
Ficha do Trabalho
Título
- A Cosmovisão Andina e Questões Sociais no Cinema Regional Peruano Contemporâneo
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- A proposta busca fazer a análise comparativa entre os filmes Wiñaypacha (2017) e Mamapara (2020), exemplos do cinema regional peruano, da região de Puno. Ambos tratam da cosmovisão andina e das questões sociais enfrentadas pelo povo andino, especialmente pessoas idosas, o que rompe com a hegemonia do cinema comercial peruano. Esses filmes são representantes contemporâneos de um cinema em foco no país, pois resgatam os valores tradicionais andinos e denunciam descasos governamentais.
Resumo expandido
- Conforme os teóricos Bustamante e Victoria (2017), o termo cinema regional peruano define toda a produção cinematográfica realizada fora da região da capital, Lima, que, há décadas, concentra a maior parte dos investimentos em audiovisual. Os próprios pesquisadores, no entanto, ressaltam que esse termo é passível de debates, já que condensa uma grande diversidade artística e cultural dessas demais regiões do país. Ainda assim, essa nomenclatura auxilia na identificação e no incentivo à pesquisa de um cinema nacional em foco, um que representa a cultura tradicional andina, o que não é comum no cinema comercial. Nesse contexto, a presente proposta traz dois filmes como exemplos do cinema regional peruano, especificamente da região de Puno, localizada na zona serrana do país, para realizar uma análise comparativa: Wiñaypacha (2017) e Mamapara (2020). Essa análise tem como base a representação da cosmovisão andina em ambos os filmes e, ainda, a representação das mazelas sociais nas quais vivem a população andina, já que, similar à falta de investimento no audiovisual, as regiões da serra peruana carecem de infraestrutura urbana.
Em Wiñaypacha, acompanhamos o cotidiano de um casal de idosos aimará, etnia indígena, que vivem isolados em uma chácara nas montanhas. Em um de seus rituais sagrados, recebem um aviso de mau agouro, e eles passam a ter que lidar com uma série de adversidades para tentar sobreviver enquanto aguardam o retorno de seu filho, que há muito os abandonou. Em Mamapara, acompanhamos o cotidiano de uma mulher idosa quíchua, outra etnia indígena, e vendedora informal de doces em um centro urbano. Ela reconta a árdua vida que teve, que inclui abandono parental e violência, enquanto a narração, feita pelo filho, diretor do filme, acrescenta, por meio de texto poético, um tom de melancolia à figura de sua mãe. Um longa e um curta; um no campo e outro na cidade; ambos com protagonistas idosas; ambos falados em línguas nativas; ambos expondo o abandono governamental nessas regiões; ambos com elementos tradicionais andinos, incluindo a cosmovisão andina.
A cosmovisão andina é a visão de mundo que aproxima o indivíduo andino da natureza ao redor de maneira espiritual. Por isso, segundo Huamán (2011), muitas das manifestações espirituais para o povo andino têm forma em elementos naturais, como a chuva e o vento. Em Wiñaypacha, são vistos rituais, manifestações espirituais e, também, é mostrada a relação profunda dos idosos com os recursos naturais. Já em Mamapara, a chuva é um símbolo que acompanha a protagonista ao longo de todo o filme, pelo simbolismo da tristeza e por ser considerada um canal entre o plano terreno e o espiritual. Além disso, a própria noção de tempo da cosmovisão andina é aplicada no ritmo dos filmes, uma montagem mais lenta e contemplativa. Ou seja, considerando que os diretores têm o ímpeto de valorizar a cultura andina, os filmes trabalham elementos da cosmovisão andina tanto na forma quanto no conteúdo, verdadeiros exemplares de um cinema decolonial peruano.
Por fim, um outro elemento que quebra com os padrões do cinema peruano é a representação de pessoas idosas, especialmente em um contexto de descaso social. Em Wiñaypacha, a falta de atenção estatal no fornecimento de serviços básicos é um fator que agrava o risco de vida do casal de protagonistas, como a falta de uma estrada segura até a cidade mais próxima. No caso de Mamapara, a protagonista não recebe aposentaria, tem de trabalhar todos os dias nas ruas, não tem moradia própria e, onde vive, sequer tem serviço de gás e água encanada. Por isso, essa análise também traz dados do Instituto Nacional de Estatística e Informática do Peru sobre a população idosa em 2024, pois os filmes refletem a situação alarmante que essa faixa etária vive no país, especialmente no campo.
Bibliografia
- BUSTAMANTE, E. VICTORIA, J. L. (Eds.). Las miradas múltiples: El cine regional peruano, Tomo I. Lima: Universidad de Lima, 2017.
HUAMÁN, M. M; Teqse: La Cosmovisión Andina y las Categorías Quechas como fundamentos para una Filosofía Peruana y de América Andina. Lima: Universidad Ricardo Palma, 2011.
INEI. Situación de la Población Adulta Mayor: Abril – Mayo – Junio 2024. Lima: Instituto Nacional de Estadística e Informática, 2024. Disponível em: . Acesso em: 18 de nov. de 2024.
WIÑAYPACHA. Direção: Óscar Catacora. Produção: Tito Catacora. Peru: Cine Aymara Studios, 2017.
MAMAPARA. Direção: Alberto Flores Vilca. Produção: Mario Manríquez; Alberto Flores Vilca. Peru: Cantata Films, 2021.