Ficha do Proponente
Proponente
- Dorotea Souza Bastos (UFRB)
Minicurrículo
- Professora de Direção de Arte do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e docente permanente do Programa de Pós-graduação em Comunicação – Mídia e Formatos Narrativos – PPGCOM/UFRB. Líder do VISU – Grupo de Pesquisa e Extensão em Arte, Imagem e Visualidades da Cena (UFRB/CNPq). Doutora em Média-Arte Digital (UAlg/UaB) e em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (em co-tutela).E-mail: dorotea@ufrb.edu.br.
Coautor
- Theresa Christina Barbosa de Medeiros (UFRN)
Ficha do Trabalho
Título
- DIREÇÃO DE ARTE E REALISMO FANTÁSTICO EM “SEM CORAÇÃO” (2003)
Seminário
- Estética e Teoria da Direção de Arte Audiovisual
Resumo
- Neste trabalho, buscamos analisar o elemento fantástico presente no filme Sem coração (2003), de Nara Normande e Tião: uma baleia, objeto fruto da imaginação das personagens Tamara e Duda. Para tanto, recorremos aos apontamentos trazidos por Bastos, Paiva e Medeiros (2023), como possibilidade metodológica de análise a partir da Direção de Arte, levando em consideração as materialidades e visualidades a fim de explorarmos as possibilidades criativas e narrativas do objeto.
Resumo expandido
- Retratando os dilemas, descobertas e aventuras juvenis do período da adolescência, Sem Coração (2023), filme de Nara Normande e Tião, traz o universo adolescente para a tela, ambientado no litoral de Alagoas, numa narrativa que mescla aspectos sociais e culturais na convivência entre os personagens.
É neste contexto que o filme apresenta um elemento fantástico (FURTADO, 1980), que ganha destaque na narrativa: uma baleia, objeto fruto da imaginação das personagens Tamara e Duda (Sem Coração). Com uma estrutura de treze metros, o objeto utilizado no filme foi criado por uma equipe coordenada pelo Diretor de Arte Thales Junqueira.
A baleia aparece em três momentos-chave para o desenvolvimento das relações entre as personagens principais do filme. A primeira aparição ocorre aos 25 minutos, logo após o que inicialmente acreditamos ser a primeira interação de “Sem Coração” (Duda) com os demais adolescentes. A segunda aparição acontece aos 48 minutos, quando a baleia já se encontra encalhada na praia. Nesse momento, acompanhamos novamente a perspectiva de Tamara e Duda, destacando-se os planos detalhe da textura do animal e o som expressivo das batidas do seu coração, que reforça a atmosfera fílmica da cena. A última aparição do animal ocorre em uma piscina abandonada, onde ele é cortado em blocos por homens. A montagem alterna entre a observação assustada de Duda diante da cena e um sonho com sua mãe, criando um jogo simbólico entre realidade e imaginação.
É de nosso interesse explorar as possibilidades criativas e narrativas deste objeto fantástico, a partir “dos aspectos formais da materialidade cênica desenhada pelo Departamento de Arte para o set de filmagem; e o das suas reverberações no aspecto visual das imagens finalizadas, ou seja, na visualidade imagética” (BASTOS, PAIVA e MEDEIROS, 2023, p.54).
No que tange ao aspecto formal de materialidade da cena (primeiro eixo de análise), abarcamos a baleia como objeto cênico, destacando os itens “cenografia” e “elementos derivados de efeitos especiais”, por se tratar de um elemento que, além de ter sua presença física na cena, engloba o uso de efeitos visuais mecânicos e especiais.
Já no que diz respeito ao segundo eixo de análise – o mapeamento da narrativa estética desta materialidade no aspecto visual da obra – buscamos as conexões e as relações de sentido alicerçadas pela Direção de Arte e a sua dimensão dramatúrgica a partir da imagem (BASTOS, 2023), seja através na relação que as personagens desenvolvem com a baleia, seja com a simbologia que o objeto carrega.
Neste sentido, embora o filme trabalhe com marcadores de uma estética realista, como profundidade de campo, plano-sequência e câmera na mão, existe também uma aproximação com o fantástico, que reflete o estado dos personagens, como consequência de suas dúvidas, medos e processos de mudança. Essas características, em Sem Coração, são acionadas especialmente a partir da presença da baleia, que resulta em uma fronteira borrada entre os elementos sobrenaturais e sociais.
Bibliografia
- BASTOS, Dorotea; PAIVA, Milena; MEDEIROS, Theresa. Apontamentos iniciais para uma metodologia de análise fílmica a partir da direção de arte. In: SUING, Abel et al. Imagens em Movimento. Lisboa: RIA Editorial, 2023.
BASTOS, Dorotea Souza. Por uma dramaturgia da imagem audiovisual: direção de arte, narrativa e visualidade. In: Ferreira, Benedito; Jacob, Elizabeth Motta; Rocha, Iomana; Souza, Nivea Faria de; Xavier, Tainá. Dimensões da Direção de Arte na Experiência Audiovisual (Portuguese Edition) (p. 25). Nau Editora. Edição do Kindle, 2023.
FURTADO, Filipe. A construção do fantástico na narrativa. Lisboa: Livros Horizonte, 1980.
MARTINS, India; MEDEIROS, Theresa. Perspectivas para refletir sobre o novo realismo a partir da representação do espaço e da atmosfera sobrenatural em Quando eu era vivo. ANO 8. N. 2–REBECA 16| JUL–DEZ 2019. Disponível em: https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/611