Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Félix Pereira Moura (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutorando do PPGCOM da ECO UFRJ. Atualmente estuda as imbricações entre moeda e imagem, partindo de intercruzamentos entre teoria monetária, economia política e ontologia cinematográfica. Possui graduação em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. No mestrado, Desenvolveu pesquisas sobre a temática do trabalho no cinema brasileiro contemporâneo. No audiovisual, desempenha funções técnicas nas áreas de direção, fotografia e tratamento de imagem.
Ficha do Trabalho
Título
- Assim na tela como no céu: teologia e ontologia da imagem cinematográfica a partir da oikonomia
Resumo
- O trabalho propõe uma reflexão sobre a interseção entre moeda e crença nas imagens do cinema, com foco na abordagem teológica. Utilizando a noção de “imagem-dinheiro” de Deleuze, busca-se analisar como o contexto financeiro e a confiança circulam nas produções cinematográficas. A análise, de natureza interdisciplinar, se embasa nas teorias de Marie-José Mondzain, Agamben e Warburg, investigando traços formais e iconográficos no cinema, especialmente no filme À Margem da Imagem (2001)
Resumo expandido
- Em artigo de 2013, Marina Soler Jorge expõe resultado de uma pesquisa empírica feita com espectadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que demonstrava que a grande maioria (mais de 80%) da amostragem acreditava que o cinema “reproduzia a realidade”. No decorrer dessa mesma publicação, a autora resgata a discussão sobre ontologia do cinema consolidada em texto de André Bazin e traz Hans Belting como referência para enveredar pelo campo da relação entre a ideia de imagem verdadeira e a religião, em especial o cristianismo.
Para além do campo do cinema, a representação de temas sagrados por meio de imagens tem sido tema de discussões importantes no campo da história da arte, da teologia, da filosofia, da política e da economia política. Considerando o atravessando interdisciplinar do debate, propomos aqui desenvolver a reflexão entre crença e credibilidade das imagens do cinema se valendo da noção de imagem-dinheiro, termo cunhado por Deleuze em Imagem-Tempo (2018) e que concebe a moeda como a face avessa das imagens projetadas na tela do cinema, carregando consigo não só o contexto de financiamento dos filmes, como também a própria dinâmica de fabricação de confiança que a circulação do dinheiro apresenta na sociedade.
No presente trabalho, propõe-se então uma reflexão sobre a intersecção entre moeda e crença nas imagens do cinema, com ênfase na abordagem teológica. Mas precisamente, embasamos a discussão nas ideias de Marie-José Mondzain (2013), que analisa a iconografia no Império Bizantino e suas implicações econômicas e de Giorgio Agamben (2011), que pesquisa a gênese da economia (oikonomia) e do governo soberano na esfera da teologia. A genealogia da discussão, permite ainda compreender formas mais ancestrais da circulação de moedas, como o estudo de Mauss sobre o papel da dádiva, objeto de circulação de valor espiritual entre povos da polinésia.
Entendemos ser possível investigar a dimensão religiosa da “imagem-dinheiro” no cinema se valendo da análise de traços formais e icônicos recorrentes entre imagens nas esferas pagã e cristã, inspirado nos estudos de Aby Warburg sobre a inversão e reincidência de gestos expressivos (2013). Também a dimensão de metalinguagem no cinema, refletindo a defasagem entre o roteirizado e o executado, e sendo permeada pelos recursos estéticos que remetem ao contexto financeiro de produção, se faz um elemento valioso para a análise aqui proposta.
A partir do filme À Margem da Imagem (2002), de Evaldo Mocarzel, documentário de caráter reflexivo sobre os moradores de rua de São Paulo e a exploração econômica de suas imagens, analisaremos desdobramentos de sentido que podem ser apreendidos nos filmes a partir da ética que adotam para filmar os sujeitos. Compreende-se aqui o viés religioso da ontologia da imagem, em especial na representação da pobreza e as formas-de-vida que operam como “moedas vivas” (Klossowski, 2008) na tela, tendo seus corpos como instância de troca e aglutinação de valor.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. O Reino e a Glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. São
Paulo: Boitempo, 2011.
CAVA, Bruno; COCCO, Giuseppe. A vida da moeda: crédito, imagens e confiança. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2020
DELEUZE, Gilles. Cinema 2: a imagem-tempo. São Paulo: Ed. 34, 2018
JORGE, M. S. O cinema e a imagem verdadeira. ARS (São Paulo), [S. l.], v. 11, n. 22, p. 99-120, 2013.
KLOSSOWSKI, Pierre. A Moeda Viva. Lisboa: Ed. Antígona, 2008
MICHAUD, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Tradução de Sibylle Muller. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
MONDZAIN, Marie-José. Imagem, ícone, economia. As fontes bizantinas do imaginário contemporâneo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.