Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Félix Pereira Moura (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutorando do PPGCOM da ECO UFRJ. Atualmente estuda as imbricações entre moeda e imagem, partindo de intercruzamentos entre teoria monetária, economia política e ontologia cinematográfica. Possui graduação em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. No mestrado, Desenvolveu pesquisas sobre a temática do trabalho no cinema brasileiro contemporâneo. No audiovisual, desempenha funções técnicas nas áreas de direção, fotografia e tratamento de imagem.

Ficha do Trabalho

Título

    Assim na tela como no céu: teologia e ontologia da imagem cinematográfica a partir da oikonomia

Resumo

    O trabalho propõe uma reflexão sobre a interseção entre moeda e crença nas imagens do cinema, com foco na abordagem teológica. Utilizando a noção de “imagem-dinheiro” de Deleuze, busca-se analisar como o contexto financeiro e a confiança circulam nas produções cinematográficas. A análise, de natureza interdisciplinar, se embasa nas teorias de Marie-José Mondzain, Agamben e Warburg, investigando traços formais e iconográficos no cinema, especialmente no filme À Margem da Imagem (2001)

Resumo expandido

    Em artigo de 2013, Marina Soler Jorge expõe resultado de uma pesquisa empírica feita com espectadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que demonstrava que a grande maioria (mais de 80%) da amostragem acreditava que o cinema “reproduzia a realidade”. No decorrer dessa mesma publicação, a autora resgata a discussão sobre ontologia do cinema consolidada em texto de André Bazin e traz Hans Belting como referência para enveredar pelo campo da relação entre a ideia de imagem verdadeira e a religião, em especial o cristianismo.
    Para além do campo do cinema, a representação de temas sagrados por meio de imagens tem sido tema de discussões importantes no campo da história da arte, da teologia, da filosofia, da política e da economia política. Considerando o atravessando interdisciplinar do debate, propomos aqui desenvolver a reflexão entre crença e credibilidade das imagens do cinema se valendo da noção de imagem-dinheiro, termo cunhado por Deleuze em Imagem-Tempo (2018) e que concebe a moeda como a face avessa das imagens projetadas na tela do cinema, carregando consigo não só o contexto de financiamento dos filmes, como também a própria dinâmica de fabricação de confiança que a circulação do dinheiro apresenta na sociedade.
    No presente trabalho, propõe-se então uma reflexão sobre a intersecção entre moeda e crença nas imagens do cinema, com ênfase na abordagem teológica. Mas precisamente, embasamos a discussão nas ideias de Marie-José Mondzain (2013), que analisa a iconografia no Império Bizantino e suas implicações econômicas e de Giorgio Agamben (2011), que pesquisa a gênese da economia (oikonomia) e do governo soberano na esfera da teologia. A genealogia da discussão, permite ainda compreender formas mais ancestrais da circulação de moedas, como o estudo de Mauss sobre o papel da dádiva, objeto de circulação de valor espiritual entre povos da polinésia.
    Entendemos ser possível investigar a dimensão religiosa da “imagem-dinheiro” no cinema se valendo da análise de traços formais e icônicos recorrentes entre imagens nas esferas pagã e cristã, inspirado nos estudos de Aby Warburg sobre a inversão e reincidência de gestos expressivos (2013). Também a dimensão de metalinguagem no cinema, refletindo a defasagem entre o roteirizado e o executado, e sendo permeada pelos recursos estéticos que remetem ao contexto financeiro de produção, se faz um elemento valioso para a análise aqui proposta.
    A partir do filme À Margem da Imagem (2002), de Evaldo Mocarzel, documentário de caráter reflexivo sobre os moradores de rua de São Paulo e a exploração econômica de suas imagens, analisaremos desdobramentos de sentido que podem ser apreendidos nos filmes a partir da ética que adotam para filmar os sujeitos. Compreende-se aqui o viés religioso da ontologia da imagem, em especial na representação da pobreza e as formas-de-vida que operam como “moedas vivas” (Klossowski, 2008) na tela, tendo seus corpos como instância de troca e aglutinação de valor.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. O Reino e a Glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. São
    Paulo: Boitempo, 2011.
    CAVA, Bruno; COCCO, Giuseppe. A vida da moeda: crédito, imagens e confiança. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2020
    DELEUZE, Gilles. Cinema 2: a imagem-tempo. São Paulo: Ed. 34, 2018
    JORGE, M. S. O cinema e a imagem verdadeira. ARS (São Paulo), [S. l.], v. 11, n. 22, p. 99-120, 2013.
    KLOSSOWSKI, Pierre. A Moeda Viva. Lisboa: Ed. Antígona, 2008
    MICHAUD, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Tradução de Sibylle Muller. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
    MONDZAIN, Marie-José. Imagem, ícone, economia. As fontes bizantinas do imaginário contemporâneo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.