Ficha do Proponente
Proponente
- Lúcia Ramos Monteiro (UFF)
Minicurrículo
- Lúcia Ramos Monteiro é professora do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e integra os programas de pós-graduação em Cinema e Audiovisual da UFF e em Meios e Processos Audiovisuais da USP. Está entre os organizadores do livro ‘Fordlândia. Suspended Spaces # 5’ (Relicário, 2023). Suas pesquisas atuais são voltadas para os estudos de roteiro, a ecocrítica, o cinema geológico e os cinemas amazônicos.
Ficha do Trabalho
Título
- Sons humanos e mais que humanos nos cinemas amazônicos
Seminário
- Estudos Comparados de Cinema
Resumo
- Este trabalho interroga a presença de sons humanos e mais que humanos em filmes de floresta, vistos sob a perspectiva do Antropoceno. A intenção é investigar os sons produzidos por máquinas, por animais, pela vegetação e por outros seres em filmes como “A Febre” (Maya Dá-Rin, 2019), “Curupira Bicho do Mato” (Felix Blume, 2018), “Mãri Hi” (Morzaniel Iramari, 2023) e “Suraras” (Barbara Marcel, 2024).
Resumo expandido
- Dentro do campo da comparatística, os estudos comparados de cinema operam na análise de conjuntos de filmes a partir dos quais são identificados contrastes e semelhanças, iluminam-se tendências e verificam-se hipóteses, como na proposta das constelações (SOUTO, 2020). De modo geral, predomina a atenção a motivos visuais ou a tropos narrativos. Neste trabalho, pretendemos colocar em evidência primordialmente aspectos da banda sonora.
Em filmes realizados na região amazônica nos últimos anos, interrogamos a presença de sons humanos, não humanos e mais que humanos, vistos sob a perspectiva do Antropoceno – ou Chthuluceno, para empregar o termo proposto por Donna Haraway. A intenção é investigar os sons produzidos por máquinas, por animais, pela vegetação e por outros seres em filmes como “A Febre” (Maya Dá-Rin, 2019), “Curupira Bicho do Mato” (Felix Blume, 2018), “Mãri Hi” (Morzaniel Iramari, 2023) e “Suraras” (Barbara Marcel, 2024).
A expressão “mais que humanos” faz referência ao trabalho da antropóloga Anna Tsing (2021), que coordenou uma rede de pesquisadores em torno do Atlas Ferral, um projeto que identifica as escalas e as estruturas de diferentes fenômenos atualmente em curso no planeta.
Observamos, em filmes amazônicos, uma atenção peculiar à banda sonora, que não raro enfatiza elementos não visíveis, presentes no fora de campo, ou seja, dá a ouvir elementos de qualidade acusmática (SCHAEFFER, 1993). Felippe Müssel, autor da banda sonora de “A Febre”, estuda a questão em um artigo (2024), no qual dialoga com Steven Feld e com a “acustemologia” (2018; 2020). A expressão, proposta por Feld, é formada pela união entre acústica e epistemologia, reconhecendo “os impactos profundos dos humanos sobre as outras espécies e vice-versa” (FELD, 2020, p. 207). Interessa-nos, desse modo, pensar as consequências sonoras de conceitos como co-habitação e sociabilidade inter-espécies, a partir das experiências desenvolvidas pelos filmes em estudo.
Bibliografia
- FELD; S. “Alternativas pós-etnomusicológicas: a Acustemologia”. PROA Revista De Antropologia E Arte, 2(10), 193-210, 2020. Disponível em .
FELD; S. “Uma acustemologia da floresta tropical”. ILHA v. 20, n. 1, p. 229-252, junho de 2018. Disponível em: .
MÜSSEL, Felippe. “Quem viu não voltou”. Interin, 29 (2), p. 141-154 (2024).
SCHAEFFER, P. Tratado dos Objetos Musicais. Brasília: EdUnB, 1993
SOUTO, Mariana. “Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema”. Galáxia, n. 45, 2020.
TSING, Anna. “O Antropoceno mais que humano”. Ilha, v. 23, n.1, 2021.