Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ (ESPM – Rio)

Minicurrículo

    Marcela Soalheiro é doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO (2022). Mestra em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2014). Bacharela em Comunicação Social, habilitação em Cinema, pela Universidade Federal Fluminense (2011). É professora na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio), no curso de Cinema e Audiovisual. Pesquisa os seguintes temas: cinema e audiovisual; literatura; intertextualidades; intermidialidades.

Coautor

    Lucas Waltenberg (ESPM Rio)

Ficha do Trabalho

Título

    O que faz de Wicked um filme queer?

Seminário

    Tenda Cuir

Resumo

    Neste trabalho, propomos uma leitura do filme Wicked (2024) através de uma lente queer, observando a presença de referências narrativas e estéticas oriundas do universo ficcional de O mágico de OZ que são atualizadas pelo filme, em uma construção longeva de significados associados a esse universo, mobilizando os afetos da comunidade LGBTQIA+ por se articular em diversas instâncias a um imaginário queer.

Resumo expandido

    O filme Wicked, cuja primeira parte foi lançada em 2024, é fruto de um processo intertextual e adaptativo da peça de teatro musical homônima que, por sua vez, é uma releitura do livro de Gregory Maguire, autor que reinventou as histórias e personagens do universo de O Mágico de Oz, criados por L. Frank Baum.

    Neste trabalho, propomos uma leitura do filme através de uma lente queer. Uma leitura que, ainda que não seja inédita em sua essência (Wolf, 2008; Raab, 2012), nos permite vislumbrar uma construção longeva de significados associados ao universo de o Mágico de Oz, de seu impacto midiático e da potência de personagens e cenários que mobiliza os afetos da comunidade por se articular em diversas instâncias a um imaginário queer.

    Sendo assim, pretendemos investigar algumas marcas que fazem de Wicked um filme queer, observando a presença de referências narrativas e estéticas oriundas do universo ficcional de O mágico de OZ que são atualizadas pelo filme e serão reconhecidas por uma comunidade engajada no teatro musical.

    A nossa hipótese central é que chegamos à peça musical e ao filme com essas centelhas que aparecem de forma expressiva no filme e interferem tanto na apresentação da obra quanto na recepção, criando um ponto de diálogo entre a história e experiências queer. A construção do mundo (Wolf, 2012), cenários, a narrativa, figurinos e músicas são extravagantes, camp, com uma “sensibilidade gay” (Bronski, 1984), certo apelo drag e subtextos que nos permitem investigar a construção dessas marcas como pistas que, ao longo de quase um século, foram se firmando para fazer de Wicked um filme queer.

    Em Wicked, a narrativa explora o arco de protagonismo da Bruxa Má do Oeste, nomeada Elphaba, desde quando era uma criança rejeitada pela família, depois uma estudante e, por fim, após se envolver em um conflito com o poderoso – e charlatão – Mágico de Oz, recebe a alcunha pela qual passa a ser conhecida e torna-se uma ameaça à vida em Oz. Vítima de uma campanha de difamação e uma série de desventuras, Elphaba vê-se presa em uma teia de poderes políticos – e mágicos – os quais não consegue controlar e tem como única aliada Glinda, a bruxa considerada boa.

    A amizade entre as duas é um dos pontos centrais da reinvenção que, ao contrário do que aprendemos com o Mágico de Oz original, é construída nos bastidores, de forma que, para a população da fictícia Oz, a relação entre elas ainda seja vista como uma de animosidade.

    Para isso, é importante traçar um percurso genealógico que, à luz das teorias da adaptação (Stam, 2006) para fins de contexto e da relação entre mulheres e bruxaria (Russel & Alexander, 2019), contemple brevemente a obra o Mágico de Oz e sua principal adaptação para o cinema, em 1939. Em seguida, o trabalho investiga a elevação de Judy Garland, intérprete de Dorothy, a um ícone gay (Rodrigues, 2019) para, então, chegar à releitura de Gregory Maguire que, intencionalmente, faz referências a questões queer quando, por exemplo, personagens atribuem a vilania de Elphaba a uma sexualidade mal resolvida. Para além disso, o autor cria também uma tensão sáfica entre as personagens principais, que transitam entre a amizade profunda e uma espécie de amor platônico, o qual transcende a satisfação sexual, que não chega a acontecer. Tal tensão é, inclusive, suavizada no musical, o que abre uma nova leva de questões a serem debatidas.

    Por fim, Wicked vai atualizar e mobilizar esse repertório num momento político conservador, evidenciando a contínua necessidade de iluminarmos as potências de encontros, reencontros e leituras que seguem ressoando nos corpos e sensibilidades queer.

Bibliografia

    Bronski, Michael. Culture clash: the making of a gay sensibility. Boston, MA: South End Press, 1984.

    Moreira, M. Judy Garland, um Ícone Gay: uma análise às suas canções e danças. Bagoas – Estudos gays: gêneros e sexualidades, [S. l.], v. 13, n. 20, 2019. Disponível em: . Acesso em: 3 abr. 2025.

    Raab, Doris. From book to Broadway: Elphaba’s gender ambiguity and her journey into heteronormativity in Wicked. Studies in Musical Theatre, vol. 5, issue 3, jan. 2012, pp. 245–256

    Russel, Jeffrey B. & Alexander, Brooks. História da bruxaria. São Paulo: Aleph, 2019.

    Stam, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. In: Ilha do Desterro: Film Beyond Boundaries. Florianópolis: Editora UFSC n. 51, p. 019-053, 2006

    Wolf, Mark JP. Buliding imaginary worlds: the theory and history of subcreation. New York, NY: Routledge, 2012.

    Wolf, Stacy Ellen. “Defying gravity”: queer conventions in the musical Wicked. Theatre Journal, vol. 60, n. 1, mar. 2008, pp. 1–21