Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Ignês carlos Magno (UAM)
Minicurrículo
- Professora permanente do PPGCOM em Comunicação Audiovisual da Universidade Morumbi. Pós-doutorado junto a ESPM/SP sob a supervisão da Profa. Dra. Maria Aparecida Baccega. Pesquisadora da Rede de pesquisadores do Obitel/Brasil/Anhembi Morumbi. É membro da Editoria Científica da Revista MatriZes. Autora da seção Resenha-Cinema da revista Comunicação & Educação da ECA/USP. Desenvolve pesquisa na área da Comunicação, com ênfase em Comunicação Audiovisual, Crítica, História da Cultura.
Ficha do Trabalho
Título
- História. Cinema. HQ. Tex Willer e Doc Holliday pelas mãos de Mauro Boselli e Laura Zuccheri
Resumo
- John H. Holliday, vulgo Doc, dentista, jogador e pistoleiro, é uma personagem conhecida nas crônicas, quadrinhos e filmes do Velho Oeste. Tex Willer é a personagem da HQ Tex que representa um ranger do exército dos EUA. Mauro Boselli é roteirista e Laura Zuccheri é desenhista. A Vingança de Doc Holliday escolhida para estudo tem por objetivo observar como o roteirista se apropriou de fatos, lendas, filmes e recriou as personagens nessa HQ e, como Laura concebeu e ilustrou o roteiro de Boselli.
Resumo expandido
- Giovanni Luigi Bonelli, foi o criador da personagem Tex Willer. Aurélio Galeppinni (Galepo) foi o criador gráfico do herói texano, que desde os anos 1948 até os dias atuais representa um ranger nas histórias do HQ Tex. Rangers que no contexto da história dos Estados Unidos foram criados pelo governador Stephen F. Austin em 1823 para proteger colonos texanos das ameaças de indígenas, em especial os comanches e bandidos de ambos os lados da fronteira. As histórias de Tex Willer se situam nesse contexto das guerras entre colonos e tribos indígenas, caubóis, ladrões de manadas, conflitos entre interesses do Norte e Sul, disputas pelas terras e riquezas do chamado Oeste americano, cenário de tantas histórias e filmes que imortalizaram atores, diretores e personagens reais e lendários do Velho Oeste. Entre as personagens: John Henry Holliday mais conhecido como Doc. Doutor-dentista de formação, encrenqueiro por natureza, em 1875 na mesa de jogo Holliday mata um cidadão de Dallas. Foge, esconde-se em Jackson, envolve-se em outros tiroteios até que no verão de 1876, mata um soldado do Forte Richardson, gota d’água para o governador do Texas colocar um grande prêmio pela sua cabeça. Assim, o dentista-jogador-pistoleiro passa a ser perseguido por caçadores de recompensa e Texas Rangers. Essas e outras histórias sobre Holliday foram contadas em quadrinhos, literatura local, seriados e filmes. Os filmes: Paixão dos Fortes (1946) de John Ford em que Doc é vivido por Victor Mature; em Sem lei e Sem Alma (1957) de John Sturges, Doc é interpretado por Kirk Douglas; Doc Holliday (1971) dirigido por Frank Perry, são alguns exemplos. Do seriado The Life and Legend of Wayt Earp (1955) ao atual Wyatt Earp and The Cowboy War (2024), de Patrick Reams a figura e os feitos de Holliday até o lendário duelo ocorrido em O.K. Corral, que durou apenas trinta segundos, são constantes nos Westerns. E o ranger Tex Willer não podia ficar fora dessa história. Mas, diferentemente das ficções sobre a personagem Doc, nessa ficção escrita por Boselli e desenhada por Laura Zuccheri, os rangers Tex e kit Carson, tentam descobrir quem estava por trás dos crimes cometidos por um dentista e atribuídos a Holliday. Esse é um dos aspectos que me chamou a atenção para A Vingança de Doc Holliday. Não só a narrativa era de outra ordem, como a maneira que Boselli se apropriou de fatos, lendas e filmes sobre a vida de Holliday e a forma como foi trançando num roteiro original a presença e a atuação dos rangers, mais propriamente da personagem Tex Willer, quase tão velho quanto os Westerns, se considerarmos que nasceu em 1948. E se pensarmos na idade da personagem e do HQ Tex é impossível não perguntarmos a causa de um gibi sobre faroeste, ambientado naqueles quadros geográficos, nas paisagens, nas brigas e cavalgadas durar tanto tempo, como não perguntarmos por que os filmes de Westerns ainda estão presentes em nossos dias com tantos fãs do gênero? Impossível não lembrar das explicações de Bazin (1991,p:201) sobre o fato do gênero se manter vivo até hoje: “O Western surgiu do encontro de uma mitologia com um meio de expressão: a Saga do Oeste existia antes do cinema nas formas literárias ou folclóricas […]”.Ou Borges (2000,p:60), ao falar da necessidade que temos de épica: “mais do que outro lugar […], foi Hollywood que abasteceu o mundo de épica. Por todo o globo quando as pessoas assistem a um faroeste – observando a mitologia de um cavaleiro, e o deserto, e a justiça, e o xerife, e os tiroteios, etc – imagino que resgatem o sentimento épico[…]”.Do roteiro de Boselli à criação gráfica de Zuccheri podemos observar porque a “HQ é uma HQ com aberturas formais e intervenção gráfica” (Dias-Pino,1965)e a aproximação com o cinema, na sucessão de diferentes planos, cortes dinâmicos, uso da luz, nos truques da continuidade de movimentos. Se podemos dizer A Vingança de Doc Holliday é literatura de expressão gráfica, desenhada à luz do cinema.
Bibliografia
- BAZIN, André. O Western ou o cinema americano por excelência, in: O Cinema. Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991, p:201.
BARBIERI, Luca. Um Homem e seu Destino. In: Tex Gigante. São Paulo: Mythos Editora Ltda, n. 34, outubro, 2019, p: 11.
BORGES, Jorge Luis. O Narrar uma História. In: Esse Ofício do Verso. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p:60.
BOSELLI, Mauro. ZUCCHERI, Laura. A Vingança de Doc Holliday. In: Tex Gigante, São Paulo: Mythos Editora Ltda, n. 34, outubro 2019.
DIAS-PINO, Waldemar. Quadrinhos: uma tatuagem projetada na pele suada da arte. In: Revista de Cultura Vozes, V.LXV, n. 4, maio 1971, ano 65, pp:307-310.