Ficha do Proponente
Proponente
- MARTA CORREA MACHADO (UFSC)
Minicurrículo
- Marta Corrêa Machado é professora adjunta do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina, com doutorado em Administração Pública pela FGV/EAESP e mestrado em Administração de Empresas pela FEA/USP. Estúdios de animação, as pessoas na indústria criativa e a gestão de projetos e empresas do setor audiovisual são alguns de seus temas de interesse. Esta pesquisa foi financiada pelo SPCine e contemplada em um dos editais da Lei Paulo Gustavo de 2023.
Ficha do Trabalho
Título
- As pessoas em estúdios de animação e as mudanças na indústria criativa brasileira em uma década
Resumo
- Este estudo dá continuidade a uma pesquisa de 2012. Verificou-se que, naquele momento, a retenção dos colaboradores em estúdios de animação se dava mais pela identificação com as atividades e o ambiente de trabalho do que pelas recompensas financeiras. Treze anos depois, os achados apontam para o crescimento do setor, a maior mobilidade dos colaboradores entre estúdios e as dificuldades de retenção destes, já que o mercado brasileiro vem perdendo talentos para produções estrangeiras.
Resumo expandido
- Na primeira incursão deste trabalho ao campo, realizada em 2012 como minha dissertação de mestrado (MACHADO & FISCHER, 2017), foi possível perceber que as práticas de gestão de pessoas em estúdios de animação brasileiros eram quase inexistentes, sendo um aspecto pouco valorizado pelos gestores. Os estúdios eram estruturas pequenas e as equipes administrativas limitadas aos aspectos financeiros básicos. Do ponto de vista dos colaboradores entrevistados, a relação com os conteúdos realizados e a capacidade de interferir criativamente no resultado final da obra eram pontos considerados importantes para a continuidade nos postos de trabalho. Os achados também confirmavam o que a literatura sobre indústria criativa apontava: a recompensa financeira, naquela época, era menos importante para os colaboradores que a realização artística e o reconhecimento social pelo trabalho realizado (EIKHOF e HAUNSCHILD, 2007). Nesse sentido, a dicotomia entre a realização artísticas e os objetivos comerciais nesses ambientes produtivos era minimizada pela satisfação artística e criativa dos colaboradores. Projetos de cunho meramente comerciais ou de prestação de serviços eram vistos pelos gestores como um trampolim para um momento futuro, quando seria possível manter o estúdio apenas com criação de propriedade intelectual própria.
Entre os gestores entrevistados em 2012, parecia predominar uma consideração maior pelo trabalho criativo nos projetos do que pela gestão. As questões administrativas eram um fardo necessário a ser carregado e menos nobre que a criação de conteúdos em si. Sobrecarregados em sua maioria, apontavam que a estrutura financeira dos projetos não comportava a contratação de colaboradores que se dedicassem a aspectos específicos da administração, como a gestão de pessoas. Embora percebessem as pessoas como um dos recursos mais importantes em seu negócio, esses administradores não entendiam a gestão de pessoas como um elemento chave para a motivação e retenção de talentos. Já os colaboradores entrevistados assinalavam como pontos negativos do trabalho nos estúdios a ausência de benefícios trabalhistas e a incerteza quanto ao futuro da organização e de sua carreira. Como pontos positivos relacionados ao pequeno tamanho das produtoras, apontavam o clima familiar e informal e a proximidade entre gestores e colaboradores.
Desde aquela primeira abordagem do tema, uma nova literatura surgiu em diversos países sobre os estúdios de animação. Alguns textos anteriores, que não eram facilmente encontrados, passaram a ser indexados pelas plataformas e tornaram-se acessíveis. Essa literatura cresceu e se diversificou, sendo possível perceber que boa parte dos dilemas enfrentados no Brasil são também aqueles de estúdios da Coréia do Norte, Filipinas, Colômbia, Itália (DELMESTRI, 2002; TSCHANG & GOLDSTEIN, 2010; YOON, 2018; SUÁREZ & GARCIA, 2016), entre outros. Naquele momento anterior, utilizamos a literatura sobre a gestão de pessoas em pequenas empresas e na indústria criativa de forma geral como referência para montar as variáveis de observação do trabalho, já que os quatro estúdios que compunham o estudo de casos múltiplos tinham esse perfil. Nesse novo estudo, a revisão da literatura se concentra nos artigos sobre as empresas de animação especificamente, ainda que em contextos culturais diferentes, levantando os aspectos que trazem sobre as pessoas nesses estúdios.
Os achados agora apontam para o crescimento do setor, a maior mobilidade dos colaboradores entre projetos e estúdios e as dificuldades de retenção destes, já que o mercado brasileiro vem perdendo talentos para produções estrangeiras desde a adoção do trabalho remoto em larga escala durante a pandemia de COVID-19. O formato de contratação por projeto e a instabilidade no fluxo de financiamento à produção são fatores que apareciam na pesquisa anterior e persistem no campo, colaborando para a dificuldade de fixação da mão de obra em produtoras nacionais.
Bibliografia
- DELMESTRI, G. An Arabian Phoenix: Trust, Cooperation and Performance in the Italian Animated Cartoons Industry. Rochester, NYSocial Science Research Network, jun. 2002. EIKHOF, D. R.; HAUNSCHILD, A. For art’s sake! Artistic and economic logics in creative production. Journal of Organizational Behavior, v. 28, 2007.
MACHADO, M. C.; FISCHER, A. L. Gestão de pessoas na indústria criativa: o caso dos estúdios de animação brasileiros. Cadernos EBAPE.BR, v. 15, n. 1, mar. 2017.
SUÁREZ, P. A. E.; GARCÍA, M. M. V. Diagnóstico y propuesta de buenas prácticas para la industria de animación digital colombiana. Kepes, v. 13, n. 14, jul. 2016.
TSCHANG, F. T.; GOLDSTEIN, A. The Outsourcing of “Creative” Work and the Limits of Capability: The Case of the Philippines’ Animation Industry. IEEE Transactions on Engineering Management, v. 57, n. 1, fev. 2010.
YOON, H. Do higher skills result in better jobs? The case of the Korean animation industry. Geoforum, v. 99, fev. 2018.