Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Isabelle do Pilar Mendes (UFRGS)

Minicurrículo

    Comunicadora Social integra o Grupo de Pesquisa Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC), o Grupo de Pesquisa Agenciamentos da Imagem (GPAGI) e o projeto “O pensamento político em imagens de ocupação urbana no Brasil”, no PPGCOM/UFRGS, e o Laboratório de Experiências Metodológicas na Comunicação (LEME) e o projeto “Ser mulher e pesquisadora no campo da comunicação: entre papéis sociais e desigualdades na esfera do trabalho e da produtividade acadêmica”, no PPGCOM/UFSM. isa.pmendes2@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    O pensamento cinematográfico corporificado de Maya Deren no cinema latino feito por mulheres

Seminário

    Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema

Resumo

    A pesquisa analisa a expressão de mulheres no cinema experimental latino-americano contemporâneo nos filmes É noite na América (2022) e Mujeres para la otra danza (2024). Com base no conceito de realismo de Maya Deren, investigamos como as cineastas criam as suas visualidades ao conectarem os seus corpos as suas experiências e aos locais que habitam e indagamos como podemos elaborar imagens que articulem de maneira crítica temporalidade e natureza em movimentos estéticos anti-hegemônicos.

Resumo expandido

    A presente pesquisa tem como proposta a análise da expressão de mulheres no cinema experimental latino-americano contemporâneo. Para isso, investigamos o processo de criação de cineastas que entendemos ser fruto de uma necessidade (Deleuze, 1999), estar conectado à maneira como elas processam as suas experiências. Por se tratar de uma questão de forma de expressão, trazemos como base teórica o conceito de realismo de Maya Deren, reconhecida como uma precursora do cinema experimental, em seus ensaios sobre cinema compilados por Martínez (2015). Para Deren, o realismo cinematográfico está relacionado a um “ato de tornar realidade” (Deren, 1947) o que a posiciona a partir de uma concepção não representativa: a questão em sua elaboração parte da questão de como imagens que contêm a qualidade da experiência podem ser criadas. Por isso, o experimentalismo para a autora é exercido como uma maneira de testar e engendrar a linguagem cinematográfica para além dos padrões do cinema hegemônico, como os da Hollywood dos anos 50, feitos simultaneamente a sua filmografia. Podemos analisar como ela expressa o seu conceito em seu filme Meshes of the Afternoon (1943), que tem ações e um espaço-tempo cíclico – que repete e difere -, objetos que se movimentam como se fossem dotados de vida e deslocamentos anti-naturais, formulados com técnicas cinematográficas como movimentos de câmera, que foram realizados com um corpo-câmera tripé que se movimentava em conjunto aos movimentos da personagem que realizava a ação (Deren, 1946). Para aproximarmos a lógica cinematográfica inventiva de Deren do local no qual estamos situados enquanto pesquisadores, analisamos dois filmes experimentais de cineastas latino-americanas contemporâneas que pela nossa análise realizam movimentos semelhantes. É noite na América (2022) foi dirigido, editado e sonorizado por Ana Vaz e nele vemos uma denúncia da relação abusiva do homem com a natureza através da interferência das construções urbanas na vida dos animais que perdem o seu habitat natural, são atropelados e após enjaulados em centros de recuperação e zoológicos. Vaz cria, a partir da técnica de imagem da “noite americana”, um cenário noturno brasileiro em uma torção estética crítica da lógica predatória e cinematográfica humana. Mujeres para la otra danza (2024) foi dirigido por Ximena Quiroz Peters e nele vemos sete mulheres que dançam ao redor do mundo em imagens-fragmentos movimentadas como se fossem colagens em cenários que são paisagens naturais, como as em que Deren criou em Meshes…. Assim como Stengers (2015) vê no fazer científico experimental a possibilidade para a realização de uma metacrítica de métodos científicos estagnados pela cristalização predatória capitalista dos meios de conhecimento, vemos no cinema experimental uma possibilidade de deslocamento de visualidades cinematográficas. Por isso, a pesquisa é interdisciplinar-rizomática (Stenger, 2017), pois se desenvolve a partir de um pensamento que entrelaça o desenvolvimento científico vivificado ao pensamento sobre a imagem. A partir da Teoria de Cineastas podemos pensar a criação cinematográfica como um ato teórico, pois os cineastas para realizarem os seus filmes têm de refletir sobre eles (Aumont, 2008), e como um gesto que remete e atualiza a ontologia do cinema através da inovação formal que os filmes apresentam (Rui Graça, Tulio Baggio e Penafria, 2015). Os filmes analisados são frutos da resistência e da subversão de mulheres latino-americanas. Neles elas criam realidades cinematográficas nas quais os seus corpos realizam, por meio de sua materialidade, visualidades únicas em conjunto ao ambiente que habitam. Com eles, conjecturamos sobre a maneira como vivemos a nossa temporalidade em conjunto à natureza e indagamos como podemos elaborar imagens orgânicas que construam realidades ecológicas, que não excluam o que é cambiante, natural e experiencial em prol de modos de fazer enquadrantes, não refletidos e destrutivos.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria? Revista Educação e Realidade, v.33, n.1, p. 21-34, jan-jun. 2008.

    DELEUZE, Gilles. O ato de criação. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 jun. 1999.

    MARTÍNEZ, Carolina. El universo Dereniano: textos fundamentales de la cineasta Maya Deren. Cuenca: Ediciones de La Universidad de Castilla – La Mancha, 2015.

    RUI GRAÇA, André; TULIO BAGGIO, Eduardo; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, Curitiba, v. 12, n. 1, 2015. DOI: 10.33871/19805071.2015.12.1.1408.

    STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes – resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

    STENGERS, Isabelle. Reativar o animismo. Trad. Jamille Pinheiro Dias. Caderno de Leituras. n. 62. p. 1-15. Belo Horizonte: Chão de Feira, 2017.