Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Sancler Ebert (PPGCine-UFF/FMU)

Minicurrículo

    Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF) com período sanduíche na Universidade Nova de Lisboa; professor do Centro Universitário FMU/FIAM-FAAM e secretário executivo da Socine. Membro do grupo de pesquisa Modos de Ver – Estudos das salas de cinema, exibição e audiências cinematográficas (ESPM-UFF/CNPq). Cocriador da base de dados historiasdecinemas.com.br. Além da Socine, é associado da ABPA, AsAECA, AIM e Domitor.

Ficha do Trabalho

Título

    De menino no cinema a empresário do cinema: resgatando a trajetória de Generoso Ponce Filho

Mesa

    Pioneiros do cinema brasileiro: biografias, trajetórias e redes de sociabilidade

Resumo

    Nesta comunicação analisamos a trajetória de Generoso Ponce Filho (1898–1972) como empresário do cinema brasileiro, aspecto pouco lembrado de sua atuação. A partir de arquivos e livro autobiográfico, resgatamos sua relação com o cinema: da infância como espectador, passando pela atuação como cronista, até sua consolidação como proprietário de salas, produtor e presidente da Aliança dos Exibidores, destacando sua relevância na história da exibição cinematográfica no Brasil.

Resumo expandido

    Nesta comunicação vamos resgatar a trajetória de Generoso Ponce Filho (1898-1972) como empresário do cinema brasileiro. Pouco lembrado a partir deste recorte, Ponce Filho é comumente conhecido por seus cargos políticos vinculados ao estado do Mato Grosso na primeira metade do século XX. Neste trabalho, utilizaremos a pesquisas em arquivos e em um livro autobiográfico para analisar a presença do cinema na vida de Ponce Filho. Primeiro, como espectador na infância e adolescência, depois passando por sua experiência como cronista em periódicos, e finalizando com o momento em que assume a posição de empresário do cinema na década de 1920, tornando-se proprietário de salas de cinema, investindo na produção de filmes e presidindo a Aliança dos Exibidores.

    A importância de retomar o nome de Ponce Filho como um pioneiro do cinema brasileiro se justifica pela necessidade de reconhecermos nomes esquecidos ao longo da História e que foram importantes para o cinema em seu início. O pouco conhecimento em torno de figuras como a de Generoso se dá pelo foco dado aos filmes e seus autores pelas pesquisas sobre a História do Cinema, conforme aponta Bernardet (2008) ao falar da historiografia do cinema brasileiro. O autor indica a necessidade de se pensar para além dessa visão, abarcando principalmente a exibição cinematográfica. Nos últimos anos, de forma mais evidente, estão sendo ampliadas as pesquisas sobre exibição e distribuição (FREIRE, 2022) dentro de uma perspectiva que Vieira (2021) tem chamado de histórias de cinemas. Nesta abordagem as investigações se debruçam sobre a espectatorialidade, as salas de cinema como espaços de sociabilidade e os profissionais ligados à exibição e distribuição cinematográfica, entre outros recortes.

    Filho de um dos mais proeminentes políticos do estado do Mato Grosso, de quem herdou não apenas o nome, mas também a carreira, Ponce Filho narra no livro autobiográfico “O menino que era eu”, sua infância e adolescência, o que nos permite entender seus contatos iniciais com o cinema. Ao longo dos anos ele foi cronista de periódicos como Correio da Manhã, O Globo, A Nação, A Batalha e A Scena Muda, em muitos dos quais escreveu sobre cinema. Sua ligação com a imprensa era tão forte que ele fundou e dirigiu a revista semanal de estudos sociais e políticos “Vida Nacional” (CPDOC FGV).

    No entanto, a ligação de Ponce Filho com o cinema cresceu ao longo dos anos, porque ele se tornou proprietário de cinematógrafos no Rio de Janeiro e em São Paulo, chegando a dirigir 14 casas do gênero no Rio de Janeiro. A propriedade das salas muitas vezes era compartilhada com outros empresários, como no caso do Cinema Parisiense. Localizado na Avenida Rio Branco, principal endereço dos cinemas da Capital Federal, o Parisiense foi arrendado por Generoso e seu irmão Altamiro Filho, donos da Ponce & Irmão. Outra sociedade na qual participou foi na Frota, Ponce, Caruso & Cia (A Noite, 13 de julho de 1923, p. 2), empresa que passou a ter a direção dos cinemas America, Tijuca, Velo, Haddock Lobo (todos da Tijuca), Oriente (Olaria) e Ramos (no bairro de mesmo nome) (EBERT, 2024).

    Foi a frente do Parisiense que Ponce Filho se envolveu na produção de filmes, quando financiou a comédia “Augusto Annibal quer casar” (1923), de Luiz de Barros, protagonizada pelo comediante Augusto Annibal e o transformista Darwin. O filme estreou no cinema dos irmãos Ponce e teve um circuito por diversas salas da Capital e por outros estados.

    O lado político de Ponce Filho se mostrou antes mesmo de ele assumir cargos pelo estado do Mato Grosso. Com apenas 23 anos, ele foi eleito presidente da Aliança dos Exibidores pela primeira vez, em outubro de 1921 e reeleito em dezembro de 1922 (Correio da Manhã, 02 de dezembro de 1922, p. 3). Ainda que nunca totalmente afastado do cinema, a partir da década de 1930, Ponce Filho assumiu funções políticas maiores, seguindo os passos do pai.

Bibliografia

    A Scena Muda. Disponível em
    BERNARDET, Jean Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia. São Paulo: Annablume, 2008.
    EBERT, Sancler. UMA ILUSÃO DE MODERNIDADE: A trajetória do transformista Darwin pelos cineteatros brasileiros no início do século XX. Tese. Programa de Pós-Graduação em Cinema Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, 2024.
    FGV CPDOC. Generoso Ponce Filho. Verbete. Disponível em: https://www18.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/ponce-filho-generoso.
    FREIRE, Rafael de Luna. O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-1915. Cinemateca MAM Rio, Rio de Janeiro, 2022.
    PONCE FILHO, Generoso. O menino que era eu: (memórias). Rio de Janeiro, RJ: Livraria Lançadora, 1967. 272 p.
    VIEIRA, João Luiz. Prefácio. In: BRUM, Alessandra; BRANDÃO, Ryan (Orgs.). História dos cinemas de rua de Minas Gerais. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2021.