Ficha do Proponente
Proponente
- Adriano Del Duca (não há)
Minicurrículo
- Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Bacharel em Cinema e Vídeo pela UNESPAR/FAP. Bolsista no programa IMAGO/IBERMEDIA de Oficinas Técnicas de Produção Audiovisual – Panamá. Mestre em Cinema pelo PPGCINE-UFF. É professor efetivo de Sociologia na rede estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro e atua como arte-educador audiovisual na Escola Infantil Casa Monte Alegre. Escreve na Revista Aurora de Cinema Brasileiro (auroracine.com.br).
Ficha do Trabalho
Título
- Amazonas Amazonas e Maranhão 66: documentários de Glauber Rocha e o extrativismo de imagens do povo.
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Os documentários de Glauber Rocha enunciam aspectos do barroquismo de seu discurso, reforçando contradições sociais na tensão que criam entre o que se vê e o que se escuta. A crítica social acompanha uma postura documental que extrai dos sujeitos recortes de suas experiências e as rearticula a outros elementos, tornando dissonantes os discursos sobre o povo, a política e o território. Nos interessa observar a exposição dos sujeitos, bem como a sobreposição de suas vozes pelo discurso fílmico.
Resumo expandido
- A presente comunicação se conecta com uma pesquisa mais ampla em curso sobre a produção documental do cineasta brasileiro Glauber Rocha. Tal pesquisa, desenvolvida de forma independente, objetiva realizar um panorama histórico e crítico sobre os filmes documentários de Glauber, que transitam entre curtas e longas-metragens, com abordagens e proposições estéticas bastante diversas, mas com pontos de convergência em relação ao estilo e à postura intelectual do diretor.
A partir dessa pesquisa, já foi publicado, em 2024, o ensaio “As armas e o povo”: empunhar o discurso ou deixar falar os sujeitos?” (DUCA, 2024) como capítulo do livro “Marx vai ao cinema: ensaios culturais materialistas sobre Cinema”, que integra a Coleção NIEP-MARX, pela Usina Editorial. A propósito do tema do XXVIII Encontro da SOCINE, “Olha já! Do Extrativismo de Imagens ao Cinema Amazônico” nos propomos agora esboçar aspectos parciais da análise dos dois primeiros documentários de Glauber, que se voltam justamente para a região norte do Brasil.
Por diversos aspectos, Amazonas Amazonas (Glauber Rocha, 1966) e Maranhão 66 (Glauber Rocha, 1966) são filmes interessantes no contexto geral da produção de Glauber. Cronologicamente localizam-se entre a realização de Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964) e Terra em Transe (Glauber Rocha, 1967), obras que marcaram o apogeu da carreira do então jovem cineasta baiano, representando um esforço de pesquisa imagética sobre a realidade de Brasis profundos que o cineasta pretendia representar em seu longa ficcional que era desenvolvido naquele ano de 1966.
Mas os dois documentários de curta-metragem em si mesmos também apontam importantes questões que refletem aspectos da representação do povo no cinema de Glauber, e das contradições que brotam da tensão entre as imagens extraídas da floresta, das cidades amazônicas e de seus sujeitos, com o conteúdo dos textos que conduzem a narrativa através das voz over, em Amazonas Amazonas, ou do discurso de José Sarney durante sua posse como governador, em Maranhão 66.
Dentro dos limites dessa comunicação pretendemos abordar três aspectos desses dois filmes: i) localizá-los historiograficamente na filmografia de Glauber Rocha, estabelecendo comparações com os filmes de ficção que o precedem e procedem, bem como com os documentários seguintes, de longa metragem, realizados pelo diretor; ii) compreendê-los no quadro mais geral da produção fílmica e documental do cinema novo brasileiro, pensando-o em comparação com outros documentários curtos desse mesmo período e seus modos de representação dos territórios e seus sujeitos; iii) refletir sobre a produção documental de Glauber Rocha de forma abrangente, cotejando a análise com percepções acerca de seus documentários posteriores, percebendo através da comparação, abordagens e metodologias que se repetem, movimentos em seu modo de registrar, retratar e representar o povo, momentos históricos e sujeitos dotados de poder.
Por fim, em diálogo com a proposição temática do XVIII Encontro da SOCINE, pretendemos apontar o quanto as imagens desses documentários reproduzem o extrativismo de imagens, a construção subjetiva de discursos sobre os sujeitos e o território amazônico, e a repercussão dessas imagens e discursos.
Bibliografia
- ALVIM, L. Amazonas, Amazonas de Glauber Rocha e a música de VillaLobos: representações entre passado, presente e futuro. Intercom – RBCC São Paulo, v. 44, n. 3, p.69-82, set./dez. 2021.
BENTES, Ivana (Org.) Glauber Rocha: Cartas ao mundo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1997.
DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário cinematográfico. Dissertação de mestrado apresentada a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995 (mimeo).
GIORDANI, R. Estética De Glauber Rocha E As Interfaces Com O Cinema Documentário. Travessias, Cascavel, v. 15, n. 2, p. 145-159, maio/ago. 2021.
MATTOS, Tetê. EXPERIMENTALISMO E INVENTIVIDADE NA PRODUÇÃO DOCUMENTAL DE GLAUBER ROCHA. In: VI ENECULT Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. FACOM/UFBa, 2010.
VENTURA, Tereza. A Poética Polytica de Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Funarte, 2000.