Ficha do Proponente
Proponente
- Patrícia Lindoso de Barros (UFMG)
Minicurrículo
- Artista e pesquisadora, mestre em Artes (UFMG, 2023) e bacharel em Cinema de Animação (UFPel, 2014). Em 2024, foi mediadora da roda de conversa com Autoras em Animação na 19ª CineOP e coordenadora do Dia Internacional da Animação em dez cidades do Pará. Desde 2020, integra o grupo de pesquisa Mulher Anima, investigando a participação das mulheres na animação brasileira. Desde 2022, faz parte do Grupo de Traduções em Inglês do Selvagem, ciclo de estudos fundado por Anna Dantes e Ailton Krenak.
Ficha do Trabalho
Título
- Mulheres precursoras na trajetória de cinco décadas do cinema de animação do Pará
Resumo
- Este trabalho propõe novas perspectivas para a história do cinema brasileiro, buscando incluir as mulheres e a linguagem da animação, assim como uma abrangência geográfica que considere o estado do Pará nesses estudos. Com as pesquisas do grupo Mulher Anima e de um mestrado concluído em 2023, traça-se um panorama da filmografia da animação paraense desde 1975, identificando três gerações de realizadoras que de diferentes maneiras conectaram a cinematografia do Pará ao Brasil e ao mundo.
Resumo expandido
- A percepção da escassez de registros da participação de mulheres como realizadoras na história do cinema de animação brasileiro, especialmente a partir da comemoração do centenário em 2017, suscitou uma série de questionamentos e iniciativas (SCHNEIDER; PRADO; LINDOSO, 2025). Encarar essa trajetória sob diferentes perspectivas, buscando investigar as lacunas no cânone estabelecido, tornou-se indispensável para a compreensão da pluralidade dessa cinematografia. Assim, dedicando atenção também à abrangência geográfica, surge o interesse pela revisão do processo de formação do campo da animação paraense, considerando a presença das mulheres (LINDOSO, 2023).
Desde as primeiras projeções e filmagens na Amazônia Oriental no final do século XIX e início do século XX, passando pelo centenário do Cinema Olympia em Belém, até a inauguração do primeiro núcleo de oficinas dedicado ao ensino de animação no Curro Velho em 2013, onde se encontram as realizadoras paraenses da animação nesse percurso?
Para esta investigação, alguns aspectos se cruzam: a linguagem da animação deslocada entre os estudos de cinema e arte (GRAÇA, 2006; HONARI, 2018; XAVIER, 2018); o trabalho das mulheres marginalizado pela hegemonia do patriarcado (SPIVAK, 1987 apud VERTULFO, 2018); e o papel periférico atribuído à Região Norte em relação ao Centro-Sul do Brasil.
Assim, é imprescindível o esforço coletivo de diferentes pesquisadores, historiadores e artistas, em cujos trabalhos e manifestações se baseia esta pesquisa. Através de revisão bibliográfica e da incorporação de fontes de diferentes acervos, foi possível examinar a trajetória da animação do Pará e compor um panorama que revela o trabalho de duas gerações de realizadoras paraenses anteriores a 2010.
Maria Sylvia Nunes e Sandra Coelho de Souza são os nomes mais antigos nessa linha do tempo. Respectivamente, foram roteirista e diretora do curta-metragem Manosolfa (1974–1975), identificado como o marco inicial da animação do Pará. Este filme participou do IV Festival Brasileiro de Curta-Metragem e da Quinzena dos Realizadores de Cannes, em 1975. O quadrinista italiano Francesco Altan ficou encarregado da animação, com assistência de Rita Erthal, continuísta e cineasta do Rio de Janeiro. Isso aconteceu dez anos antes da criação do 1º Núcleo de Animação do CTAv (1985) e sete anos antes da animação brasileira Meow! (1982) receber o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.
Manosolfa (1975) é uma animação de 8 min feita em 35 mm, colorida, produzida com a contribuição do Departamento de Produções do MAM-Rio. O cenário cultural em Belém, as movimentações coletivas relacionadas ao cineclubismo, mostras e festivais, ainda que em meio à ditadura civil-militar brasileira (1964–1985), proporcionaram oportunidades que impulsionaram as produções cinematográficas paraenses e consequentemente a criação desse curta-metragem. Embora tenha recebido elogios da crítica e destaque internacional, o filme teve poucas cópias distribuídas e não foram encontrados registros para exibição.
O acontecimento de mulheres paraenses estando à frente de produções do cinema de animação só se repetiria quinze anos depois, com as irmãs cineastas Fernanda e Flávia Alfinito. Juntas, trabalharam na realização de filmes, festivais, mostras e oficinas entre Belém e Rio de Janeiro. Com suas movimentações, tiveram participação decisiva para o processo de retomada do desenvolvimento do audiovisual do Pará, incentivando a criação de políticas públicas e capacitação de profissionais na região. Em sua trajetória de 1990 a 2005, realizaram três animações em stop motion. As produções das irmãs Alfinito chegaram a ser selecionadas e premiadas em importantes festivais de cinema nacionais e internacionais.
Por sua vez, a terceira geração de mulheres, a partir de 2010, resulta de diferentes processos de formação, tanto por meio de oficinas ofertadas por festivais e instituições do governo paraense, quanto de cursos técnicos ou do ensino superior.
Bibliografia
- GRAÇA, M. E. Entre o olhar e o gesto: elementos para uma poética da imagem animada. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.
HONARI, L. Reflecting on proto-animation techniques in the mandalic forms of Persian traditional arts. Animation Studies Online Journal, n. 13, 2018.
LINDOSO, P. Cinema de animação paraense realizado por mulheres. UFMG, 2023.
SCHNEIDER, C.; PRADO, L.; LINDOSO, P. Mulheres na animação brasileira: ensaio para um panorama histórico. In: TAVARES, M. et al. (org.). Pesquisas em animação: conexões internacionais, v. 2. 1. ed. Belo Horizonte: Ramalhete, 2025. Recurso digital. p. 236–264.
VERTULFO, M. F. Animating from the margins: women’s memoir and auteur animation as a method for radical storytelling. University of Oregon, 2018.
XAVIER, J. M. Poética da ilusão de movimento. 1. ed. Campinas: Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, 2018.