Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Philippini Ferreira Borges da Silva (UFPR)
Minicurrículo
- Gabriel Philippini Ferreira Borges da Silva é bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – Campus de Curitiba II, mestre pelo Programa de Pós-Graduação/Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Unespar e doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, com pesquisa dedicada ao papel de críticos-cineastas no cinema brasileiro. Profissionalmente, atua como curador e montador de cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Fazer teoria a partir de críticos-cineastas
Seminário
- Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema
Resumo
- Crítico-cineasta, categoria para a descrição e análise da obra de pessoas que atuaram com periodicidade entre a crítica e a realização de filmes. À luz da Teoria de Cineastas e do caso do crítico-cineasta brasileiro David Neves, visamos apresentar possibilidades teórico-metodológicas para a análise da obra destes profissionais, no cotejo entre suas críticas, manifestações verbais e obras fílmicas, respeitando a autonomia das obras, e visando o estudo de seus projetos cinematográficos.
Resumo expandido
- A atuação de críticos-cineastas marca as diversas ondas de cinema moderno pelo mundo. No Brasil, por exemplo, muitos dos cinemanovistas encontraram nos periódicos sua porta de entrada para o cinema.
Ao contrário de outros exemplos do período, que logo abandonaram a crítica e se dedicaram apenas à realização, o brasileiro David Neves, raramente deixou o crítico sair de cena e sua produção textual seguiu par-a-par com a produção fílmica.
Neste trabalho, visamos apresentar, a partir de análises anteriores da obra e ofício de Neves, caminhos para a interpretação e estudo da obra de profissionais que, como o carioca, empreenderam ambas as atividades. Interessa-nos estudar o cotejo entre a obra fílmica dos críticos-cineastas com suas ideias expostas na crítica cinematográfica para então refletir sobre a constituição de seus projetos cinematográficos. Buscamos, assim, apresentar uma possibilidade de abordagem teórico-metodológica para o estudo da obra de críticos-cineastas a partir da variedade e fragmentação dos materiais onde compuseram e expuseram seu pensamento.
Nessa busca, a Teoria de Cineastas nos apareceu como uma abordagem muito profícua, enquanto visa “fazer teoria do cinema a partir dos cineastas e do pensamento dos cineastas” (LEITES; BAGGIO; CARVALHO, 2020, p. 13) e a abertura teórica incitada pelos autores a “outras expressões dos cineastas” descortinou caminhos instigantes para a pesquisa.
A partir das fontes diretas indicadas como de interesse para Teoria de Cineastas, por Baggio, Graça e Penafria (2015), a abordagem parte, além dos filmes, de textos de diferentes ordens. As expressões concedidas pelos críticos-cineastas em textos, entrevistas ou encartes publicitários exercem importante papel como registro de seus pensamentos, modos de falar e processos de criação. Em nosso caso, entendendo a vida no cinema de David Neves em sua diversidade, adicionamos aos exemplos de “todo tipo de material escrito pelo cineasta”, as notas, encartes, crônicas e, principalmente, os textos críticos de Neves.
Afinal, defendemos as críticas escritas pelas cineastas como importantes caminhos para a expressão e interpretação do pensamento dos autores, tendo sempre em vista as diferentes materialidades, linguagens e especificidades de cada um de seus textos.
O próprio Neves já discorria sobre esta natureza, completando que: “O exercício da crítica, a meu ver, confunde-se, às vezes, com o da criação pura e simples. É como se fosse uma re-criação sobre as bases concretas” (NEVES, 2004, p. 305). Enquanto criação, encontramos nos textos do crítico-cineasta importante espaço de exposição de seu estilo e interesses em cinema. Partimos para o estudo de sua obra, como Rocha (1981) e Pinto (2020), entendendo-o como crítico-cineasta.
O hífen, colocado pelo pesquisador, entre as palavras é central para nossa abordagem e ilustra a ponte central a essa comunicação. O desafio na abordagem comparativa entre os textos (fílmico e verbal) reside em propor com que os três agentes envolvidos na palavra: pesquisador, crítico e cineasta se iluminem. O pesquisador aponta a luz do texto crítico para o filme ou vice-versa e nestes gestos de pesquisa descobre nas obras novos significados e trilhas de interpretação. Cabe ao pesquisador a escrita da teoria, o posicionamento da lente, a seleção dos materiais de análise e inclusive o delineamento de um pensamento diverso e difuso entre os textos.
Sem separar o pensamento crítico da produção cinematográfica, entendemos que os destaques e o valor que os críticos-cineastas concediam aos filmes dirigidos por outras pessoas podem também dizer muito e encontrar semelhanças com os gostos e interesses estilísticos apresentados nos filmes em que eles mesmos atuaram. Para a investigação, propomos transformar em abordagem essa inquietação, desenvolvida a partir da Teoria de Cineastas e métodos de análise textual e de filmes. Conectar a dualidade até então dividida por um hífen.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
BAGGIO, Eduardo Tulio; GRAÇA, André Rui; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos Cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, Curitiba, v.12, p. 19-32, jan./jun. 2015.
LEITES, Bruno.; BAGGIO, Eduardo.; CARVALHO, Marcelo. Fazer a teoria do cinema a partir de cineastas – entrevista com Manuela Penafria. Intexto, Porto Alegre, n. 48, p. 6–21, 2020
NEVES, David Eulálio. Telégrafo visual: crítica amável de cinema. São Paulo: Editora 34, 2004.
PENAFRIA, Manuela. Análise de Filmes – conceitos e metodologia(s). In: VI Congresso SOPCOM, Lisboa, 2009. Anais eletrônicos. Lisboa, SOPCOM, 2009.
PHILIPPINI Ferreira Borges da Silva, Gabriel; PINTO, Pedro Plaza. Pensar um crítico-cineasta: um olhar para Mauro, Humberto ao lado dos escritos de David Neves. O Mosaico, v. 16, n. 1, 2023.
PINTO, Pedro Plaza. David Neves: projetos de vida e autonomia do crítico-cineasta. Intexto, v. 48, p. 194-211, jan/abril. 2020.