Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Luiza Correa da Silva Staut (UFMS)
Minicurrículo
- Doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Mestra em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisadora de cinema e literatura de horror produzidos por mulheres.
Ficha do Trabalho
Título
- Gênero e poder no fantástico contemporâneo: uma leitura de “O clube das mulheres de negócios” (2024)
Resumo
- Essa pesquisa objetiva analisar o filme “O clube das mulheres de negócios” (2024), dirigido por Anna Muylaert, e observar como o cinema fantástico contemporâneo desenvolve narrativas que promovem alternativas para superar a violência masculina e o contexto patriarcal. Partindo de conceitos de Dee L. Graham, Simone de Beauvoir e seguindo a metodologia de análise proposta por bell hooks, pretende-se destacar a importância da ficção e do fantástico para a consolidação de discursos feministas.
Resumo expandido
- Ao analisar as estratégias pelas quais as mulheres podem se articular para problematizar e superar o contexto patriarcal, Dee. L. Graham (2021) destaca a ficção como um caminho fundamental, visto que ela permite a reimaginação das configurações sociais e suas dinâmicas de poder.
“Acertadamente, o abusador teme a imaginação da vítima, por isso o incentivo a imaginação das mulheres aqui é um ato subversivo. Assim como Estados tirânicos censuram a comunicação e religiões autoritárias condenam a ficção, o abusador se sente ameaçado por qualquer leitura ou devaneio e se opõe a essas formas de comunicação da vítima consigo mesma, enquanto age para isolá-la de outras pessoas. No entanto, para aquelas que não estão sob vigilância 24 horas por dia, uma leitura que estimula a imaginação e, consequentemente, nos move em direção à mudança é possível.” (GRAHAM, 2021, p.260-261)
Partindo desse princípio, o filme “O clube das mulheres de negócios” (2024), escrito e dirigido por Anna Muylaert, propõe um debate sobre inversão de papeis entre homens e mulheres, idealizando uma história na qual as mulheres ocupam posições sociais mais altas de controle e influência, enquanto homens são socializados como pessoas submissas e dominadas.
Ao pensar essa alternância e para sustentar essa crítica utópica, a autora utiliza conceitos do universo fantástico proposto por Tzvetan Todorov, acrescentando elementos que caminham entre o real e o sobrenatural dentro da narrativa, além de também abordar a representação de personagens monstruosas descritas por Barbara Creed, no qual as mulheres que assumem um papel considerado “masculino” e normalizado para os homens, encaram um caráter de vilania e monstruosidade quando atrelado a personagens femininas.
Além dessas contribuições, também serão abordados os estudos de Simone de Beauvoir, que pensa como a construção de uma “identidade feminina” não se deu a partir da natureza ou biologia, mas sim como uma construção social e cultural através dos séculos, e também de bell hooks, que aborda uma metodologia que busca analisar os filmes pensando uma crítica feminista, já que, segundo a autora, “a introdução, nos filmes, de discursos contemporâneos sobre raça, sexo e classe criou no cinema dominante um espaço para a intervenção crítica”. (2009, p.22)
Com base nessa premissa, a pesquisa tem como objetivo analisar de que maneira o filme de Muylaert aborda tais conceitos para questionar e satirizar a nossa ordem social vigente, expondo as estruturas de poder que sustentam a desigualdade de gênero. Através dessa narrativa, investiga-se como a obra utiliza do absurdo e do estranhamento como uma estratégia crítica que compromete normas de comportamento naturalizadas para homens e mulheres. Ademais, o trabalho também busca compreender como o fantástico e o cinema de gênero podem constituir caminhos potentes para a construção de um discurso feminista mais consistente, já que esses gêneros oferecem possibilidades de histórias capazes de alterar a realidade e deslocar um olhar hegemônico, propondo novos imaginários sobre a subjetividade feminina.
Bibliografia
- BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo, vI, II. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 70, 1980.
CREED, Barbara. The monstrous-feminine: Film, feminism, psychoanalysis. Routledge, 2015.
CREED, Barbara. Return of the monstrous-feminine: Feminist New Wave cinema. Routledge, 2022.
GRAHAM, Dee LR; RAWLINGS, Edna I.; RIGSBY, Roberta K. Amar para sobreviver: mulheres e síndrome de Estocolmo social. Tradução de Mariana Coimbra. São Paulo: Cassandra, 2021.
HOLANDA, Karla. Da história das mulheres ao cinema brasileiro de autoria feminina. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, v. 24, n. 1, 2017.
HOOKS, Bell. Reel to real: race, class and sex at the movies. Routledge, 2009.
TODOROV, Tzvetan. The fantastic: A structural approach to a literary genre. Cornell University Press, 1975.