Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    MILENA SZAFIR (UFCE)

Minicurrículo

    Milena Szafir possui pós-doutorado em montagem audiovisual, inteligência artificial (IA), questões étnico-raciais e design pela USP (2024). É professora efetiva na Universidade Federal do Ceará desde 2013. Recebeu o principal prêmio latino-americano “de arte e tecnologia” (2011) pelo conjunto de obras em sua carreira artística. Sites: www.manifesto21.tv e www.projetares.art.br

Coautor

    German Nilton Rivas Flores Lima (UFC)

Ficha do Trabalho

Título

    Decolonialidades americanas na montagem de uma versão iraniana

Seminário

    Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas

Resumo

    A partir de três eixos – 1montagem/ decolonialidade; 2montagem/ design; 3montagem/ gênero cinematográfico – investigamos como a contemporaneidade afeta a montagem entre linguagem, ritmo e estética. Para tanto, no encontro de Belém apresentaremos uma análise da montagem como estereoscopia narrativa junto ao filme A Versão Persa (2023) – i.e. como a edição audiovisual fragmenta, multiplica e articula pensamento sobre a experiência (i)migrante.

Resumo expandido

    Através da estereoscopia narrativa, visamos debater os caminhos – entre as mudanças e as constâncias – da montagem cinematográfica e da edição audiovisual desde conceitos, práticas, tecnologias e criatividades híbrido-contemporâneas a partir de três eixos: (1) montagem e decolonialidade (a construção identitária e o “lugar de fala”); (2) montagem e composição digital (o design gráfico, lógicas estereoscópicas e as “telas”); (3) montagem e gêneros cinematográficos. Para tanto, analisaremos no encontro de Belém a montagem como articuladora do pensamento no resultado estrutural, estético, histórico, ético e político junto ao filme A Versão Persa (2023), de Maryam Keshavarz – que se vale de estratégias visuais – a partir de um jogo de contrastes, justaposições e sobreposições – que tensionam as fronteiras entre passado e presente, identidade e alteridade, evidenciando como a montagem cinematográfica contemporânea vem expandindo suas possibilidades expressivas.

    Ao analisarmos como a narrativa do filme se estrutura, pretende-se demonstrar que a montagem audiovisual assume, assim, o papel central entre a estética do filme e seu discurso político, permitindo que múltiplas camadas de significado coexistam. Mais do que selecionar e organizar cenas, sabemos do poder e da potência da montagem na expressividade audiovisual. A edição deste filme norte-americano – a partir de um olhar iraniano pós-(i)migrante – desafia a linearidade convencional e instaura um jogo de sobreposições e rupturas que traduzem as complexidades da subjetividade “persa”. As transições entre cenas, a manipulação da velocidade e os cortes inesperados criam uma narrativa que se aproxima da lógica da memória, onde tempos distintos coexistem e se ressignificam. A montagem, aqui, se alinha à proposta decolonial ao questionar as estruturas tradicionais da narrativa cinematográfica europeia, construindo um discurso que resiste à homogeneização da identidade e valoriza a multiplicidade de olhares ao deslocar e fragmentar as imagens em edição digital. Ou seja, trata-se de uma narrativa cinematográfica construída através da montagem em seu sentido plural: “a montagem nem é ‘nada’, nem é ‘tudo’ […] é um componente tão essencial da realização de filmes quanto todos os outros elementos eficazes da cinematografia” (Escorel, 2010, p. 43).

    Além disso, a contemporaneidade digital influencia diretamente o trabalho do ofício de montador/a, oferecendo novas ferramentas para explorar a composição gráfica e as pluralidades estéticas da montagem audiovisual: “refletir sobre montagem é refletir sobre a percepção do tempo” (Vasconcellos, 2015, p. 39). Em um ambiente onde softwares sofisticados – cada vez mais aliados às IAs – permitem manipular nossas subjetividades, o cinema se reinventa como um laboratório permanente de experimentação sonoro-visual. O filme aqui em foco se apropria dessas possibilidades ao integrar desde elementos gráficos na narrativa (e.g. letreiros; estética das redes sociais) até gêneros “marginais” (experimentais) como found footages, remixes etc.

    Ao articular montagem, tecnologia e subjetividade, A Versão Persa demonstra como a montagem pode ser compreendida como um espaço de disputa simbólica e reconfiguração da memória. O filme desafia o espectador a navegar por um fluxo narrativo descontínuo, em que a montagem apresenta-se como um espaço de descoberta e transformação no qual as imagens se relacionam de forma intuitiva e sensorial: “o processo de montagem precisa de tempo de reflexão e desconexão com os processos anteriores” (Rezende, 2003, p. 35).

    Buscamos, portanto, compartilhar nossas pesquisas (realizadas no PPGARTES/UFC e POSDOCDESIGN/USP) a fim de debatermos entre pares da SOCINE a utilização dos atuais recursos audiovisuais para refletirmos sobre a experiência da montagem (i)migrante e(m) suas múltiplas camadas: a montagem como ato fundamental na construção de significados, ritmos, atmosferas narrativas e cinematografias decoloniais.

Bibliografia

    AVERSÃO persa. Direção: M. Keshavarz. Produção: Marakesh Films et.al. EUA: Sony Pictures, 2023.
    AMIEL, V. A estética da montagem. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2010.
    ESCOREL, E. Nem tudo, nem nada. In: Cinema de montagem. RJ: Stampa/ CAIXA CULTURAL, 2015;p.41-47.
    MARIÁTEGUI, J.C. A realidade e a ficção. Arquivo marxista na Internet: Peru, 2022.
    REZENDE, D. Daniel Rezende. In: Cinema de montagem. RJ: Stampa/ CAIXA CULTURAL, 2015;p.33-36.
    ROCHA, R. Um estudo à análise fílmica de “Footnote”. Dissertação (Mestrado em Artes). UFC, 2024.
    SPITZER, L. Racismo e antissemitismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
    SILVA, D. Em estado bruto. In: O direito à opacidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2022. p.46-55.
    SZAFIR, M. Design (tele-)audiovisual. DOI: https://doi.org/10.14591/aniki.v6n1.463 Acesso em: 25 jan. 2025.
    _____. Composição: Ensaio em 03 Movimentos. OuvirOUver, v. 14, n. 2, p.340-360, 2018.
    VASCONCELLOS, D. Diana Vasconcellos. In: Cinema de montagem. RJ: Stampa/ CAIXA CULTURAL, 2015;p.37-40.