Ficha do Proponente
Proponente
- Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) (UFF)
Minicurrículo
- Niteroiense, é doutora em Comunicação (UERJ/2018) e professora do Departamento de Arte da UFF desde 1998. Exerce atividades de curadoria, consultoria e júri em mostras e festivais audiovisuais. Documentarista, dirigiu Era Araribóia um Astronauta?” (1998), “A Maldita” (2007), “Fantasias de Papel” (2015) , e o longa “A Maldita” (2019). Ministra cursos sobre festivais de cinema e curadoria audiovisual. Integra o grupo “Festivais de cinema e audiovisual – histórias, políticas e práticas”(CNPq).
Ficha do Trabalho
Título
- Entre o espetáculo e a floresta: construção de imaginários no Amazonas Film Festival
Seminário
- Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual
Resumo
- Entre 2004 e 2013 foi realizado em Manaus o Amazonas Film Festival, evento criado pelo Estado do Amazonas e pela empresa francesa Le Public Système. Partindo da premissa de que festivais são experiências de cidade e ao mesmo tempo instâncias discursivas, nesta comunicação iremos analisar o AFF a partir de um viés para as estratégias discursivas que promovem construções imaginárias sobre o Amazonas, com o intuito de inseri-lo na indústria cinematográfica mundial, e promover o turismo na região.
Resumo expandido
- Em 2004 foi criado na cidade de Manaus o Amazonas Film Festival organizado institucionalmente pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Amazonas e pela empresa francesa Le Public Système.
O lançamento oficial do festival ocorreu durante o Festival de Cannes, em maio de 2004, com a presença do governador do Estado do Amazonas Eduardo Braga, cineastas, empresários da indústria cinematográfica, artistas e a imprensa internacional. Na ocasião Braga destacou como um dos objetivos da criação do festival a “descoberta da Amazônia e de seus recursos naturais a partir da indústria cinematográfica mundial”, assim como a promoção de geração de empregos e renda locais como um “propulsor da produção de cinema tanto do Estado como do país”.
Com robusto patrocínio da Coca-Cola, e alguns recursos do governo do Estado, o festival no momento de sua criação, ao mesmo tempo em que apostava num modelo dos grandes festivais internacionais europeus, seguindo à risca o ritual do desfile de celebridades num longo tapete vermelho montado no pátio do glamouroso Teatro Amazonas, por outro lado buscava um perfil mais segmentado em sua programação voltada para o filme de aventura e de natureza em consonância com as características identitárias e geográficas da região.
Idealizado como “Mundial do Filme de Aventura” (4 primeiras edições), passando por “Aventura, Natureza e Meio Ambiente” (5ª e 6ª edições) e se caracterizando somente como Amazonas Film Festival (7ª a 10ª edições) o festival ao longo de suas 10 edições reconfigurou seu perfil curatorial, modificou a sua estrutura de organização com a saída da empresa francesa Le Public Système (em 2010) e passou a dar mais destaque à produção brasileira e, em especial à produção amazonense. Um olhar eurocêntrico (SHOHAT; STAM, 2006) das primeiras edições é reformulado na medida em que o festival se aproxima de uma maior brasilidade em sua programação.
Partindo da premissa de que festivais são experiências de cidade e ao mesmo tempo instâncias discursivas, contribuindo assim para a construção de imaginários, nesta comunicação iremos analisar o Amazonas Film Festival a partir de um olhar para as suas estratégias narrativas construídas pelo Estado que visaram inserir o Amazonas como parte da indústria cinematográfica mundial, assim como promover o turismo na região.
Para Tunico Amancio “a Amazônia, mais que um território físico e politicamente determinado, é uma construção imaginária que incorpora significações geradas no processo social, em diversos momentos da história da cultura” (AMANCIO, 2000, p. 81) Sendo assim, quais as estratégias discursivas que estão presentes no festival e de que forma elas contribuem para a construção de um território imaginado? Quais características podem ser associadas à identidade amazonense? Dentro da economia global dos festivais, quais imagens narrativas constituem a “imagem festival” (STRINGER, 2001) do Amazonas Film Festival? A opção temática inicial do festival como mostra de filmes de aventura e natureza já dá indícios de uma representação que destaca a paisagem da floresta como cenário exótico, mas também como um território considerado exemplar na preservação do meio ambiente.
Como corpus de pesquisa analisaremos os catálogos do festival, a identidade visual, a análise do artefato troféu, a estrutura de programação das mostras de filmes e atividade paralelas, assim como análise dos espaços de exibição e suas práticas (tapete vermelho, presença de celebridades internacionais, etc.)
Como método de análise, optamos pela criação de categorias para interpretar as representações do território amazonense presentes no discurso oficial do festival, assim como no discurso dos filmes selecionados. A nossa hipótese é de que há uma visão com viés mais eurocêntrico nas representações oficiais do festival. Na medida em que as produções amazonenses ganharam maior representatividade e destaque na programação do festival, há uma certa modificação em seu discurso.
Bibliografia
- AMANCIO, Tunico. O Brasil dos gringos: imagens no cinema. Niterói: Intertexto, 2000.
MATTOS, Tetê. O Festival do Rio e as configurações da cidade do Rio de Janeiro. (Doutorado em comunicação). PPGCom UERJ, Rio de Janeiro, 2018.
SENA, Vanessa da Costa e SORANZ, Gustavo. Amazonas Film Festival: contribuições culturais e sociais para o Estado do Amazonas. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte – Manaus – AM – 01 a 03/05/2013
SHOHAT, Ella & STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica – Multiculturalismo e representação. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
SORANZ, Gustavo. Território imaginado – imagens da Amazônia no cinema. Manaus: Rizoma Audiovisual, 2023.
STRINGER, Julian. “Global cities and the international film festival economy”. In: SHIEL, Mark; FITZMAURICE, Tony (ed.). Cinema and the city: film and urbain societies in a global context. Oxford: Blackwell Publishers, 2001, p.134-144.