Ficha do Proponente
Proponente
- Giovana Marília Moura de Alencar (Unicamp)
Minicurrículo
- Giovana Marília Moura de Alencar: Estudante de graduação em Comunicação Social – Midialogia na Unicamp. Bolsista de Iniciação Científica pelo Programa de Incentivo a Novos Docentes da Unicamp (PIND), com foco em documentários contemporâneos sobre as ditaduras referentes ao Brasil, ao Chile e à Argentina. Faz parte do grupo de pesquisa CNPq “História, memória e transferências culturais no cinema brasileiro e latino-americano”.
Ficha do Trabalho
Título
- A representação do perpetrador no documentário latino-americano: uma análise comparativa
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Este visa explorar as retratações dos perpetradores das ditaduras latino-americanas, com o enfoque em Brasil, Argentina e Chile, em três documentários dos países mencionados: Memória Sufocada (Giacomo, 2021), El Hijo Del Cazador (Robles, Scelso, 2018) e El Mocito (Certeau, Cares, 2010), respectivamente. Assim, procura-se analisar cada obra e destrinchar as formas fílmicas utilizadas para a construção das imagens de opressores participativos desses regimes, abordando-as como objeto principal.
Resumo expandido
- O objetivo dessa apresentação é analisar os documentários Memória Sufocada (Giacomo, 2021), El Hijo Del Cazador (Robles, Scelso, 2018) e El Mocito (Certeau, Cares, 2010), documentários os quais retratam agentes da repressão que foram ativos nos anos das ditaduras brasileira, argentina e chilena, respectivamente.
É válido destacar a relevância das obras documentais para a construção de uma memória coletiva nas sociedades latino-americanas. Nesse contexto, os últimos anos foram repletos de obras documentais que retratam a ferida aberta e os afetos destruídos pelos processos anti-democráticos que percorreram a América Latina na segunda metade do século XX. Dentre esses filmes, vários destacam-se na representação de resistências e vítimas formadas durante os governos autoritários mencionados.
Entretanto, não obstante, viso destacar certas obras que fogem dessa proposta, e optam por retratar os perpetradores, aqueles que colaboraram, direta ou indiretamente, para a instauração e funcionamento dos regimes ditatoriais do Cone Sul (Sánchez-Biosca, Zylberman, 2021). Dentre elas, pretendo analisar três obras.
Memória Sufocada é um longa-metragem brasileiro de 2021 o qual, por intermédio de uma apresentação transmidiática, na qual as imagens capturadas, os arquivos recentes e datados e o retrato das redes sociais na formação de uma opinião brasileira são desenhados visando à construção da imagem de um líder torturador, de um perpetrador sem ambiguidade que conseguiu ganhar o apoio de milhares da Nação. O longa-metragem busca, assim, costurar o julgamento do Coronel Ulstra às suas influências modernas, em meio a um campo de mídias emergentes que mescla o sensacionalismo ao apagamento.
El Mocito, documentário chileno de 2010, percorre o microcosmos de Jorgelino, um pequeno colaborador da ditadura pertencente à zona cinzenta que é ser ex-funcionário da Direção de Inteligência Nacional (DINA), mas servindo apenas como motorista ou assistente – um “mocito” (Bascur, 2021). Nunca tendo torturado ou assassinado, mas transportando os corpos das vítimas e ouvindo diariamente seus gritos, o filme expõe um retrato em que o papel de opressor e vítima se confundem; em que a dubiedade transborda perante ao entorpecimento.
El Hijo Del Cazador, filme de 2018 originário da Argentina, acompanha Luiz Quijano, filho de um dos coordenadores de La Perla, uma unidade de tortura do país (Zylberman, 2019). Sob uma ótica mais intimista, somos apresentados a um conflito que enlaça as relações conturbadas de Luiz para com sua família. É um longa-metragem em primeira pessoa no qual realizador problematiza os vínculos com seu pai, quem foi um perpetrador da ditadura – trata-se de uma obra em que os afetos são retorcidos e a crueldade se sobressai de maneiras pouco retratadas em demais longas.
Percorrendo os três documentários mencionados, busca-se dar luz às distintas representações dos opressores das ditaduras do Cone Sul, visando a uma compreensão das estratégias utilizadas para as representações desses indivíduos e seus intermédios. Assim, procura-se esclarecer e compreender, criticamente, a maneira pela qual a face dos perpetradores está se incrustando no audiovisual documental latino-americano, tendo em mente a atual conjuntura da construção de memória coletiva que se instaura na América Latina referente às ditaduras que nela ocorreram.
Bibliografia
- SÁNCHEZ-BIOSCA, Vicente; ZYLBERMAN, Lior. Perpetradores de crímenes de masas a la luz de la imagen. A modo de in-troducción. Papeles del CEIC, vol. 2021/2, presentación, 2021, p. 1-12.
FAURE BASCUR, Eyleen. El victimario como sujeto de dolor. La figurabilidad del perpetrador en la película documental chilena “El Mocito” (2011). Papeles del CEIC, vol. 2021/2, papel 250, 2021, p. 1-19.
MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos; SELIPRANDY, Fernando. El perpetrador en el cine brasileño: genealogía de un personaje (1979-2007). Papeles del CEIC, vol. 2021/2, papel 252, 2021, p. 1-18.
ZYLBERMAN, Lior. Lealtades y memorias familiares. Documentales sobre perpetradores argentinos. XIII Jornadas de Sociología. Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2019.
DELLA PORTA, C; SAGREDO, O. El estudio de los perpetradores de la dictadura en Chile. Revista de Ciencias Sociales, (16), 2022, p. 76-108.