Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Camila Maglhães Lamha (Puc-Rio)

Minicurrículo

    Jornalista (ECO-UFRJ), mestra (ECO-UFRJ) e doutoranda (PUC-Rio) em Comunicação, sob orientação da professora Patrícia Machado. Faz parte do grupo de estudos Práticas do Contra-Arquivo e pesquisa o cinema de mulheres durante a ditadura militar. Atua há 10 anos no mercado de TV por assinatura e VoD, com foco no cinema brasileiro. Foi editora do Porta Curtas, curadora do Canal Curta! e, desde 2019, faz parte da equipe do Canal Brasil, onde coordena a área de Aquisição de Conteúdo e Projetos.

Coautor

    SOFIA COSTA GUIMARAES (PUC-Rio)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema de mulheres na ditadura militar: um resgate de Maria Helena Saldanha

Seminário

    Arquivo e contra-arquivo: práticas, métodos e análises de imagens

Resumo

    Este trabalho propõe uma investigação sobre Maria Helena Saldanha, desconhecida diretora brasileira, que realizou três documentários durante a ditadura militar. Partindo de acervos públicos para realizar um mapeamento de seus filmes, documentos e críticas produzidas sobre eles, além de entrevistas com seus colaboradores, o nosso objetivo é buscar a história dessa cineasta invisibilizada e examinar: quem foi Maria Helena, o contexto histórico em que estava inserida e do que tratavam seus filmes.

Resumo expandido

    A partir da nossa pesquisa no grupo Práticas do Contra-Arquivo (PPGCOM/PUC-Rio) sobre o cinema de mulheres realizado no Brasil durante os anos de ditadura militar, nos deparamos com Maria Helena Saldanha, personagem, até o momento, apagada da historiografia e dos estudos cinematográficos que nos despertou profunda curiosidade.

    Ao que tudo indica, ela começou sua carreira como atriz, atuando no emblemático curta-metragem de Olney São Paulo, “Manhã Cinzenta”, de 1968, seu único registro em imagem em movimento que encontramos até aqui. Sua presença etérea e enigmática nessa obra de forte crítica ao governo militar imprime singularidade e sugere um engajamento político. Como cineasta, ela se envolveu, através de seus filmes, no debate sobre temas em ebulição à sua época, como a prisão de presos políticos, a luta pela anistia, a realidade de crianças e mulheres pobres e o direito à terra. Assim como tantas outras, dirigiu filmes que ficaram esquecidos, cujas cópias em película encontram-se em condições precárias.

    Com o intuito de recuperar a trajetória de Maria Helena, demos início a um levantamento de informações sobre sua obra e sua biografia, o que não tem sido tarefa fácil, já que são insuficientes os registros sobre ela, que teve uma morte precoce – suicídio, em 1985, na Europa, quando tinha em torno de 30 anos. Em entrevistas que realizamos com diretores contemporâneos à cineasta, pouca gente se lembra dela e o que se lembra é escasso: não se vinculou a coletivos feministas e/ou de cinema.

    Maria Helena dirigiu três documentários, cujas informações encontramos na base de dados da Cinemateca Brasileira e cujos materiais localizamos nos arquivos da Cinemateca do MAM e do CTAv, todos em estado precário de conservação (grau 2B). São eles: “A Menina e a Casa da Menina” (1979, 9′, 16 mm), focado em Rosana, de onze anos, que cuida de seus irmãos mais novos enquanto seus pais trabalham; “Anistia: Nada Será Como Antes” (1979, 20′, 16 mm), sobre a luta por anistia, com depoimentos de personalidades da política e da cultura e familiares de presos políticos; “Terra: A Medida do Ter” (1982, 88′, 16 mm), seu único longa-metragem, que fala sobre a luta pelo direito à terra de famílias da região canavieira do Nordeste e Sudeste.

    Trabalhando na interseção entre história, cinema e gênero, a nossa metodologia de trabalho consiste na investigação das imagens de histórias de mulheres e da história das imagens (BLANK e MACHADO, 2020; LINDEPERG, 2015). Ademais, esta pesquisa insere-se no empenho contemporâneo de revisão historiográfica do cinema brasileiro, com foco na recuperação de trajetórias de mulheres cineastas marginalizadas, na esteira de trabalhos como os de Karla Holanda (2017), Hannah Esperança (2020) e Nayla Guerra (2023).

    A nossa investigação segue nos acervos públicos, buscando informações em jornais e publicações do período sobre a diretora e seus filmes, tais como contexto de produção e circulação. Além disso, daremos continuidade à coleta de depoimentos de pessoas que constam nos créditos das suas obras. Também é nosso objetivo trabalhar na recuperação digital das cópias, através de uma parceria com o Lupa-UFF, para que os filmes de Maria Helena possam chegar a novas audiências.

Bibliografia

    BLANK, Thais.; MACHADO, Patrícia. Em busca de um método: entre a estética e a história de imagens domésticas do período da ditadura militar brasileira. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 43, n. 2, 2020.

    GUERRA, Nayla. Entre apagamentos e resistências: curtas-metragens feitos por diretoras brasileiras (1966-1985). São Paulo: Alameda, 2023.

    LAMHA, Camila; MACHADO, Patricia; NEPOMUCENO, Maria Rita (no prelo). As mulheres da Corcina: a trajetória de filmes esquecidos produzidos na ditadura militar. Revista Interações Sociais, Rio Grande.

    LINDEPERG, Sylvie. O destino singular das imagens de arquivo: contribuição para um debate, se necessário, uma “querela”. In: Devires, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, pp. 12-27, jan-jun 2015.

    MACHADO, Patrícia. Cinema de arquivo: imagens e memória da ditadura militar. Rio de Janeiro: Sagarana, 2024.

    PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: Edusc, 2005.