Ficha do Proponente
Proponente
- Silvia Okumura Hayashi (USP)
Minicurrículo
- Silvia Hayashi é Professora Doutora no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. Doutora em Meios e Processos Audiovisuais (ECA – USP) e mestre em Ciências da Comunicação (ECA – USP). Foi pesquisadora visitante na School of the Arts, Media, Performance Design da York University (Bolsista CAPES). Sua área de atuação docente abrange as áreas de montagem e pós-produção audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Mário de Andrade, O Turista Aprendiz e Inferninho: a viagem como efeito visual
Seminário
- Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas
Resumo
- Mário de Andrade, o Turista Aprendiz (2024) e Inferninho (2018) são dois filmes brasileiros contemporâneos que se utilizam de recursos de montagem, os efeitos visuais, para a construção de viagens puramente cinematográficas. As relações entre o cinema, a viagem e as tecnologias de produção e exibição de imagens remontam ao primeiro cinema e se desdobram nos dias atuais, gerando composições de corpos e paisagens que conduzem, através da montagem, as experiências de personagens e espectadores.
Resumo expandido
- As relações entre o cinema e a viagem remontam ao primeiro cinema, um período no qual os travelogues se apresentavam aos espectadores como uma forma de explorar e conhecer lugares remotos. Essa associação entre mídias e viagens não se esgota no primeiro cinema. Uma expedição ao Everest foi um dos filmes mais populares da tecnologia IMAX. Viajar através do cinema é uma ação que descreve a experiência do espectador que, sentado numa sala, tem a visão de paisagens e corpos cujas imagens foram capturadas num outro tempo, a milhares de quilômetros de distância. A partir da montagem, a viagem pode se dar através do que descrevemos como um efeito visual, os VFx. A viagem sintética, baseada em efeitos visuais, é o partido de realização de dois filmes da cinematografia brasileira recente, Mário de Andrade, o Turista Aprendiz (2024) e Inferninho (2018), que se utilizam da composição entre corpos e paisagens para transportar personagens e espectadores e fazê-los assim viajar através do cinema.
Mário de Andrade, o Turista Aprendiz (2024) é um filme ficcional livremente baseado nas anotações feitas pelo escritor Mário de Andrade durante uma viagem pelo Rio Amazonas em 1927. A construção de um corpo cinematográfico para as memórias e ficções da passagem de Mário de Andrade pelo Amazonas se dá através da antítese do que seria um filme de viagem. A adaptação fílmica de Murilo Salles se baseia em gravações em estúdio e na construção da relação entre personagens e paisagens através de efeitos de pós-produção que geram imagens ilusórias, simulacros de uma viagem real. As relações entre o cinema e a viagem remontam aos travelogues, ainda no primeiro cinema. Em Education in the School of Dreams: Travelogues and Early Nonfiction Film, Jennifer Lynn Peterson examina os travelogues, e argumenta que eles atuaram como uma forma de viagem virtual ou substituta. A ideia da viagem substituta e imóvel, na qual o confinamento é uma forma de conexão com o universo, a de uma viagem exclusivamente mental, ou de se conhecer o mundo sem sair pela porta, pode descrever a experiência do espectador cinematográfico, um visualizador de espectros preservados em mídias variadas. E essa é também a matéria de A viagem ao redor do meu quarto (1795), um relato de viagem escrito por Xavier de Maistre num período de condenação à prisão domiciliar. Sem sair pela porta, ele viaja pelo mundo. O confinamento, diz de Maistre, o conectou ao universo. No cinema brasileiro recente, uma outra viagem construída de forma estática e simulada, pode ser encontrada em Inferninho (2018), filme que se passa num único ambiente, o ‘Inferninho’, administrado por Deusimar. Em certo momento a personagem ganha liberdade e viaja pelo mundo. Vemos Deusimar viajar não exatamente por lugares, mas por imagens projetadas desses lugares. Mas qual a distinção? A viagem é construída a partir da composição do corpo de Deusimar gravado em estúdio e aplicado sobre paisagens icônicas. Em Mário de Andrade, O Turista Aprendiz e Inferninho, ferramentas de composição cinematográfica para a produção de efeitos visuais fundem corpos e espaços para construir viagens digitais sintéticas que se apresentam ao espectador como mais uma viagem substituta, no cruzamento de uma nova fronteira do cinema digital.
Bibliografia
- ALBERA, François e TORTAJADA, Maria (editors). Cinema Beyond Film: Media Epistemology in the Modern Era. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2010.
ANDRADE, Mário. O Turista Aprendiz. São Paulo: Tinta da China, 2024.
MAISTRE, Xavier. Viagem ao redor do meu quarto. São Paulo: Editora 43, 2020.
MANOVICH, Lev. ‘Separate and Reassemble: Generative AI Through the Lens of Art and Media Histories’ in MANOVICH, Lev and ARIELI, Emanuele. Artificial Aesthetics: Generative AI, Art and Visual Media. https://manovich.net/content/04-projects/175-artificial-aesthetics/manovich-artificial-aesthetics-ch7.pdf2021-2024 (acessado em 06/01/2024)
PETERSON, Jennifer Lynn. Education in the School of Dreams: Travelogues and Early Nonfiction Film. Durham: Duke University Press, 2013.