Ficha do Proponente
Proponente
- Elivelton Ferreira Tomaz (UNICAMP)
Minicurrículo
- Elivelton Tomaz, negro, produtor e pesquisador de cinema, mestrando em Multimeios na Unicamp com a pesquisa: ” A sala de cinema como função social – memória, oralidade e experiências”. especialista em educomunicação, bacharelado no curso de Comunicação Social – Rádio e TV na universidade Anhembi Morumbi (2012- 2016) com bolsa Prouni. Aborda nas suas produções temas da cultura popular e negritude, destaque para os filmes: Somos Carranca (2024); Sons de Bateria ( 2019); cinema morto ( 2018).
Ficha do Trabalho
Título
- “Cinemas do quarto mundo” no Brasil a partir da análise do documentário Território Pequi
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Resumo
- A pesquisa analisa o curta-metragem documental: Território Pequi (2022).
Dirigido por Takumã Kuikuro, é um convite a observar a organização da aldeia Ipatse (Kuikuro), no parque do Xingu, em Canarana, Mato Grosso. Território Pequi traz aspirações e reflexões do cinema indígena em comparação com o modo de vida da sociedade capitalista contemporânea que necessita aprender com os povos originários, em filosofias de enxergar o mundo, o respeito à ancestralidade e a relação com o planeta Terra.
Resumo expandido
- A análise do curta-metragem documental Território Pequi (2022), dirigido por Takumã Kuikuro, nos convida a observar o filme enquanto testemunhas da organização sociocultural da aldeia Ipatse (Kuikuro), situada no parque indígena do Xingu, em Canarana, Mato Grosso, em uma área de 2.642.003 hectares, com uma população de 4.837 indígenas (Censo, 2010), onde o pequi é alimento de sustento para toda aldeia em sua temporada de colheita e permanece abastecendo mesmo depois da colheita. A relação pequi e as atribuições das mulheres indígenas tem destaque nas ações que decorrem durante o filme, as mãos das mulheres indígenas fazem o trabalho da colheita, a retirada da casca que envolve o pequi, o cozimento, a retirada da polpa e separação da castanha do pequi como último processo de aproveitamento do fruto, esse ciclo de cultura ancestral na aldeia é fio de interação com aldeias próximas, compondo rituais Kuikuro. Iniciamos essa análise trazendo a denominação de povos do quarto mundo e seu cinema, esse termo pode parecer pejorativo e alusivo a primitivo, mas seu breve entendimento para fins dessa análise explica melhor os cinemas indígenas que são dispositivos que conectam diversas artes e são vias de comunicação entre diferentes povos. Os povos originários, a exemplos das diversas aldeias existentes no Brasil tem organização própria, a percepção do que é igualdade é mais justo nas aldeias indígenas do que nas tais sociedade civilizadas do homem ocidental branco do Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos. Antes do Quarto mundo temos o Primeiro Mundo (Estados Unidos, Canadá, países da Europa Ocidental e Japão), Segundo Mundo, países que faziam parte da extinta União soviética e leste europeu, Terceiro Mundo, o continente africano, com exceção da África do Sul, a Ásia não-soviética, a Oceânia sem a Austrália e a Nova Zelândia e a América Latina. Destaca-se entre os povos originários ( povos do quarto mundo) : a posse comum da terra, a organização para que todos tenham uma quantidade de bens equivalentes para sobrevivência, descartam a acumulação de bens materiais, trabalham em produção cooperativa, em geral tratam a natureza como entidade sagrada, provedora de alimentos que os sustentam e dão a manutenção da vida. Diferente da cultura capitalista que detém do consumo massivo material, midiático e do acúmulos desnecessários de bens, o sistema que impera é responsável pela exploração desenfreada dos recursos naturais para produção de plásticos, minérios presentes nos dispositivos eletrônicos que fazem parte do dia a dia de milhões, na produção de combustíveis fósseis para o abastecimento de inúmeros carros que emitem dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo ainda mais para o efeito estufa, ganhando força na presença de um agronegócio que ignora as mudanças climáticas, e a maior parte da opressão dos povos originários partem de latifundiários que não reconhecem a posse e demarcação de terras assegurados na lei brasileira, pelo contrário são esse grupo de interesse que conduzem a lei, passando impunes de ataques e mortes constantes a lideranças indígenas e desaparecimentos de ambientalistas que buscam a justiça do direito da propriedade de terra para esses povos. Ailton Krenak é uma figura chave na luta pelo direitos dos indígenas no Brasil, protagonizou uns dos acontecimentos mais emblemáticos no congresso nacional, ele fez parte da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a constituição brasileira de 1988, durante uma CPI de 1987, Krenak discursou na tribuna sua insatisfação com as políticas direcionadas aos indígenas brasileiros, enquanto pintava sua rosto de preto com jenipapo em um discurso emocionante é que ele mesmo cita como esse gesto político e artístico que ganha força com o uso da imagem captada pela câmera. O filme Território Pequi traz aspirações do cinema indígena em comparação com o modo de vida da sociedade capitalista que tem muito a aprender com os indígenas e suas filosofias de enxergar e sentir o mundo.
Bibliografia
- Filme
PEQUI, Território. Direção .Takumã Kuikuro . Brasil . Ano 2022. 22min
Sites
Instrumentos musicais indígenas. Disponível em: . Acesso em 01 de jan, 2025.
Bibliografia
SHOHAT, Ella. STAM. Robert. Crítica a imagem eurocêntrica. Editora Cosac & Naify. São Paulo- SP . 2006 ( p.67, p.69)
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Editora Papirus. Campinas – SP. 2001 ( p.136 – p.137, p.148 )
KRENAK, Ailton. Cosmologias da imagem: Cinemas de realização indígena. Filmes de Quintal. 1 ed. Belo Horizonte-MG . 2021 ( p.17 – p.30)
QUEIROZ, Ruben Caixeta de. Pé no chão, câmera na mão: pela autodeterminação dos povos, das artes e dos cinemas indígenas