Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia de Oliveira Iuva (UFSC)

Minicurrículo

    Patricia de Oliveira Iuva é professora do Curso de Cinema, na UFSC. Realizou estágio pós-doutoral na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Integrante do grupo de Pesquisa GPESC-BA (Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação – CNPq). Coordena e desenvolve o projeto de pesquisa “Diagramas semióticos pelas fronteiras entre biografias, cinema e literatura”.

Coautor

    Fabio Sadao Nakagawa (UFBA)

Ficha do Trabalho

Título

    Cine-escritura biodiagramática no cinema de Margarethe Von Trotta

Seminário

    Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema

Resumo

    O trabalho discute a cine-escritura biodiagramática enquanto um gesto de criação do cinema de Margarethe Von Trotta, tendo como base para análise os filmes Rosa Luxemburgo (1986) e Hannah Arendt (2012). Conjugamos um pensamento semiótico, com elementos da análise de criação e teoria de cineastas, no intuito de desvelar a cine-escritura de Von Trotta enquanto um ato teórico que evidencia uma fronteira estética e discursiva entre o biográfico e o histórico.

Resumo expandido

    Há mais de dois séculos a biografia acompanha a produção discursiva obsessiva, incansável e repleta de rastros, traços, inscrições da vida do outro (ou de si). Para além de uma proliferação de diferentes formas de manifestação da biografia, Arfuch (2010) argumenta que talvez o dilema central esteja localizado numa “tonalidade particular da subjetividade contemporânea”. Assim, para a autora o que estaria em jogo não diz respeito à diferença entre os gêneros discursivos, mas sim na sua coexistência.

    Compartilhando dessa inquietação, esta proposta dialoga com tais reflexões buscando construir um biodiagrama de Hannah Arendt e Rosa Luxemburgo a partir dos filmes dirigidos por Margarethe Von Trotta. Trata-se de indagar sobre as relações de sentido processadas entre linguagens e sistemas de signos culturais, a fim de compreendermos como se operam os gestos de criação de Von Trotta. Como afirma Machado “É como comunicação que códigos, linguagens, sistemas de signos interagem e autorregulam os movimentos da continuidade e da renovação fundamental para a geração de informação nova, que pode ser, agora, entendida num gradiente que vai do amplo processo de significação, à singularidade da interpretação e à explosividade do sentido” (2013, p.8).

    Ainda, é válido lembrar que para Décio Pignatari (1996), toda biografia pode ser entendida enquanto um biodiagrama, ou seja, um conjunto de signos (coleta de biografemas) para a montagem de uma biodiagramação. Para Pignatari a biografia se fundamenta na intencionalidade e na montagem de uma estratégia analítica para a interpretação da vida do outro, constituindo-se, portanto, numa narrativa, enquanto sistema de signos. Assim, uma biografia coloca o leitor ou usufruidor frente a um sistema de signos e não, necessariamente, face ao ser humano, cuja história é reconstruída. Daí que as subjetividades passam a se constituir enquanto narrativas. Por outro lado, importante ressaltar que o filme biográfico também é lido como instrumento de um cinema preocupado com a realidade histórica.

    Assim, é diante do panorama teórico-metodológico da semiótica da cultura, em consonância com a análise de criação, que os filmes Rosa Luxemburgo (1986) e Hannah Arendt (2012) perpassam um viés sistêmico a fim de que possamos compreender as fronteiras semiótico-estéticas das narrativas cinebiográficas e o modo como as mesmas se revelam enquanto atos teóricos de Margarethe Von Trotta.

    O recorte deste estudo, portanto, vislumbra que as criações cinematográficas de Margarethe Von Trotta, contaminadas pela memória dos textos culturais, sejam eles da esfera pública e de ordem política, ou da esfera privada e de ordem pessoal, configuram um cinepensamento, ou melhor, uma cine-escritura biodiagramática que reflete não somente a vida íntima de Hannah Arendt ou Rosa Luxemburgo, mas, principalmente, a atuação política e a sobrevivência de ambas como personalidades históricas femininas que hoje tem muito a dizer para as teorias e os movimentos feministas.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2012.
    BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Sao Paulo: Editora 34, 2016.
    FLUSSER, Vilém. Gestos. São Paulo: Annablume, 2014.
    LOTMAN, Iuri. La Semiosfera I: Semiótica de la Cultura e del Texto. Madri: Ediciones Cátedra, 1996
    MACHADO, Irene. Diagrama como problema semiótico: a atividade do Grupo de Pesquisa Semiótica da Comunicação. Revista Semeiosis, Vol. 1. São Paulo, 2013.