Ficha do Proponente
Proponente
- Thais Ponzoni (USP)
Minicurrículo
- Mestranda na linha de pesquisa Teatralidades e performatividades no programa de pós-graduação de Artes Cênicas na Universidade de São Paulo – ECA-USP, sob orientação do Prof. Dr. Cristian Borges. Licenciada em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade Estadual Paulista – Unesp. Especialista na Técnica Klauss Vianna pela PUC/SP. Integrante do Corpo Editorial da Revista Aspas na USP.
Ficha do Trabalho
Título
- O movimento coreográfico em Site e Trio Film
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- Analisaremos o movimento coreográfico de objetos inanimados diante da câmera em duas obras experimentais: Site (1965) de Stan Vanderbeek e Trio Film (1968) de Yvonne Rainer. A noção de “objeto como corpo”, proposta por Rainer (1974), será associada aqui à ideia de “quase sujeito” (Didi-Huberman, 2010), tanto pelo tipo de movimento executado como pela nudez que rompe com uma sexualidade óbvia a fim de refletirmos sobre as fronteiras entre linguagens e gêneros que aparecem nestes dois filmes.
Resumo expandido
- Relacionaremos, de modo comparativo, o movimento visto como dança em dois filmes experimentais dos anos 1960: Site (1965) de Stan Vanderbeek – feito a partir da performance homônima de Robert Morris com Carolee Schneemann – e Trio Film (1968) de Yvonne Rainer. Rainer e Morris, inspirados na obra de Édouard Manet – respectivamente, Olympia (1863) e Le déjeuner sur l’herbe (1862-63) –, partiram de imagens pictóricas bidimensionais a fim de aplicar um pensamento fundamentalmente coreográfico ao enquadramento da imagem e à condução da montagem. Se, por um lado, o escultor Robert Morris e a dançarina Yvonne Rainer voltaram as costas às artes plásticas e à dança no intuito de expandir seus limites, investigando uma escultura e uma dança no campo expandido, por outro, revelaram um interesse particular pelo movimento do objeto inanimado no cinema experimental. “O trabalho novo ampliou os termos da escultura através de um foco mais enfático nas próprias condições sob as quais certos tipos de objetos são vistos”, afirmou Morris (2024, p. 24), numa reflexão que parecia ressoar em Rainer na realização de Trio Film.
Site (1965) foi captado por Vanderbeek em 16 mm preto e branco, tem duração aproximada de 18 minutos, e apresenta Morris manipulando duas placas brancas de compensado, enquanto vela e desvela Schneemann nua, disposta na mesma pose que a Olympia de Manet. Um excerto desse filme foi lançado em cópia super-8 mm na edição 5-6 da prestigiosa revista de arte Aspen, em outubro de 1967, juntamente com o curta Rhythmus 21 (1921) de Hans Richter, o que levaria Colby Chamberlain (2009) a comparar o filme construtivista alemão ao movimento e à forma das placas de Morris: “os dois filmes são curiosamente semelhantes. Quando filmadas, as placas carecem de textura e profundidade; enquanto Morris as inclina e as desloca habilmente, elas remetem a nada menos que os retângulos flutuantes de Richter”.
Já Trio Film (1968), que foi igualmente captado em 16 mm preto e branco, tem duração aproximada de 14 minutos e mostra os dançarinos Becky Arnold e Steve Paxton executando uma variedade de movimentos coordenados com um grande balão branco. Como explica Rainer (1974): “as duas pessoas rolam o balão para frente e para trás, caminham com ele, dão cambalhotas em uníssono sobre o sofá, sentam-se nele e conversam”.
Tanto em Site como em Trio Film há em cena uma mulher, um homem, um sofá branco e um tipo singular de objeto inanimado (sejam as placas de compensado ou um balão cheio de ar) com o qual a figura humana interage. Enquanto Morris, com um par de luvas de trabalho, tenta equilibrar cada placa no ar até que ela caia, repetidamente, como uma dançarina ou um “quase sujeito” (Didi-Huberman, 2010, p. 67) executando uma queda – “uma espécie de minueto com as placas, equilibrando uma sobre as costas e lançando-a ao ar antes de novamente bloquear Schneemann da vista do público” (Chamberlain, 2009) –, Rainer apresenta uma “dança ordinária”, coloquial, igualmente composta por um trio. Trata-se de uma dança mínima, uma dança como tarefa, uma vez que o movimento coreográfico, em ambos os trios, está baseado no conceito de “objeto-como-corpo”, tal como abordado por Rainer nos anos 1960 (Rainer, 1974).
Por outro lado, enquanto Schneemann sustenta certa sensualidade na pose que remete à Olympia, Arnold apresenta uma nudez feminina sem fantasias e sem sedução, o corpo nu e cotidiano como “corpo performático” que exibe qualidades de movimento em ações do dia a dia, ao mesmo tempo que suprime qualquer sugestão do que seria um movimento sedutor. Pois a nudez, embora explícita, surge mais como um traje de cena, “vestindo” a própria pele da figura humana. Nesse sentido, mais do que a um erotismo óbvio, o espectador assiste a um casal elaborando partituras cotidianas coreografadas na sua intimidade.
Bibliografia
- CHAMBERLAIN, Colby. “Robert Morris”, in Artforum, 2009 (disponível em: , acesso em 2 de abril de 2025).
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010.
MORRIS, Robert. “Notas sobre Escultura & Notas sobre Escultura, parte 2 [1966], in Ars, v. 22, n. 50, 2024, p. 1-29.
RAINER, Yvonne. Work 1961-1973. Nova York: New York University Press, 1974.
SPIVEY, Virginia. “Sites of Subjectivity: Robert Morris, Minimalism, and Dance”, in Dance Research Journal, v. 36 , n. 1, verão de 2004 , p. 113-130.