Ficha do Proponente
Proponente
- Bernardo Schmitt (UFF)
Minicurrículo
- Bernardo Schmitt é bacharel em cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCINE – UFF) , onde cursa atualmento Doutorado, pesquisando sobre a história do cinema e da imigração em Santa Catarina.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema nas colônias Alemãs de Santa Catarina (1900 – 1945)
Resumo
- A apresentação busca traçar um histórico das origens e do desenvolvimento da atração cinematográfica no estado de Santa Catarina nas primeiras décadas do século XX, em particular nas maneiras com que o cinema se relacionou com a instituição cultural dominante da região no período, as associações recreativas – espaços dedicados à difusão de uma cultura pangermanista -, das quais o cinema na região herdou diversas de suas características e ideologias.
Resumo expandido
- Esta apresentação pretende traçar as origens particulares do espetáculo cinematográfico na região de colonização alemã em Santa Catarina e demonstrando suas diversas idiossincrasias quando comparada ao resto do país: seja no vínculo econômico dos primeiros exibidores teuto-brasileiros com a Alemanha, que determinou quais filmes e equipamentos eram importados na região; mas também na relação entre o cinema e as associações recreativas (verein).
Quando o cinema chegou em Santa Catarina, no final do século XIX, os imigrantes alemães que haviam se instalado no interior do território possuíam uma forte tradição cultural organizada nas chamadas associações recreativas: haviam associações dedicadas às mais diversas atividades, como caça, canto, teatro, literatura, ginástica e boliche. Estas instituições formavam o pilar da cultura e do entretenimento nas cidades de colonização alemã, eram locais de comunhão, que ofereciam para a comunidade diversão em conjunto com uma afirmação étnica e um sentimento de pertencimento a uma herança germânica, fortemente influenciada pelo pangermanismo do século XIX (Seyferth, 1999).
Desde a chegada dos primeiros aparelhos de projeção cinematográfica na região, no ano de 1900, o cinema esteve em constante relação com as associações recreativas. Não somente os salões das associações eram utilizados como espaços de exibição, mas os próprios filmes exibidos se conformavam a ideologia dos espaços: eram em sua maioria fitas alemãs, algumas com imagens corriqueiras do país, com locais e tradições germanicas, e outras de cunho mais diretamente nacionalista – imagens do Kaiser, do exército alemão e do chanceler Otto von Bismark.
Mesmo com a emergência dos primeiros espaços de exibição fixos na região, no final da década de 1900, o cinema e as associações recreativas continuaram compartilhando as mesmas bases: dividiam por vezes os mesmos espaços, dirigentes, funcionários e públicos. Em particular, o cinema na região reproduziu o principal aspecto ideológico das associações: a promoção de uma cultura associativa com bases étnicas germânicas. Nos cinemas de Brusque, Blumenau e Joinville não ocorriam apenas a exibição de filmes, mas também organizações políticas e manifestações culturais.
Neste trabalho, buscamos demonstrar o vínculo local entre estas duas instituições culturais que, pelas primeiras quatro décadas do século XX, dividiram a paisagem cultural da região, mostrando tanto as diversas maneiras com que elas convergiram, e também nas formas com que se apartaram. Este recorte temporal é marcado por uma série de mudanças culturais, sociais e políticas na região que culminam num processo descrito por Emílio Willems (1946) como “aculturação” das populações teuto-brasileiras da região, caracterizado por sua eventual assimilação à população geral do Brasil, com a perda de diversas especificidades culturais – particularmente o uso da língua alemã – que culminou no projeto de nacionalização do território durante o Estado Novo (1937 – 1945). Neste contexto particular, o cinema e as associações recreativas se configuraram enquanto campos de batalha ideológicos: nas telas da região, eram projetados desde ficções norte-americanos – legendados em portugues – musicais Alemães, cinejornais brasileiros, propagandas do governo nazista e curtas integralistas.
Desta forma, buscamos encontrar as diversas especialidades da maneira como o cinema chegou e se estabeleceu na região na primeira metade do século XX, as diversas práticas e ideologias que se formaram ao redor da nova atração e as diversas maneiras como os cinemas, e seus públicos, navegaram um periodo particularmente turbulento da história catarinense.
Bibliografia
- FUHRMANN, Wolfgang. German Films in Brazil: Immigration, Associations and National Film Culture. In: EGAN, Kate; SMITH, Martin Ian; TERRILL, Jamie (org.) Researching historical screen audiences. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2022
GERTZ, Renè E. O fascismo no sul do Brasil: Germanismo, Nazismo e Integralismo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
SCHMITT, Bernardo. O Cinematógrafo em Santa Catarina: 1897 – 1911. Dissertação (Mestrado em Cinema e Audiovisual) – Instituto de Arte e Comunicação Social, Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2024.
SEYFERTH, Giralda.As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no sul do Brasil: Kultur e etnicidade. In: TRAVESSIA – Revista Do Migrante, 12(34), 1999, p. 24–28.
WILLEMS, Emilio. A Aculturação dos Alemães no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1946