Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Jusciele Conceição Almeida de Oliveira (UFBA)

Minicurrículo

    Possui graduação em Letras Vernáculas pela UFBA (2006); Mestre em Literatura e Cultura (ILUFBA-UFBA, 2013); Doutora em Comunicação, Cultura e Artes (CIAC-UALG, Portugal, 2018), com bolsa da CAPES Doutorado Pleno no Exterior. Tem textos publicados nacional e internacionalmente sobre literatura, cinema e cultura africanas. Atualmente, realiza estágio pós-doutoral do Programa Comunicação e Cultura Contemporâneas (Facom/Ufba-CAPES PIPD-1/2024).

Coautor

    Morgana Gama de Lima (UFRB/UFBA)

Ficha do Trabalho

Título

    La vie est belle: musical e tradições orais nos cinemas africanos

Seminário

    (Re)existências negras e africanas no audiovisual: epistemes, fabulações e experiências

Resumo

    O filme “La vie est belle” (1987), além de dialogar com as convenções do gênero musical, dada a presença de personagens que cantam e dançam em cena, se diferencia por ser uma narrativa estruturada na “retórica do griot”, à medida em que as canções não pontuam apenas o ritmo da narrativa, mas são parte essenciais para se compreender a história que está sendo contada. Assim, o presente resumo propõe discutir a relação entre o gênero musical e as tradições orais neste filme.

Resumo expandido

    “La vie est belle” (1987) é uma comédia musical filmada na República Democrática do Congo, fruto de uma parceria entre o cineasta congolês Mwezé Ngangura e o belga Benoît Lamy. O filme narra a história de Kourou (interpretado pelo músico congolês Papa Wemba) que sai do seu vilarejo para se tornar um astro da música eletrônica em Kinshasa. Ele se torna empregado, engraxate, cantor de rua e homem de confiança do gerente de uma boate, até se apaixonar por Kabibi (Bibi Krubwa). Antes de dirigir esse longa-metragem de estreia, Mweze Ngangura havia dirigido o curta “Kinshasa…ou les joies douces-ameres de la Kin-la-belle” (1983), um documentário televisivo sobre “Kin-la-belle” (como também é conhecida a cidade de Kinshasa) retratando a cidade com suas casas noturnas, edifícios, trabalhadores e, principalmente, com suas expressões musicais, da rumba às danças tradicionais, acompanhadas por comentários do pintor congolês Chéri Samba. Muito da ambiência que irá compor o filme “La vie est belle” já estava presente nessa produção, incluindo o seu principal protagonista, Papa Wemba, entrevistado na produção. Em termos de gênero cinematográfico, o filme é considerado uma comédia musical e faz parte de uma geração de cineastas africanos que, diferente de pioneiros como Ousmane Sembène, se distanciava de um cinema mais “didático e de realismo social” e acreditava que o entretenimento e o riso também poderiam ser estratégias para a construção de narrativas que permitissem ir além da reflexão crítica de aspectos sociais e políticos. Inspirar-se na dinâmica de uma cidade para construir uma narrativa era ter a oportunidade de abordar “contrastes” internos presentes na cultura, como a relação entre oralidade e letramento; as diferenças entre o espaço tradicional e as modernidades do urbano africano. É nesse contexto que o cinema surge como uma forma de (des)construir a ideia de valorização da cultura local ao reunir a tecnologia da produção de imagens com formas tradicionais da comunicação oral (Garane, 2001), como as canções que constituem o musical do filme. Desde o começo do filme, as tradições orais africanas e as músicas funcionam como condutores da narrativa, quando, por exemplo, Kotou aparece tocando sua Kalimba (um piano de dedo), instrumento característico de alguns contadores de história, até pegar carona num carro de transporte onde se escuta uma música eletrônica, demonstrando a diversidade musical desse contexto. A canção principal, cujo título é homônimo do filme (La vie est belle), opera como um leitmotif que ao surgir em diferentes momentos da narrativa, remonta a uma repetição que é característica tanto do refrão musical, quanto da oralidade. A cada repetição o sentido da letra é ressignificado pela mise en scène do filme, ampliando o sentido da expressão “Oh, la vie est belle”. Nesse sentido, percebemos que o filme, além de dialogar com as convenções do gênero musical, dada a presença de personagens que cantam e dançam em cena, também se diferencia dos demais filmes desse gênero por ser uma narrativa estruturada naquilo que Mahomed Bamba (2020), denomina de “retórica do griot”, à medida em que as canções não pontuam apenas o ritmo da narrativa, mas são parte essenciais para se compreender a história que está sendo contada. Assim, o presente resumo propõe discutir a relação entre o gênero musical e as tradições orais no filme “La vie est belle”.

Bibliografia

    BAMBA, M.; MELEIRO, A. Filmes da África e da diáspora: objetos de discursos. Salvador: Edufba, 2012.
    ESTEVES, A. C.; OLIVEIRA, J. C. A. (orgs.). Cinemas africanos contemporâneos: abordagens críticas. São Paulo: Sesc, 2020. p. 77-94.

    GARANE, J. Orality in the City: Mweze Ngangura’s La Vie est belle and Raoul Peck’s Lumumba: La Mort du prophète. L’Esprit Créateur, v. 41, n. 3, p. 151-162, 2001.
    BAKARI, I.; CHAM, M. (eds.). African experiences of cinema. London: British Film Institute, 1996. p. 60-64
    LIMA, M. G. Griots modernos: por uma compreensão do uso de alegorias como recurso retórico em filmes africanos. Tese (Doutorado), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.
    OLIVEIRA, J. C. A. “Precisamos vestirmo-nos com a luz negra”: uma análise autoral nos cinemas africanos – o caso Flora Gomes. Tese (Doutorado), Universidade do Algarve (Portugal), 2018.
    UKADIKE, N. F. Black African Cinema. Berkeley, Los Angeles e Londres: University of California Press, 1994.