Ficha do Proponente
Proponente
- Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)
Minicurrículo
- Ludmila Moreira Macedo de Carvalho é professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Pesquisadora na área do cinema, infância e educação. Integra a coordenação da Rede Kino – Rede Latino-americana de Educação, Cinema e Audiovisual. Coordena o CineCecult, projeto de pesquisa e extensão que realiza ações de cinema e educação do Recôncavo desde 2018.
Ficha do Trabalho
Título
- O futuro (das imagens) é ancestral: pensando letramento digital a partir de brinquedos ópticos
Resumo
- Partimos de uma investigação a respeito das relações entre infância e os primórdios do cinema através da construção de brinquedos ópticos. A princípio, a construção de brinquedos antigos pode parecer anacrônica diante da realidade midiatizada em que vivem crianças e jovens atuais. No entanto, argumentamos que os brinquedos ópticos podem contribuir com o debate sobre educação midiática, compreendendo que as complexas relações entre juventudes e mídias remontam ao próprio nascimento do cinema.
Resumo expandido
- Esta comunicação apresenta resultados parciais de um projeto de pesquisa e extensão que consiste na elaboração de práticas pedagógicas de (re)construção de brinquedos ópticos, aparatos criados entre os anos 1830 e 1900 para demonstrar aspectos fisiológicos da visão. Partimos de uma investigação a respeito das relações entre a infância e a infância do cinema, questionando de que formas podemos fazer dialogar passado, presente e futuro através da construção de brinquedos ópticos.
A princípio, a construção destes brinquedos antigos pode parecer anacrônica diante da realidade profundamente midiatizada em que vivem crianças e jovens atuais. Afinal, qual seria a utilidade de criar um taumatrópio – um brinquedo de papel com quase 200 anos de idade – quando se pode gerar um GIF animado com um simples toque no celular?
No entanto, gostaríamos de argumentar que a relação das crianças com os brinquedos ópticos tem mais relevância para pensarmos a educação midiática nos dias atuais do que pode parecer à primeira vista. Tomando como inspiração o pensamento do intelectual indígena Ailton Krenak (2022), segundo o qual o futuro é ancestral, percebemos que a discussão a respeito do uso das tecnologias audiovisuais por crianças e jovens não é uma exclusividade do nosso tempo. A relação entre a infância e a cultura visual é tão antiga quanto o próprio cinema. A existência de aparatos destinados à investigação da percepção visual construídos enquanto brinquedos nos comprova algo muito importante: crianças e jovens sempre estiveram na origem da cultura que produziu o sujeito-espectador da era moderna. Ao colocar a criança e a brincadeira no centro da experiência, os brinquedos ópticos tiveram um papel fundamental na construção da ideia da criança enquanto consumidora, mas também produtora de imagens.
Dessa forma, consideramos que olhar para esses brinquedos antigos nos ajuda sobremaneira a compreender as relações contemporâneas entre crianças, jovens e mídias. Hoje em dia, os debates em torno do uso de telas em contextos educacionais, os efeitos e influências das mídias sociais na percepção de mundo e de si dos jovens, e os imperativos comerciais e políticos por trás do consumo e da dependência das tecnologias digitais são apenas algumas das preocupações das instituições ligadas ao cuidado e educação das crianças, como a família, a escola e o Estado. Partindo desse princípio, podemos argumentar que há mais ligações entre os brinquedos ópticos do início do cinema e os vídeos que os jovens fazem para o Tik Tok hoje em dia do que nos pode fazer pensar os quase 200 anos que os separam.
Afirmar que “o futuro é ancestral” envolve reconhecer que as inovações, as novidades que nos fazem prospectar um futuro não existem de forma isolada no tempo, sem ligações complexas com o que já existia antes. Podemos fazer dialogar este pensamento com a abordagem conhecida no campo da comunicação como arqueologia das mídias, ao sugerir um olhar a respeito das inovações tecnológicas audiovisuais que, embora histórico, não se pretende teleológico ou mesmo linear. De acordo com essa perspectiva, não se pode pensar uma única e linear história do audiovisual, uma vez que a História em si é cíclica, heterogênea, feita de rupturas e recomeços. No caso do cinema, o desenvolvimento tecnológico dos aparatos de produção de imagens é especialmente rico em experiências que se conectam de formas complexas com aquilo que permanece no tempo.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
BAK, Meredith A. Playful Visions: Optical Toys and the Emergence of Children’s Media Culture. Reino Unido: MIT Press, 2020.
CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: On vision and modernity in the nineteenth century. MIT press, 1992.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Sesc, 2018.
GUNNING, Tom. The Cinema of Attraction[s]: Early Film, Its Spectator and the Avant-Garde. In STRAUVEN, Wanda (Ed.). The cinema of attractions reloaded. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2006.
KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. Brasil: Companhia das Letras, 2022.
OUBIÑA, David. Una juguetería filosófica: Cine, cronofotografía y arte digital. Buenos Aires: Ediciones Manantial, 2022.
VEGA, Alicia. Cadernos Alicia Vega. 3 vols. Rio de Janeiro: Multifoco, 2023.