Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Glauber Brito Matos Lacerda (Uesb)

Minicurrículo

    Pesquisador e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jornalista por formação, é mestre em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS/UESB) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PPGCOM/UFBA). Atualmente, pesquisa poéticas sonoras em filmes de não ficção, com ênfase ao Noticiero Icaic Latinoamericano (1960-1990), cinejornal da revolução cubana.

Ficha do Trabalho

Título

    Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado: Jazz, Mambo e a Geopolítica de Fidel Castro na ONU (1960)

Seminário

    Histórias e tecnologias do som no audiovisual

Resumo

    Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado (2024), de Johan Grimonprez, reconstrói a trama do assassinato do primeiro ministro congolês Patrice Lumumba a partir de imagens de arquivo e músicas pré-existentes. A análise investiga como a remontagem de arquivos do Noticiero ICAIC, articulada a performances musicais, constrói uma narrativa de solidariedade transnacional e reposiciona Fidel Castro como líder anti-imperialista no contexto da Guerra Fria.

Resumo expandido

    Trilha Sonora Para um Golpe de Estado (Soundtrack to a Coup d’Etat. Johan Grimonprez. Bélgica/França/Países Baixos, 2024) expõe a trama por trás do assassinato do líder congolês Patrice Lumumba, após a independência do país frente ao julgo imperial e colonial da Bélgica (1885-1960). Em 1960, a Organização das Nações Unidas (ONU) admitiu 16 novos países africanos. Os novos territórios independentes fortaleceriam o movimento dos países não-alinhados no embate contra as potências coloniais, neocoloniais e imperiais. Do outro lado tabuleiro geopolítico, o Departamento de Estado dos Estados Unidos enviava astros do Jazz para o Oriente Médio e para África a fim de disseminar os valores estadunidense e ampliar a influência dos EUA pelo mundo. Em meio a esse cenário, uma turnê de Louis Armstrong serviu de cortina de fumaça para o complô que resultou na prisão e no assassinato de Lumumba.
    O filme se constitui de arquivos diversos – revistas, fotografias e filmagens de família, documentários, cartas, cinejornais, entre outros – acompanhados por músicas e registros audiovisuais de performances jazzísticas, tais como Dizzy Gillespie, Duke Ellington e Nina Simone. O Jazz, em meio a tecitura de imagens e sons, assume sentidos diversos, transitando entre a pura fruição dos números musicais, um signo de resistência internacionalista do povo negro e, contraditoriamente, uma ferramenta imperialista do soft power dos Estados Unidos.
    No calor dos acontecimentos que ocuparam os debates internacionais no alvorecer da década de 1960, Fidel Castro foi para Nova Iorque para participar da 15ª Assembleia Geral da ONU. A passagem do comandante cubano pelos EUA foi marcada por episódios de grande repercussão internacional, como seu encontro com Malcolm X e Nikita Khrushchev, marcos do apoio de Cuba às lutas pelos direitos civis da população negra estadunidense e da aproximação econômica e ideológica do país caribenho com a União Soviética, respectivamente.
    Parte significativa das imagens e sons que compõem a sequência da passagem de Fidel Castro por Nova Iorque são oriundas de três edições do Noticiero ICAIC Latinoamericano (1960-1990), cinejornal cubano, lançadas entre setembro e outubro de 1960. Os arquivos são atravessados por sons de ensaio de Dizzy Gillespie, pelo mambo de Pérez Prado e pelo solo de trombone de Melba Liston. Além da música funcionar como um signo de identidade cubana, os números musicais justapostos aos arquivos e que também atravessam as imagens e se mesclam aos sons originais do Noticiero, operam para produzir um sentido de solidariedade transnacional entre os povos oprimidos do mundo, representados no documentário pelas lideranças terceiro-mundistas e por ícones da cultura negra norte-americana.
    A presente análise explora as estratégias poéticas nas articulações das imagens e sons do Noticiero ICAIC com os demais arquivos imagéticos-sonoros do filme, principalmente, com o repertório musical presente na obra, no intuito de posicionar Fidel Castro como um agente importante no cenário geopolítico que se descortinava naquele então.

Bibliografia

    CURSINO, Adriana. Poesia em Forma de Imagem: Arquivo nas práticas experimentais do cinema. Curitiba: Appris Editora, 2022.

    LACERDA, Glauber; VILLAÇA, Mariana. “Estudo, trabalho, fuzil” e rock em Cuba: a música dos Beatles no Noticiero Icaic Latinoamericano (1965-1972). ArtCultura, Uberlândia, v. 25, n. 46, p. 204-223, jan.-jun. 2023.

    MAHLER, A. G. From the Tricontinental to the Global South – Race, Radicalism, and Transnational Solidarity. Nova York: Duke University Press, 2018.

    SMITH, Stewart (Entrevista). A trilha sonora de um golpe de Estado. Entrevista traduzida por: SILVA, Pedro. Jacobin Brasil, fev. 2025. Disponível em: https://jacobin.com.br/2025/02/a-trilha-sonora-de-um-golpe-de-estado/. Acesso em: 3 abr. 2025.

    PERROTTET, Tony. Fidel Castro’s secret love affair with NYC. BBC Travel, 24 set. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/travel/article/20190924-fidel-castros-secret-love-affair-with-nyc. Acesso em: 3 abr. 2024.