Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos (ECO/ UFRJ)

Minicurrículo

    Professora do Programa de Pós-Graduação Mídias Criativas da ECO/UFRJ, pesquisa inter-relações entre Documentário, Artes Visuais e Questões de Gênero. Mestrado e Doutorado sobre Arthur Omar.Pesquisa PósDoc (2022) FBAUL,acerca das experimentalidades no cinema de mulheres lusófonas. Autora de artigos e capítulos de livros sobre documentário, filme-ensaio e cinema experimental. Realizadora: Pixador(2000) Café com leite(2008) Por parte de pai(2018).Série Documental, Herdeiras de abril: em preparação.

Ficha do Trabalho

Título

    Mulheres, Memória e Resistência: A Construção de uma Série Documental sobre Cineastas Lusófonas

Resumo

    A guinada teórica nos estudos do feminino no cinema se intensifica nos 1970s, com a entrada de mulheres como realizadoras, impulsionadas por transformações político-sociais.Reflete-se aqui acerca da construção de uma série-documental sobre cineastas lusófonas, estruturada como filme de montagem/experimental, articulando gênero, memória, resistência, a partir dos ecos da Revolução dos Cravos e da Libertação das Colônias Africanas presentes em certas obras de realizadoras lusófonas contemporâneas.

Resumo expandido

    A guinada teórica nos estudos do feminino no cinema se intensifica nos anos 1970, coincide com a entrada das mulheres como realizadoras, impulsionadas por um momento singular de transformação político/social.No contexto lusófono, a Revolução dos Cravos (1974) e as Independências Africanas abrem espaço p novas cineastas e a abordagem crítica sobre gênero, memória e colonialismo no audiovisual. O movimento cinematográfico é acompanhado por publicações recentes q consolidam os Estudos de Mulheres no Cinema: trabalhos organizados por Karla Holanda, traçam panorama das cineastas e suas estratégias narrativas e estéticas; pesquisas de Mariana Liz & Hilary Owen, analisam a produção cinematográfica feminina em Portugal; estudos de Erika Balsom sobre documentário experimental e a materialidade das imagens, ampliam reflexões sobre relações entre feminismo e formas audiovisuais híbridas. A partir desse contexto teórico e histórico, esta apresentação discute a construção de uma série documental sobre cineastas lusófonas, abordando trajetórias e contribuições ao cinema contemporâneo.O projeto já conta com 14 entrevistas realizadas com 3 gerações de realizadoras que se conectam c a Revolução dos Cravos e c as Revoluções da Independência Africana. A 1ª geração, viveu o momento revolucionário de 1974-80 e participou da criação de filmes coletivos: Margarida Gil, Manuela Serra, Monique Rutler e Solveig Nordlund. Uma 2ª geração, cresceu durante esse período, sem vivenciá-lo como adultas suas obras tematizam esse momento: Susana de Sousa Dias, Margarida Cardoso, Catarina Alves Costa e a angolana Pocas Pascoal.A 3ª geração, formada por diretoras nascidas no final dos 1970s e 1980s: Raquel Freire, Cláudia Varejão, Catarina Simão,Filipa César e a guineense Vanessa Fernandes. As brasileiras Tila Chitunda, filha de refugiados angolanos que fugiram da guerra pós-independência para o Brasil, tem trajetória similar a de Pascoal, cujos pais buscaram refúgio na França. Maíra Zanun, residente em Lisboa, curadora da Mostra Internacional de Cinema Africano e fundadora da Nega Filmes. Aline Motta propõe abordagens decoloniais e explora novas formas audiovisuais, como videoinstalações. O formato da série-documental se estrutura como um filme de montagem, com grande abertura para experimentação formal, articulando gênero, memória e resistência. A proposta analisa as estratégias narrativas e formais adotadas para evitar uma abordagem didática ou ilustrativa, afastando-se de um modelo convencional de documentário televisivo ou expositivo. O objetivo é construir uma experiência que vá além do testemunho, explorando a fragmentação das imagens e sons como forma de articular diferentes temporalidades e discursos. A escolha pelo formato de série amplia as possibilidades narrativas, permitindo explorar diferentes temáticas e abordagens em episódios interligados, ao mesmo tempo em que acompanha a diversidade de trajetórias e estilos das realizadoras entrevistadas. Esse modelo possibilita que cada episódio funcione como um núcleo de reflexão, abordando aspectos específicos da produção cinematográfica feminina lusófona e suas conexões históricas e estéticas. Por fim, a série busca contribuir para um olhar crítico sobre o cinema afrolusobrasileiro no feminino, revisitando as heranças das Revoluções dos anos 1970 e das lutas anticoloniais a partir das vozes das cineastas que, direta ou indiretamente, dialogam com esses processos históricos. Com esta apresentação, pretende-se discutir não apenas a construção da série documental, mas também o seu posicionamento crítico dentro dos Estudos de Mulheres no Cinema e no Documentário Experimental. O objetivo, evidenciar como essa abordagem híbrida e não-linear pode contribuir para novas formas de representação e resistência no audiovisual contemporâneo, para isso, vamos focar 3 cineastas-artistas q exploram novas mídias e aprofundam a investigação sobre arquivos e memória: Filipa César, Susana de Sousa Dias e Catarina Simão.

Bibliografia

    BALSON, E and PELEG H. (eds) (2024) Feminist Worldmaking and the Moving Image. The MIT Press Cambridge. Massachusetts and London. England.
    FRENCH, L. (2021). The Female Gaze in Documentary Film, an International Perspective. Palgrave Macmilan.
    HOLANDA.K. (2015). Documentaristas brasileiras e as vozes feminina e masculina. Revista Significação, v.42, n49, (p. 339).
    LIZ, M. e OWEN, H. (2023) Realizadoras Portuguesas, cinema no feminino na era contemporânea. Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais.
    PUCCINI, S. (2009) Roteiro de Documentário, da pré-produção à produção.São Paulo. Papirus.