Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Thiago Freitas Rosestolato (UFF)

Minicurrículo

    Thiago Rosestolato é diretor, preparador de atores e mestrando em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal Fluminense (UFF). No mercado do cinema, dirigiu curtas, série, preparou atores para longas e trabalhou anos como ass. de direção. Na pesquisa acadêmica, dedica-se nos estudos do campo da atmosfera cinematográfica e as suas ramificações nas teorias dos afetos e sensorialidade.

Ficha do Trabalho

Título

    A atmosfera dramática e os círculos de atenção de Stanislavski

Eixo Temático

    ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS

Resumo

    Esta pesquisa busca investigar a relação entre o conceito de atmosfera dramática, teorizado por Inês Gil, e os três círculos de atenção, desenvolvido pelo russo Constantin Stanislavski, colocando este último como ferramenta de construção e delineamento deste primeiro.

Resumo expandido

    Este estudo investiga a relação entre o conceito de atmosfera dramática no cinema e os três círculos de atenção desenvolvidos por Constantin Stanislavski, pioneiro na sistematização da atuação realista. A atmosfera dramática, conforme apontado por Gil (2005), é expressa essencialmente pela ação fílmica, incluindo a representação dos atores.

    Nesse sentido, a materialidade dos corpos em cena desempenha um papel fundamental na construção da atmosfera dramática, pois os atores emanam afetos no espaço, (re)configurando a sensorialidade do momento presente. Paralelamente, Stanislavski, reconhecido mundialmente por difundir o método de atuação realista, teorizou sobre os círculos de atenção em cena. Segundo o autor, a atenção do ator pode ser segmentada em três níveis: (i) o círculo menor, que se restringe ao próprio ator; (ii) o círculo médio, que abrange elementos próximos, como a mesa, a cadeira e outros objetos ao seu alcance; e (iii) o círculo maior, que envolve todo o palco, incluindo os demais atores e até mesmo o público (STANISLAVSKI, 1984).

    O conceito de círculos de atenção foi concebido por Stanislavski não apenas como um meio de auxiliar o ator na concentração em cena, mas também para ampliar sua percepção sobre o espaço ao seu redor. Essa “consciência expandida do ambiente” pode influenciar significativamente seu comportamento e, consequentemente, a atmosfera dramática da cena. Com base nisso, levanta-se a hipótese de que o terceiro círculo de atenção possui uma relação direta com a atmosfera dramática, pois está vinculado à consciência corporal e espacial do ator, abrangendo não apenas o palco, mas também elementos fora do espaço cênico imediato.

    Por exemplo, ao interpretar um personagem situado em uma casa dentro de uma cidade em guerra, mesmo que explosões ou disparos não estejam ocorrendo naquele momento, a consciência dessa realidade externa (localizada no terceiro círculo de atenção) inevitavelmente influencia o comportamento do ator em cena. Esse impacto reverbera em seus afetos, na sua sensorialidade e, por consequência, na atmosfera dramática da cena. Afinal, conforme Binswanger apud Gil (2005, p.19), a atmosfera dramática é “por natureza subjetiva, pois emerge da realidade afetiva dos indivíduos que a projetam no espaço”.

    Se, conforme Gernot Böhme (1998, p.112), as atmosferas são manifestações resultantes da copresença entre sujeito e objeto, pode-se inferir que um ator, ao desempenhar determinada ação ou assumir um estado emocional específico em cena, gera atmosferas dramáticas. Complementarmente, os estudos de Hans Ulrich Gumbrecht (2014) sugerem que as atmosferas podem, em determinadas situações, tornar-se diluídas ou invisíveis, funcionando como um “ar” que permeia momentos de desespero ou melancolia. Esse “ar” influencia os corpos que o experienciam, reforçando a ideia de que a atmosfera não apenas é sentida, mas também transmitida. Assim, considerando que toda atmosfera se manifesta dentro de um determinado espaço, os círculos de atenção podem ser compreendidos como estruturas que delimitam e moldam a maneira como essas atmosferas emergem e se desenvolvem no espaço cênico.

    Dessa forma, esta pesquisa busca analisar as interseções, convergências e divergências entre esses dois conceitos — atmosfera dramática e círculos de atenção —, os quais, até o momento, não foram amplamente explorados em conjunto no meio acadêmico, uma vez que pertencem a campos de estudo distintos. Além disso, este trabalho integra a pesquisa de mestrado “A atmosfera cinematográfica e os seus meios criativos: O Cinema de Yorgos Lanthimos”, dando continuidade às investigações sobre os afetos e sua relação com a atmosfera no cinema.

Bibliografia

    – ALSCHITZ, Jurij. 40 questões para um papel; Tradução de Marina Luizovna. São Paulo: Perspectiva, 2012.

    – BÖHME, Gernot. Atmosphere as an aesthetic concept. Daidalos, n42/43, p.112-115. 1998

    – Chekhov, Miachael. Para o Ator. WMF Martins Fontes, 4 Edição. 2010.

    – GIL, Inês. A atmosfera no cinema: o caso de A Sombra do Caçador de Charles Laughton entre o onirismo e realismo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2005.

    – GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: Contraponto: PUC Rio, 2014.

    – STANISLAVSKI, Constantin. A criação de um papel. Tradução de Pontes de Lima Paula. – 20 edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022.

    – STANISLAVSKI, Constantin. A Construção da Personagem. Tradução de Pontes de Paula Lima. 17ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

    – STANISLAVSKI, Constantin. A preparação do ator. Tradução de Pontes de Paula Lima. 33ª Edição. 201