Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Antonio Tavares de Sousa Neto (USP)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual (UFC) e mestrando no Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da USP, além de aluno da Escola de Arte Dramática (EAD). Membro do Outro Grupo de Teatro, trabalha como ator e produtor cultural, e é um dos idealizadores do projeto “Pausa Para o Fim do Mundo”.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemão: através da superfície, por meio da atmosfera

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    Contribuindo com os esforços, por parte dos estudos de cinema, para se pensar os locais de exibição de filmes pornográficos – popularmente conhecidos como “cinemão” –, conjugarei as noções de “atmosfera de projeção” (Bruno, 2022) e “atmosfera queer” (Lira, 2021), na fronteira entre cinema e arquitetura, a fim de refletir sobre os modos como os corpos se relacionam com essa materialidade tão marginalizada quanto complexa.

Resumo expandido

    Reflexões que envolvem o cinema pornográfico adquiriram novos caminhos a partir do surgimento dos Porns Studies , que tornaram possíveis pesquisas acadêmicas sobre a pornografia dentro do campo do cinema (Preciado, 2018). Linda Williams (2004) entende a imagem pornográfica como parte do conjunto de imagens de representações do corpo, através da qual a reação involuntária do espectador é considerada por ela como um dos elementos da relação entre o tátil e o visual no cinema.

    Parto dessa perspectiva para estudar os chamados “cinemões”: locais de exibição de filmes pornográficos. Alguns têm uma grande tela, mas vários deles preferem as pequenas, seja por meio de projetores ou televisores. Os pequenos corredores importam tanto ou até mais do que as “arquibancadas”. A luz da projeção, enquanto materialidade, importa tanto ou até mais do que o conteúdo que está sendo projetado nas diferentes telas. Uma ida ao cinemão pode ter como objetivo puro e simples o gozo; mas pode também ter como objetivo ver ou ser visto frente à projeção; ou ainda, dentre os mais misteriosos, permanecer quase o tempo todo na ausência de luz, nos chamados darkrooms, à espera de alguém que se aproxime no breu. Ou seja, muitas são as motivações e formas de aproximação, performance e visualização que as pessoas constroem com o cinemão; mas meu objetivo não é catalogá-las e sim identificar algo mais importante para este estudo: as relações que se estabelecem entre os corpos, que estão ali presentificados, com a arquitetura e com o cinema.

    Para isso, recorro a Giuliana Bruno (2022), que elaborou uma história cultural dos domínios da projeção, da atmosfera e do ambiente, buscando entender o que ela chama de “ambientalidade”: o envolvimento estético com um ambiente, que não é só físico, mas também mental. Na sala de cinema convencional, o cinema é o ambiente, enquanto que nas galerias de arte – e incluo nessa perspectiva até mesmo o cinemão – a projeção cria um ambiente. Para a autora, a tela de projeção é um meio ambiental e o fluxo de projeção – a luz que passa pelo ar – cria a possibilidade de envolver os espectadores em um espaço, ao mesmo tempo que transforma o próprio espaço.

    Trata-se de considerar a projeção não mais como um dispositivo apenas óptico e perspectivo, mas sobretudo como um meio relacional, háptico e ambiental. Para a autora, a atmosfera de projeção pode produzir relações físicas, psíquicas, emocionais e sociais entre os materiais e os sujeitos envolvidos, mediados pela projeção. Com este estudo, buscarei aproximar essas elaborações ao que José Lira (2021) chama de atmosferas queer. Esse conceito diz respeito à constituição de certas atmosferas espaciais entendidas como sexuais, eróticas e performaticamente constituídas. Segundo o autor, são situações físicas, materiais e, sobretudo, simbólicas, que “se definem e redefinem em função de certas práticas e experiências eróticas, às vezes erráticas e frequentemente sem autoria, fugidias, insurgentes, mais ou menos toleradas e mais ou menos reprimidas” (idem).

    Aproximo o cinemão, por meio da minha experiência no Cine Arena (Fortaleza-CE), dessas ideias, articulando a atmosfera de projeção e a queer, de modo que nos permita ver o cinemão a partir de suas relações materiais, entendendo particularmente como os corpos se relacionam com essa materialidade para compor com esse cinema.

Bibliografia

    BETSKY, Aaron. Queer space: architecture and same-sex desire. Nova York: William Morrow and Company Inc., 1997.

    BRUNO, Giuliana. Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture and Film. Londres e Nova York: Verso, 2002.

    _________. Atmospheres of Projection: Environmentality in Art and Screen Media. Chicago: The University of Chicago Press, 2022.

    LIRA, José Tavares Correia de. “Sexo e Arquitetura na Cidade”, in FAU Encontros: Sexo e Arquitetura na Cidade, março de 2021. Disponível em: https://www.fau.usp.br/eventos/fau-encontros-sexo-e-arquitetura-da-cidade/. Acesso em: 09 set. 2024.

    MAIA, Helder Thiago Cordeiro. Cine(mão): espaços e subjetividades darkroom. Salvador: Devires, 2018.

    PRECIADO, Paul B. “Museu, lixo urbano e pornografia”, in Revista Periódicus, v. 1, n. 8, p. 20-31, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/23686. Acesso em: 8 nov. 2022.