Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Machado de Araújo (UnB)
Minicurrículo
- Gabriel Machado é bacharel em Audiovisual e mestrando em comunicação pela Universidade de Brasília. Sócio da produtora Ada Audiovisual, trabalha no cinema desde 2016 nas funções de Diretor, Assistente de Direção, Diretor de Fotografia e Roteirista. Atualmente trabalha na pré de seu primeiro longa-metragem como diretor, realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e do FAC-DF.
Ficha do Trabalho
Título
- “O gênero de horror cósmico no cinema: uma análise semântico-sintática”.
Seminário
- Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual
Resumo
- O artigo tem como objetivo analisar os elementos definidores do Horror Cósmico como gênero, partindo da teoria semântico-sintática de Rick Altman.O subgênero, tradicionalmente associado à obra e influência de H.P. Lovecraft, se caracteriza fundamentalmente pelo uso do desconhecido e do incompreensível como bases para o horror, enfatizando a insignificância humana diante da vastidão do universo.
Resumo expandido
- Buscando mapear o horror cósmico no cinema, este trabalho utiliza como arcabouço a teoria semântico-sintática de Rick Altman (1984). O próprio conceito de horror ou terror não está delimitado precisamente, com diferentes autores expondo visão conflitantes acerca da distinção. Enquanto Radcliffe (1826) e King (2013) trabalham a diferença de terror e horror dentro de uma perspectiva hierárquica, onde o terror seria superior e mais refinado, Carroll (1999), por exemplo parte para outra definição, tomando “terror” como algo que causa o afeto de aterrorizar pela exploração psicológica de fenômenos humanos, ao passo em que “horror” seria ligado a aspectos sobrenaturais que transgridem as normas ontológicas do mundo narrativo. No cinema, Carroll também argumenta que certos gêneros, como suspense, horror têm sua classificação advinda de capacidade deliberada de provocar certo afeto (affect), e que, de fato, nestes caso mencionados, o próprio nome de cada um destes gêneros é diretamente derivado dos afetos que desejam provocar.
Compreendendo algumas definições de “horror”, parte-se para a delimitação do horror cósmico aplicado ao cinema, usando a abordagem de Altman como partida, que mostra-se muito útil como instrumento de autópsia de gêneros. A dimensão semântica refere-se a elementos básicos que compõem um gênero: tipos de personagens, cenários, temas e técnicas cinematográficas recorrentes. A dimensão sintática, por sua vez, relaciona-se às estruturas narrativas e às relações de significado estabelecidas entre estes elementos.
O horror cósmico surge entre o final do século XIX e início do XX, desenvolvendo-se a partir da literatura de terror e weird fiction. Embora frequentemente chamado “lovecraftiano” devido à influência de H.P. Lovecraft, não se limita a adaptações de suas obras. Em análise, é possível perceber que embora utilize de vários aspectos semânticos que tornaram-se tropos facilmente identificáveis — como tentáculos, o oceano, espaço sideral, dimensões paralelas ruínas antigas, comunidades isoladas, cultistas, alienígenas, dentre outros — em última análise, o gênero define-se essencialmente pelos seus elementos sintáticos.
A sintaxe do horror cósmico estrutura-se fundamentalmente em torno da insignificância humana diante de forças cósmicas. Na tradição lovecraftiana original, essa insignificância manifesta-se através de um niilismo radical, contudo, a evolução do gênero demonstra uma diversidade maior de abordagens, sendo possível localizar as obras de forma cartesiana em eixos “niilismo-existencialismo” e “esotérico-cientificismo”. E é a partir da sintaxe que o cósmico é capaz de dar significado a seus elementos semânticos: por exemplo,a transformação corporal no horror cósmico difere do horror corporal clássico ao utilizar esse elemento semântico dentro de uma sintaxe própria que trabalha a transformação em um patamar existencial no nível de espécie, abordando questões fundamentais sobre a natureza da existência, evolução e lugar da espécie humana no universo. Outro elemento sintático extremamente relevante é a loucura cósmica, que representa um processo de ruína epistemológica onde a ampliação da consciência se revela devastadora. Não se trata de mera desorganização mental, mas de uma revelação traumática onde a percepção momentaneamente compreende dimensões que ultrapassam a capacidade cognitiva humana, resultando em um conhecimento insuportável — como uma formiga que pudesse por um instante compreender um semicondutor, e ao retornar ao estado de formiga, não tivesse arcabouço mental para compreender o grau da tecnologia humana.
Assim, ao compreender os elementos definidores de um gênero, é possível mapear as características e localizar uma obra, seja perto do núcleo duro ou em zonas difusas e em intersecções de diferentes subgêneros. Por esta perspectiva, é possível imaginar gênero não como uma caixinha onde os filmes são colocados, mas como etiquetas —sem hierarquia vertical — que podem ser atribuídas a obras.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Film/Genre. 2ª edição. British Film Institute, 1999.
ALTMAN, Rick. A Semantic/Syntactic Approach To Film Genre. University of Texas Press, 1984.
CARROL, Noël. A filosofia do horror ou Paradoxos do coração. São Paulo: Papirus, 1999.
FILHO, Lúcio Reis. O Fantástico Horrífico E A Inadaptabilidade De Lovecraft Revisitada. Projetium, 2023.
LOVECRAFT, Howard Phillips. O horror sobrenatural na literatura. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987.
LOVECRAFT, H. P.; JOSHI, S. T. (Ed.). The Annotated Supernatural Horror in Literature: Revised and Enlarged. Hippocampus Press, 2013.
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VARMA, Devendra P. The Gothic Flame. Arthur Barker LTDA, 1923
VOGEL, Peter S. SCOTUS: From Pornography’s ‘I Know It When I See It’ to Social Media’s ‘I Don’t Get It’. E-Commerce Times, 8 dez. 2010.
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