Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Murilo Simões (UFF)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema pela UFF (2023) e em Ciências Sociais pela Unicamp (2013). Assistente de Direção no programa “Manual de Sobrevivência para o Séc. XXI”, do Canal Futura. Diretor dos curtas “Menino de Areia”, Edital LabCurta 2021 e “Deixe o Sol” (2019). Na UFF, captou e editou material audiovisual para o Centro de Artes. Crítico na Revista Ganga Bruta, cobriu a 21ª e a 22ª Mostras de Cinema de Tiradentes. Curador do cineclube Película Livre em Campinas e palestrante em oficinas no FICA (MG).

Ficha do Trabalho

Título

    Pornotopia e Desejo Masculino Hétero no Cinema de Horror de Fauzi Mansur (1976-1986)

Seminário

    Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual

Resumo

    Como recorte de pesquisa de mestrado, este trabalho propõe investigar, ao longo da vasta filmografia que Fauzi Mansur realiza dentro do gênero de horror na Boca do Lixo entre os anos 1970 e 1980, os elementos narrativos e estéticos através dos quais um regime de verossimilhança pautado pelo conceito de pornotopia age em favor de diferentes manifestações de um certo desejo hétero-masculino reconhecido socialmente como hegemônico, desenvolvendo-se através do elemento grotesco no período explícito.

Resumo expandido

    Fauzi Mansur realiza seus filmes no contexto cultural da Boca do Lixo, inserindo-se em um ciclo de produções denominado à sua época “pornochanchada”. O conceito foi cunhado pejorativamente pela imprensa, e incorporado pela publicidade das próprias obras, na primeira metade dos anos 1970 a partir da junção da palavra “chanchada”, referente às comédias dos anos 1940 e 1950, com o prefixo abreviado de “pornografia”, pretendendo assim designar um suposto gênero de comédias eróticas que estavam sendo produzidas em massa e atingindo grande apelo popular. Acontece, porém, que o escopo de filmes realizados pelo cineasta não compreende apenas comédias, mas também dramas, melodramas, de cangaço, históricos, musicais, de aventura, e, especialmente, de horror, gênero pelo qual ele é lembrado por seis filmes (número superado apenas por José Mojica Marins) na lista de Carlos Primati “100 Filmes Brasileiros de Horror que Devem Ser Vistos” (disponível em: https://www.imdb.com/list/ls070258047/. Acesso em: 04 abr. 2025).

    Este trabalho pretende investigar, ao longo deste recorte delimitado, as diferentes maneiras como um regime de verossimilhança pautado pelo absurdo parece operar sempre em favor da construção, legitimação e realização de alguma fantasia relativa à masculinidade heterossexual hegemônica. Este regime, operante em filmes de horror como “A Noite das Fêmeas” (1976) e “Sadismo – Aberrações Sexuais” (1983), age retirando os personagens do mundo comum, mergulhando-os em terrenos cada vez mais seguros, conforme as obras se desenvolvem em sequência cronológica, para a circulação e a perpetuação do desejo masculino hétero. Variáveis em seu conteúdo, essas diegeses internas aos filmes constituiriam sempre verdadeiras distopias para estes homens que as habitam, como se a vontade de uma entidade masculina extradiegética criadora regesse as regras de uma realidade onde desejos determinados circulam e se expressam.

    Com a progressiva adesão ao sexo explícito (devido, em parte, ao refreamento da censura e à entrada em cena do competitivo produto pornográfico estrangeiro), e com a superação, dentro da dramaturgia, das barreiras superegóicas que lhe pudessem oferecer resistência, o desejo masculino encontra a sua plena manifestação através do elemento grotesco, resposta destas produções a um público que, já familiarizado com simulações simples de atos sexuais, tende a perder o interesse e a esvaziar-se. Neste sentido, obras pornográficas como “A Seita do Sexo Profano” (1985) e “Devassidão Total até o Último Orgasmo” (1986) aparecem como exemplos de universos diegéticos hermeneuticamente fechados e entrópicos em que a vazão do desejo heteressoxual masculino imbrica-se à violência, manifestada pelo horror gráfico, para reger as regras da narrativa e o comportamento dos personagens. Aos poucos, pautado cada vez mais pelo exagero, um regime de verossimilhança que compreendemos desde os anos 1970 como pornotópica – conceito que desenvolveremos a partir dos estudos de Paul Preciado – progride e se estabelece em sua forma mais franca e reconhecível.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. Moldura narrativa como (re)designação moral e política na pornografia comercial – um exercício de análise para o papel das feminilidades em Sexo dos Anormais. Anais do Congresso Fazendo Gênero 11 – ST Olhares Pornográficos, 2017;
    BERNARDET, Jean-Claude. Pornografia, o Sexo dos Outros. In: MANTEGA, Guido (org.), Sexo e Poder. São Paulo: Brasiliense, 1979;
    CÁNEPA, Laura Loguercio. Medo de que?: uma historia do horror nos filmes brasileiros. Tese de Doutorado, Unicamp, Campinas, SP, 2008;
    FREIRE, Rafael de Luna. A ideia de gênero no cinema brasileiro: a chanchada e a pornochanchada. In: X Estudos de cinema e audiovisual – Socine, v. 10. São Paulo: Socine, 2010;
    OLIVEIRA JÚNIOR, Luciano Carneiro de. Masculinidades Excessivas e Ambivalentes na Pornochanchada dos anos 1980. Dissertação de mestrado. Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2019;
    PRECIADO, Paul. Pornotopia: An essay on Playboy’s architecture and biopolitics. Princeton University Press, 2014.