Ficha do Proponente
Proponente
- Filipe Brito Gama (UESB)
Minicurrículo
- Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Mestre em Imagem e Som pela UFSCar e Doutor em Cinema e Audiovisual na UFF. É realizador audiovisual, especializado na produção de documentários, e produtor cultural, em ações voltadas à difusão audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- A turnê da Companhia do Cinema Rio Branco e a apresentação dos filmes “cantantes” pelo Brasil
Resumo
- No fim da década de 1900, os “filmes cantantes” se tornaram experiências cinematográficas de grande sucesso no Rio de Janeiro. No mesmo período, este modo de apresentação também circulou por outras cidades brasileiras, levando os “cantantes” para diferentes palcos e telas. A presente comunicação tem como objetivo apresentar e debater sobre a turnê nacional feita pela Companhia do Cinema Rio Branco no ano de 1911, destacando sua passagem por dois cinemas de Salvador.
Resumo expandido
- Nas últimas décadas, ampliaram-se os estudos interessados nos primeiros anos de atividade da exibição e da circulação de filmes no Brasil, no período entre os últimos anos do século XIX e início do XX. Esses trabalhos abordam temas como os exibidores itinerantes, a sedentarização das salas fixas e o crescimento do circuito exibidor em diferentes cidades ou regiões. O Rio de Janeiro, principal centro urbano do país no período, ganhou destaque na historiografia brasileira (Bernardet; 2008; e Souza, 2003). Essas pesquisas apontam, na segunda metade da década de 1900, para o fenômeno da abertura de várias salas fixas e a ampliação do número de filmes circulando no mercado, com a paulatina consolidação das práticas de distribuição, bem como a presença da produção nacional na então capital federal, filmes esses diretamente associados aos principais exibidores cariocas. Esses empresários buscavam superar a forte concorrência e atrair o público com novidades relacionadas as “fitas de assuntos nacionais”, exibindo tanto filmes “naturais” quanto os “posados”, com algumas obras de grande sucesso, como “Os estranguladores” e “Mala sinistra” (Freire, 2022).
No contexto da produção nacional, outra atração do concorrido mercado exibidor carioca foram os “filmes cantantes”. Diferente dos “falantes” (que eram tentativas de sincronização entre um projetor e um fonógrafo), os “cantantes” se tratavam de dublagens da projeção ao vivo, por cantores instalados no próprio cinema, constituindo-se um “modo de apresentação” específico, ou seja, um “artifício para diferenciação das exibições cinematográficas” (Freire, 2022, p. 113). Essa experiência não foi exclusiva deste período e nem do Brasil, mas ganhou destaque a partir do segundo semestre de 1908. Inicialmente, produziram-se obras curtas em cenários naturais, passando posteriormente para fitas mais longas e filmadas em teatros ou estúdios. Dos destaques, podemos sugerir filmes baseados em obras estrangeiras, como “Viúva Alegre” (1909), peça de Franz Lehár lançada em 1905 na Suíça; ou de produções tratando de assuntos nacionais, a exemplo da revista “Paz e Amor” (1910). Freire (2022) considera os “cantantes” como espetáculos “cinematográficos-teatrais” e que foram desenvolvidos para serem apresentados em uma sala de cinema, o que tornava um produto de difícil distribuição, já que a realização do espetáculo não dependia apenas do aluguel do filme.
Tanto “Viúva Alegre” quanto “Paz e Amor” estraram no Cinema Rio Branco com grande sucesso de público, posteriormente circulando por outros cinemas do Rio e de Niterói. Em 1911, pode-se sugerir o declínio dos “cantantes” no mercado carioca, e é nesse período que essa experiência circulou por outros estados. No segundo semestre de 1911, a “Companhia do Cinema Rio Branco” passou por algumas cidades, como: Campos dos Goytacazes em agosto; Vitória em agosto e setembro; Maceió em setembro; e Recife em outubro; e chegando em Salvador entre novembro e dezembro (Freire, 2022; Gama, 2024).
Nesses espetáculos, foram apresentadas obras que fizeram sucesso no Rio, como “Viúva Alegre”, “O Conde de Luxemburgo”, “Chantecler” e o aclamado “Paz e Amor”, entre outros. Em Salvador, a Companhia se exibiu em dois cinemas: primeiro, no popular Jandaia, atraindo grande público; na sequência, seguiu para o Central, cinema voltado para espectadores de melhor poder aquisitivo. Outros cinemas também buscaram trazer “novidades” para concorrer com os cantantes naquelas semanas, trazendo espetáculos de palco e aparelhos “falantes”, como no caso do São João.
A turnê da Companhia do Cinema Rio Branco, mesmo curta, aponta para uma experiência de itinerância em um período de estabilidade das salas fixas. Exatamente por se constituir como um “modo de apresentação” de difícil distribuição, se aproximou de uma experiência de circulação das companhias teatrais. Os espetáculos “cantantes” continuaram a ser apresentadas nos anos subsequentes, mostrando uma certa continuidade da prática.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. História clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia. 2.ed. São Paulo: Annablume, 2008.
BOCCANERA JÚNIOR, Silio. Os cinemas da Bahia, 1897-1918. 2. ed. Salvador: EDUFBA/EDUNEB, 2007.
COSTA, Fernando Morais da. O som no cinema brasileiro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
GAMA, Filipe Brito. Entre a capital e o interior: a circulação de filmes na Bahia até a década de 1910. Tese (Doutorado em Cinema e Audiovisual). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2024.
FREIRE, Rafael de Luna. O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil 1907-1915. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.
SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.