Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Fumeo Almeida (UFF)
Minicurrículo
- Guilherme Fumeo Almeida
Doutor pelo PPGCOM-UFRGS. Realiza pós-doutorado no PPGMC/UFF. Integra o LACCOPS – Laboratório de Comunicação Comunitária e Publicidade Social –, o EPOCHA – Grupo de Estudos em Economia Política da Comunicação e Hegemonia – e o ARTIS – Grupo de Pesquisa em Estética e Processos Audiovisuais. Bolsista FAPERJ. E-mail: almeidaguif@gmail.com.
Coautor
- Dandarah Filgueira da Costa (UFF)
Ficha do Trabalho
Título
- True Podcast, política e religião: desinformação e regulamentação no audiovisual brasileiro
Resumo
- O trabalho pretende analisar a relação entre o uso de táticas para a desinformação no audiovisual brasileiro, especialmente no True Podcast, e a persuasão política da Igreja Universal sobre seus fiéis. O marco teórico volta-se para táticas de desinformação e ausência de regulamentação nas redes sociais e no audiovisual e a abordagem midiática de pautas políticas por grupos religiosos, a partir especialmente de Wardle e Derakhshan (2017), Bahia, Butcher e Tinen (2022, 2023) e Gomes (2022).
Resumo expandido
- O True Podcast é um videocast sobre política produzido e transmitido semanalmente pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), no YouTube. O programa se propõe a debater temáticas atuais que relacionam política e sociedade, como eleições, reforma tributária, segurança das urnas eletrônicas, privatização, política e religião, casamento e aborto. O canal do YouTube onde o videocast é veiculado pertence ao bispo da Universal Alessandro Paschoall, que também é o principal apresentador, e conta com 219 mil inscritos. As transmissões do True Podcast apresentam entre 16 mil e 120 mil visualizações. O cenário tem uma estética que remete a um programa jornalístico profissional, contando com a presença do apresentador, da(o) co-apresentadora(o) e dos convidados, que geralmente são políticos — vereadores e deputados estaduais ou federais — e pastores e bispos da IURD, filiados ao partido Republicanos, além de outros profissionais, como advogados, empresários e jornalistas.
A exibição do videocast dialoga com um contexto nacional e global de grandes mudanças sociais, que também se relaciona à popularização da internet e das plataformas transnacionais, como o YouTube e os serviços de streaming, bem como ao processo de desinformação. Este processo não se resume apenas a fake news, sendo uma manipulação de informações falsas e verdadeiras com intenção de enganar. Além disso, há fenômenos como as teorias da conspiração (Lewandowsky e Cook, 2020) e as câmaras de eco (Wardle e Derakhshan, 2017) que retroalimentam o sistema de desordem informacional. A regulamentação das plataformas digitais também tem sido debatida em diferentes âmbitos da sociedade, em discussões motivadas principalmente pela situação de caos informacional — ou infodemia.
Essa rede de desinformação está presente em diversas plataformas, como o YouTube, onde se formam comunidades virtuais em que pessoas com determinado interesse têm a possibilidade, por meio de pesquisa orgânica, de compartilhamento por outros usuários ou do próprio algoritmo, que recomenda uma série de vídeos relacionados aos já assistidos anteriormente, de se aprofundar cada vez mais em conteúdos de sua preferência, além de se relacionar com outras pessoas que compartilham do mesmo interesse. Wardle e Derakhshan (2017) destacam a importância de se dar a devida atenção aos conteúdos audiovisuais, pois frequentemente as fake news mais analisadas são em formato textual, enquanto o audiovisual acaba sendo mais esteticamente persuasivo.
O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre o uso de táticas para a desinformação no audiovisual brasileiro contemporâneo, especialmente nos episódios do True Podcast, e a persuasão política da Igreja Universal em relação aos seus fiéis. O marco teórico é voltado para o diálogo entre táticas de desinformação e ausência de regulamentação nas redes sociais e no audiovisual e a abordagem midiática de pautas políticas por grupos religiosos, com base especialmente em Lewandowsky e Cook (2020), Wardle e Derakhshan (2017), Bahia, Butcher e Tinen (2022, 2023), Gomes (2022).
Em um primeiro momento, é possível apontar que a falta de regulamentação do ambiente digital faz com que a IURD invista na produção de um programa semanal transmitido por uma plataforma digital, apesar de todo o aparato midiático que tem a seu dispor – emissora de televisão, rádios e jornal impresso. A IURD tem ocupado com facilidade o espaço online das redes sociais e plataformas digitais, mantendo sua tendência histórica de utilizar a mídia para instrumentalizar a fé dos seus membros em defesa dos próprios interesses políticos e empresariais, e agora serve-se do contexto de caos informacional no ambiente online para persuadir os fiéis por meio da desinformação.
Bibliografia
- BAHIA, Lia; BUTCHER, Pedro; TINEN, Pedro. O setor audiovisual e os serviços de streaming. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 24, n. 3, p. 101-116, 2022.
BAHIA, Lia, BUTCHER, Pedro e TINEN, Pedro. Imaginar o audiovisual como política pública. Belo Horizonte, Universo Produção, 2023.
GOMES, Josir Cardoso. Financiamento de Campanha Política da Bancada Evangélica da Câmara Federal: uma abordagem com o uso de Mineração de Dados. Doutorado em Ciência da Informação no PPGCI IBICT/UFRJ– ECO. Rio de Janeiro, 2022.
LEWANDOWSKY, Stephan; COOK, John. O Manual das Teorias da Conspiração. 2020.
WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein. Information Disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Strasbourg: Council of Europe, 2017. Disponível em: https://rm.coe.int/information-disorder-toward-an-interdisciplinaryframework-for-researc/168076277c. Acesso em: 20 set 2024.