Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Henrique Fadim Alves (ESPM)

Minicurrículo

    Pedro Fadim é graduando do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo. Desde sempre gostou de estudar e descobrir mais sobre o cinema e sua história. Atualmente ele está terminando seu Projeto de Iniciação Científica com o tema “Amadurecimento e sensibilidade masculina em sociedade dos poetas mortos”. Em seu percurso ele já foi assistente de roteiro no curta Sete no set (2024), e diretor de fotografia no curta documentário Carta Aberta (2024).

Ficha do Trabalho

Título

    As consequências da masculinidade hegemônica violenta em O Aprendiz (2024)

Eixo Temático

    ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS

Resumo

    De acordo com os estudos acerca da construção social do ideal masculino de Judith Butler, João Silvério Trevisan e Raewyn Connel, e das teorias psicanalíticas de Carl G. Jung, esse estudo examinará esses conceitos a partir da obra cinematográfica O Aprendiz, lançada em 2024 e dirigida por Ali Abbasi. Este filme ilustra como a ideologia da masculinidade hegemônica pode influenciar negativamente a vida de toda uma sociedade a partir da relação do protagonista Donald Trump com seu mentor Roy Cohn.

Resumo expandido

    O conceito de masculinidade hegemônica foi formulado pela autora Raewyn Connel, e ele conceitua um conjunto de características posicionadas como ideais para um homem na sociedade, logo sendo mais um elemento do sistema ocidental dominante no mundo. Esse conjunto de características foram aglutinadas por J. J. Bola em seu livro Seja homem: a masculinidade desmascarada (2020) no qual cita alguns exemplos da reprodução desse discurso no cotidiano. O autor cita falas imperativas como: “seja homem!” ou “homem não chora” para ilustrar os possíveis malefícios que esse discurso produz na infância de um menino.
    A partir das teorias de Judith Butler sobre performatividade de gênero, as quais a autora defende que o gênero seria uma performance imposta socialmente e mutável de acordo com o contexto histórico-social do indivíduo, é possível entender como a compulsão social pela performance ideal de gênero pode culminar naquelas falas citadas por J. J. Bola, ou nos fenômenos que João Silvério Trevisan aponta em seu livro Seis balas em um buraco só (2020), os quais envolvem a repressão compulsória de sentimentos, o culto à virilidade, a valorização da racionalidade e a criação de ídolos falsos que sustentam o exemplo ideal do masculino.
    Em seu livro Trevisan faz um panorama histórico-social para desvendar a crise da masculinidade na atualidade. Para isso ele utiliza de algumas teorias psicanalíticas, que podem explicar as tendências masculinas à rejeição da feminilidade e tudo que ela representa. Assim, Trevisan cita certos pensamentos de Carl G. Jung, incluindo sua relevante teoria dos arquétipos que seriam imagens e símbolos suscitados a partir do conjunto de conhecimentos e experiências humanas.
    Dentre esses arquétipos há a anima e o animus, que significam a imagem feminina no homem e a imagem masculina na mulher, respectivamente. Assim, a anima representaria a parte mais sensível e emocional do homem, enquanto que o animus seria a fração mais racional e fria da mulher. Outro arquétipo citado por Jung em suas obras é o Puer Aeternus, ou seja, a criança eterna. Essa imagem simboliza os indivíduos que apresentam atitudes relacionadas à infância na vida adulta, ou seja, traços imaturos, dependência de terceiros, competitividade, e um constante senso de aventura.
    Segundo Jung, cada pessoa nasce como um sujeito indiferenciado, e com o decorrer da vida ele passa pelo processo de diferenciação, que será definido pelos complexos concebidos durante a vida do indivíduo.
    Diante do exposto, este trabalho irá aplicar esses conceitos na obra audiovisual O Aprendiz, de 2024, dirigida por Ali Abbasi. O filme conta a história de Donald Trump antes da fama, em sua ascensão social na cidade de Nova York nos anos 1970. Durante a jornada desse protagonista é possível notar muitas das características mencionadas anteriormente: influência do discurso que reforça a masculinidade hegemônica, culto à virilidade, má integração da anima, forte presença do arquétipo Puer Aeternus, entre outras.
    Além do protagonista o filme também apresenta seu mentor, o advogado Roy Cohn, que traz a essa história uma importante contradição, visto que ele ocupa uma influente posição social, ensinando a Trump tudo que ele precisa saber para chegar ao topo, assim reforçando muitos dos ideais masculinos, ao mesmo tempo que ele é um personagem homossexual em uma sociedade abertamente homofobica. Essa construção da personalidade de Cohn pode simbolizar que o discurso da masculinidade hegemônica é tão onipresente e influente que pode ser reproduzido até mesmo por aqueles que são vítimas dessa construção social, se isso o beneficiar de alguma forma.
    Dessa maneira o foco será expor, a partir da relação entre os personagens Trump e Cohn como o discurso agressivo da masculinidade hegemônica é uma ferramenta de poder, que contribui para a manutenção do status quo e beneficia aqueles que o adotam, mesmo ele tendo diversos malefícios para diversas pessoas, dificultando a vida comunitária

Bibliografia

    BOLA, J. J. Seja homem. Porto Alegre: Dublinense, 2020
    BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. São Paulo: Editora José Olympio, 2018.
    CONNELL, Robert W; MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista Estudos Feministas, v.21, n.01, p. 241-282, 2013 
    CONNEL, Robert W. Políticas da masculinidade. Educação & realidade, v. 20, n. 2, 1995.
    FRANZ, Marie-Louise Von. Puer aeternus: a luta do adulto contra o paraíso da infância. São Paulo: Edições Paulinas, 1981
    JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 1991.
    JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 2014.
    TREVISAN, João Silvério. Seis balas em um buraco só: a crise do masculino. Rio de Janeiro: Objetiva, 2021