Ficha do Proponente
Proponente
- Renata Masini Hein (UFF)
Minicurrículo
- Doutoranda, mestra (2025) e bacharela (2020) em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Membra do Grupo de Pesquisa Mulheridades Cinematográficas. Pesquisa sobre o Nuevo Cine Latinoamericano em uma perspectiva de gênero e feminista.
Ficha do Trabalho
Título
- Por um olhar feminista aos manifestos do Nuevo Cine Latinoamericano
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Resumo
- A comunicação pretende apresentar a hipótese da nossa tese de doutorado, em seu atual estado de desenvolvimento. Buscaremos defender que as mulheres cineastas, ainda que a princípio não tenham escrito manifestos dentro do contexto do Nuevo Cine Latinoamericano, certamente os filmaram.
Resumo expandido
- Para o crítico de cinema José Carlos Avellar (1995), o Nuevo Cine Latinoamericano (NCL) não deve ser compreendido apenas a partir de seus filmes, mas também a partir de sua produção textual, como roteiros não-filmados, entrevistas, críticas e manifestos. Para o autor, o movimento correspondeu ao esforço de toda uma geração de cineastas em entender a particularidade da realidade e da sociedade latino-americanas, o que se deu, de forma urgente e fragmentada, por meio de filmes e textos, em todo o subcontinente. Dessa forma, nesta comunicação, partiremos dessa formulação e buscaremos tensionar, a partir do gênero e de uma análise feminista, a produção textual do NCL, mais especificamente, os seus manifestos. Pretendemos apresentar, portanto, a hipótese da nossa tese de doutorado, em seu atual estado de desenvolvimento.
De acordo com a bibliografia recente e especializada, a história e o cânone do NCL foram construídos por seus próprios protagonistas e/ou por textos e estudos que reproduzem os seus discursos – como o do próprio José Carlos Avellar (1995), o qual assumimos com essa ressalva –, o que acabou por gerar o risco de uma certa “monumentalização” do movimento. Percebemos, contudo, que o atual esforço feminista e coletivo de reconhecer, diante do profundo apagamento histórico, a presença de mulheres no cinema latino-americano, em especial no NCL, vem ajudando não só a formular novas interpretações sobre esse importante movimento, mas também a questionar sob quais bases a sua história, o seu cânone e o seu discurso foram construídos. Acreditamos que a nossa mirada aos manifestos, a qual explicaremos a seguir, pode contribuir nesse sentido.
A professora Marina Tedesco (2020), ao explicitar e analisar os vários fatores objetivos e subjetivos que fizeram com que as mulheres fossem excluídas do cânone e da história do NCL, destacou o fato de que nenhuma delas se sentiu autorizada a escrever um manifesto, cuja publicação confere visibilidade aos seus autores. Uma vez que, como gênero do discurso, o manifesto implica o colocar-se no centro, no embate, e propor uma ruptura, buscando uma reestruturação no campo das ideias e/ou artístico, a autora percebeu que não existia uma real possibilidade de uma mulher, em um ambiente especialmente masculino, o qual, por si só, já exigia um enorme esforço de legitimidade e de rompimento com valores tão incorporados como a humildade, a obediência e o pertencimento à esfera doméstica, se posicionar de forma bélica e escrever um manifesto.
Entretanto, percebemos que, ainda que nenhuma mulher tenha escrito um manifesto – ou tido um de seus textos elevado à categoria de manifesto –, isso não significa que nenhuma delas tenha desenvolvido um pensamento próprio e crítico de cinema em diálogo com o ideário do NCL. Na verdade, acreditamos que cineastas como Sara Gómez (Cuba), Marta Rodríguez (Colômbia) e Beatriz Palacios (Bolívia) realizaram, cada uma à sua maneira, uma filmografia que propõe rupturas dentro dos termos do movimento. Nesta comunicação, exporemos a nossa hipótese de que, mesmo que a princípio as mulheres cineastas não tenham escrito manifestos, elas certamente os filmaram.
Bibliografia
- AVELLAR, José Carlos. A ponte clandestina: Birri, Glauber, Solanas, García Espinosa, Sanjinés, Alea – teorias de cinema na América Latina. Rio de Janeiro/São Paulo: Ed. 34/Edusp, 1995.
BORTULUCCE, V. B. O manifesto como poética da modernidade. Literatura e Sociedade, [S. l.], v. 20, n. 21, p. 5-17, 2015.
NÚÑEZ, Fabián. O que é Nuevo Cine Latinoamericano? O Cinema Moderno na América Latina segundo as revistas cinematográficas especializadas latino-americanas. 2009. 658 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal Fluminense, Niterói.
SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. p. 75-95.
TEDESCO, Marina Cavalcanti. Nuevo Cine Latinoamericano: uma análise do cânone a partir do gênero. Aletria: Revista de Estudos de Literatura, v.30, n.3, p.39-62, 2020.