Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Raabe Bastos (UFMG)

Minicurrículo

    Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM/UFMG), onde pesquisa tensionamentos de gênero e sexualidade, a partir das lesbianidades, na plataforma PornHub. Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integra o Grupo de Estudos em Lesbianidades (GeL/UFMG), o MediaAção (UFMG), o Comunicação, Imagem e Afeto (Cia/UFES) e o Escrita em Artes (Proex/UFES).

Coautor

    Gabriela Santos Alves (UFES)

Ficha do Trabalho

Título

    Mãe, claustros, bruxas: categorias em análise

Seminário

    Tenda Cuir

Resumo

    Faz-se uma análise fílmica do filme “Bruxas”, de Sankey, que relaciona experiências de mulheres com depressão pós-parto e imagens cinematográficas de bruxas. Objetiva-se levar a análise da obra ao debate atual sobre maternidade. O quadro teórico ancora-se em autorias da teoria feministas contemporâneas, em especial Lagarde, sobre claustros femininos. A metodologia da análise fílmica propõem-se a partir da recriação da narrativa, privilegiando frames aliados às interlocuções com a temática posta.

Resumo expandido

    “Bruxas” (2024), de Elizabeth Sankey, é um documentário que denuncia a brutalidade com que corpos femininos são tratados, fazendo uma amarra entre saúde mental no pós-parto, relatos de pessoas que sofreram com depressão pós-parto e representações de bruxas no audiovisual. O filme mostra como possibilidades de existência foram retirado de mulheres quando coladas como bruxas, tendo esse chamamento uma ligação direta com histerias e psicoses. Ao usar imagens do cinema contemporâneo, a diretora se debruça sobre representações de mulheres mães. Posta dessa maneira, é uma discussão muito recente, tendo ainda outro tensionamento: o filme é realizado com mulheres de Londres, de modo que podemos pensar em situações mais agravadas quando associadas as questões ao cenário brasileiro, por conta dos indicadores sócio-econômicos de mulheres brasileiras, principalmente de pretas e pardas.
    A palavra “bruxa” não tem uma origem exata, embora por algum tempo convencionou-se sua origem latim, estudos recentes demonstram maior possibilidade de ter surgido a partir de dialetos falados na Península Ibérica antes da chegada dos romanos, hipótese surgida quando há a percepção de que o significante só aparece em idiomas ibéricos (em português bruxa, em espanhol bruja e em catalão bruixa). Caso tivesse raízes somente no latim, o francês, que usa sorcière, e o italiano, que utiliza strega, também acompanhariam tal lógica de escrita (Da cunha, 2019). Embora de origem incerta, seu significado é exato: uma pessoa capaz de gerar. São opressões que perpassam a vida de quem tem um útero, independente de ter gerado, de desejar gerar ou não. É uma sentença ao nascimento. Um aviso. Como posto no filme, “ser boa ou má não é algo que as mulheres possam escolher”.
    Uma das possibilidades de análise da categoria “mãe” é sua associação à ideia de bruxa, em demonstrações de que as experiências das mulheres no puerpério são arrastadas à desumanização, principalmente as que sofrem com psicoses. Uma mãe é punida como se engravidar fosse um castigo pelo prazer, e um prazer imaginado, julgado, suposto. Ela não pode ter sexualidade, sequer imaginada. No filme, documentos da queima às bruxas são apresentados, neles, temos os relatos das que foram acusadas de bruxaria, tendo com frequência a fala de que conversaram com demônios. Analisados por psiquiatras, esses testemunhos cabem na depressão perinatal quando avançada à psicose. São símbolos e signos da religião, do que pune a mulher.
    Juntou ao documentário, propomos a reflexão da categoria mãe a partir do conceito de claustro, eles constituem uma estruturação social, são desempenhados com o intuito de colocar no feminino todo “o caos, o transtorno da ordem cósmica, social e cultural” (Lagarde, 2016, p. 66). É uma forma de assujeitamento dos corpos, acontecendo o “esgotamento da via feminina de viver a vida” (Ibidem). Tal enredamento anula as mulheres, internalizando normas de maneira que haja contenção de vivências. A criação de ambiente favorável à desqualificação da mulher acontece através da repetição, fazendo com que o cultural passe a ser absoluto como natural, portanto, há uma distorção de sua a imagem (Ibidem). As operações para efetuar alegorias fabricam uma posição de representação do feminino, fazendo com que haja um espetáculo nos corpos em seus vetos de desejos, dores e deslocamentos. São domínios de aprisionamento, gerando invalidação pessoal e distorções, em impedimentos e ausências que processam o enclausuramento feminino (Ibidem).
    Assim, partimos do documentário “Bruxas” para pensar a categoria mãe, analisando como esse significante age na vida de quem o assume ou quem o rejeita, com o sem filhos. E propomos uma amarra entre representações audiovisuais, demonstrando como corpos femininos são postos nessa marca, ainda que não a carreguem de fato, numa espécie de vir a ser.

Bibliografia

    DA CUNHA, Antonio Geraldo. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Lexikon Editora, 2019.

    LAGARDE, Marcela et al. Los cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. Cidade do México: Siglo XXI Editores México, 2016.

    SANKEY, Elizabeth. (Director). Witches [Film]. Ardimages UK, 2024.