Ficha do Proponente
Proponente
- Ellen Alves Lima (UERJ)
Minicurrículo
- Doutoranda no PPGCOM UERJ. Membra do grupo de pesquisa Popmid, laboratório Labim e laboratório Lunar. Realiza pesquisas sobre representatividade em filmes e séries de super-heróis. Email: ellen2000.a.l@gmail.com
Ficha do Trabalho
Título
- I’m the Bad Guy: Uma análise sobre os vilões presentes nos blockbusters de Pantera Negra
Resumo
- O presente trabalho busca problematizar a construção dos vilões, Killmonger e Namor, nos filmes Pantera Negra (2018) e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022). Apesar de essas obras romperem com o imaginário hegemônico de super-heróis, precisamos avaliar se os vilões também realizam esse movimento. Adotamos uma metodologia de caráter mais teórico, com conceitos de Kilomba (2019), Mbembe (2018) e Krenak (2020) para analisar os arcos narrativos e perfis de personagem desses antagonistas.
Resumo expandido
- Pantera Negra (2018) e Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022) foram sucessos de bilheteria, com um arrecadamento de US$ 1,3 bilhão e US$ 859 milhões, essas obras marcaram o imaginário da cultura pop. Elas apresentaram reis e rainhas de um país africano fictício (Wakanda) e que ainda são super-heróis. Apesar de serem produções fílmicas que introduzem super-heróis negros em meio a diversos filmes com protagonistas masculinos, brancos e héteros, precisamos levantar alguns questionamentos. Os produtores da Marvel Studios são: Victoria Alonso, Jamie Cristopher, Louis D’Esposito, Kevin Feige, David J. Grant, Matthew Jenkins, Mary Livanos e Jonathan Scwartz. Nessa lista notamos uma equipe majoritariamente masculina e branca. Assim, percebemos a quem os lucros são direcionados.
Quando assistimos aos filmes selecionados pela pesquisa notamos dois embates, primeiro o de T’Challa e Killmonger, os primos que cresceram em lares diferentes. Enquanto T’Challa cresceu como o príncipe de Wakanda, que nunca sofreu o impacto da colonização, Killmonger cresceu no Brooklyn, bairro periférico de Nova York. Então, o primo renegado busca vingança contra T’Challa, ao passo que tenta enviar armas para grupos de pessoas negras que sofrem com o impacto da colonização ao redor do mundo. Kilomba (2019) destaca que o racismo não é algo do passado e que permanece presente na sociedade atual de diversas maneiras, assim, Killmonger nos apresenta alguns exemplos que também comprovam essa análise.
O conflito seguinte seria entre Shuri e Namor. Assim como o seu irmão mais velho, a princesa de Wakanda sabe sobre a colonização, porém nunca sentiu o seu impacto. O filme inicia-se com a perda de T’Challa e em meio ao luto surge Namor, um representante de uma sociedade maia, biologicamente modificada, que vive submersa no oceano. Namor estava vivo quando colonizadores espanhóis chegaram em suas terras, por essa razão, odeia os descendentes dos colonizadores. Sendo assim, o vilão deseja receber o apoio de Wakanda para derrotar os países que buscam extrair recursos naturais de seu refúgio submerso. Shuri nega e assim acompanhamos seu embate.
Ambos, Killmonger e Namor, tiveram contato com os impactos da colonização, Krenak (2020) aborda a colonização como o fim do mundo para os grupos que sofreram com o contato mais violento. Mbembe (2018) observa essa violência com mais detalhes e nos apresenta o conceito de necropolítica. O autor nos introduz que grupos contra-hegemônicos, localizados às margens da sociedade, são marcados como o inimigo.
Ao nos conectar com esses conceitos notamos que Killmonger e Namor apresentam o sentimento de raiva contra questões que são presentes na nossa sociedade. Embora os contra-ataques desses personagens sejam violentos encaixando-se em categorias que são consideradas criminosas, ainda não se comparam às descrições de opressões sociais apresentadas por Kilomba (2019) ou Krenak (2020) ou Mbembe (2018).
Por essa razão, o presente trabalho busca questionar as decisões criativas que levaram a esses personagens se tornarem os vilões. Uma vez que, as duas obras foram dirigidas e até parcialmente roteirizadas por Ryan Cogler, um homem negro. Para bell hooks (2023), quando observou filmes lançados na década de 1990, mesmo que o idealizador da obra audiovisual seja contra-hegemônico ainda assim ele pode produzir um filme com discurso hegemônico.
Não podemos simplificar esse debate, é preciso levantar as características por detrás das câmeras e mais essencialmente analisarmos os arcos narrativos, perfis de personagem e figurinos dos vilões. Em outra obra literária, hooks (2020) destaca a importância de desenvolvermos pensamento crítico para com o bombardeio de imagens e narrativas hegemônicas que temos acesso ao longo do nosso cotidiano. É preciso analisar esses personagens que foram considerados propícios para carregarem a nomenclatura de antagonistas dos super-heróis que buscaram romper com o imaginário hegemônico de heroísmo.
Bibliografia
- HOOKS, bell. Cinema Vivido: Raça, classe e sexo nas telas. São Paulo: Elefante, 2023.
HOOKS, bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. São Paulo: Elefante,
2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2020.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1, 2018.