Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Desider Fischer (UFF)

Minicurrículo

    Professor adjunto no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF). Desenvolve pesquisas e criações interdisciplinares entre as artes cênicas, a performance e o audiovisual. Seus projetos transitam entre direção de atores no cinema, a apropriação de poéticas audiovisuais e novas tecnologias para a cena e o agenciamento entre imagens, objetos, sons, corpos, voz e textos para composição de performances polifônicas.

Ficha do Trabalho

Título

    Reflexões sobre a hegemonia das escolas estadunidenses de atuação

Resumo

    Em 1923, o Teatro de Arte de Moscou, dirigido por Stanislavski, realizou uma turnê nos EUA que influenciou teatrólogos como Lee Strasberg, Stella Adler e Sanford Meisner. Esse evento representa uma mudança significativa, simbólica e política nas escolas de formação de atores até os dias atuais. O texto pretende refletir sobre a apropriação dessas escolas em relação ao sistema de Stanislavski e questionar a hegemonia desse “método” na atuação, propondo também uma análise do seu impacto.

Resumo expandido

    Em 1923, o Teatro de Arte de Moscou, sob a direção de Constantin Stanislavski, realizou uma turnê nos Estados Unidos. Este evento representou um momento significativo na difusão e apropriação do sistema desenvolvido por Stanislavski, que consistiu em um estudo profundo e abrangente sobre a atuação. Durante essa viagem, figuras influentes como Lee Strasberg, Stella Adler e Sanford Meisner foram significativamente impactadas pelos ensinamentos de Stanislavski, levando-os a fundar suas próprias escolas de formação de atores, fundamentadas essencialmente em suas contribuições. Richard Boleslavski, que acompanhava Stanislavski na turnê, também desempenhou um papel importante ao permanecer nos Estados Unidos e, em parceria com Maria Ouspenskaya, estabelecer a renomada American Laboratory Theatre, que teve entre seus alunos Strasberg e Adler.

    Atualmente, a maioria das escolas de formação de atores nos EUA, especialmente aquelas voltadas para o cinema, ainda se fundamenta nas pesquisas de Stanislavski, interpretadas principalmente através da perspectiva de Strasberg, Adler e Meisner. No Brasil, apesar da maior diversidade nas abordagens das escolas de formação de atores, é comum que, especialmente nas instituições voltadas ao cinema, as influências de Stanislavski e de seus discípulos se mantenham como referências centrais.

    Nesta proposta, desejo refletir sobre dois aspectos relevantes relacionados a essa turnê do Teatro de Arte de Moscou. O primeiro aspecto é a limitação observada na abordagem dos teatrólogos estadunidenses, que se restringiram a apenas uma fração da complexa pesquisa de Stanislavski. Essa limitação resultou em um tipo de atuação que prioriza uma formação pautada em interpretações realistas e psicológicas, conforme expresso no célebre “método” promovido por Strasberg na Actors Studio. Nesse contexto, as escolas pouco valorizaram as pesquisas mais avançadas de Stanislavski, como o método de análise ativa e os princípios da ação física, que continuaram a ser exploradas, direta ou indiretamente, por Vsevolod Meyerhold e Jerzy Grotowski. Para esta reflexão, os estudos de Elena Vássina (2016) e Béatrice Picon-Vallin (2013) serão essenciais.

    O segundo aspecto a ser considerado é a hegemonia dessa formação baseada no “método”, que tende a uniformizar a atuação dos atores em conformidade com um determinado registro de atuação. A partir dessas reflexões, proponho questionar se essa hegemonia, herdada principalmente das escolas estadunidenses, não deveria ser confrontada com outras abordagens de atuação voltadas para o cinema. A confrontação dessa hegemonia no contexto brasileiro poderia ser entendida como uma forma de descolonização dos corpos dos atores, permitindo o surgimento de novos registros de atuação? Até que ponto essa hegemonia está presente nas produções cinematográficas brasileiras? Quais filmes brasileiros apresentam registros de atuação que se distanciam dessa herança? Para esse segundo aspecto da reflexão, pretendo trazer autores que discutem outras formas e registros de atuação como Elena del Rio (2008) e Gilles Mouellic (2013).

Bibliografia

    D’AGOSTINI, Nair. Stanislavski e o método de análise ativa: a criação do diretor e do ator. São Paulo: Perspectiva, 2020.

    DEL RIO, Elena. Deleuze and the cinemas of performance. Edinburgh University Press, 2008.

    GROTOWSKI, Jerzy. Em busca do teatro pobre.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023.

    MOUELLIC, Gilles. Improvising Cinema. Amsterdam University Press, 2013.

    PICCON-VALLIN, Béatrice. Meyerhold. São Paulo: Perspectiva, 2013.

    VASSINA, Elena; LABAKI, Aimar. Stanislavski: vida, obra e sistema. Rio de Janeiro: Ed Funarte, 2016.